DISPUTA PELA CASA BRANCA

Eleições nos EUA: que desafios esperam o próximo presidente?

Se eleitos, Biden e Trump poderão ser cobrados de forma diferente a respeito de algumas questões, mas problemas como a tensão racial e a relação com a China não poderão ser ignorados por quem quer que seja o vencedor

Independentemente de quem vença as eleições presidenciais dos Estados Unidos, nesta terça-feira (2/11), alguns desafios precisarão ser enfrentados, inevitavelmente, pelo próximo presidente norte-americano. Embora Donald Trump e Joe Biden tenham preocupações diferentes, tanto o republicano quanto o democrata deverão dar respostas à questão racial, à divisão extremada da sociedade e à tensa relação do país com a China.

Além da pandemia de covid-19, que impactou o mundo todo, os americanos tiveram de lidar em 2020 com o aumento da tensão racial, que motivou diversos protestos por todo o país a partir da morte de George Floyd, um homem negro, por policiais brancos. Uma resposta à questão é esperada dos dois candidatos, embora a cobrança seja ainda maior para Biden, pois, entre os democratas, 90% apoiam o movimento Vidas Negras Importam.

"Ele tem de conter a violência policial, oferecer justiça social e reconhecer os erros do passado", destaca Neusa Maria Pereira Bojikian, pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos Politicos sobre os EUA (INCT-INEU). Trump, no entanto, não poderá ignorar o problema, caso seja reeleito. "A tensão que se materializou nas ruas em milhares de incidentes ao longo deste ano tende a crescer", acredita Carlos Eduardo Lins, professor de relações internacionais do Insper.

Sociedade partida e China

Outra divisão que certamente ocupará o eleito será a política. As pesquisas apontam um resultado apertado, que deve resultar em um governo com apoio, no máximo, de uma curta minoria. Para Biden, o desafio será manter um discurso conciliador mesmo com o radicalismo trumpista disseminado na sociedade. Já Trump, que parece ter mais facilidade em governar em um cenário de confronto que os democratas, poderá ver a resistência ao seu governo aumentar, inclusive no Congresso. "É muito provável que a Câmara prossiga sob o controle, talvez ampliado, da oposição e é possível que o Senado passe a ter maioria democrata. Isso dificultará o avanço de qualquer projeto do presidente que não seja de consenso", prevê Carlos Eduardo Lins, professor de relações internacionais do Insper.

Por fim, a disputa com a China certamente será outro ponto que tirará o sono do próximo presidente, seja ele Biden ou Trump. Durante a administração atual, a tensão entre as duas nações chegou à beira de um guerra fiscal. "Trump, se reeleito, terá o desafio de fechar um acordo comercial com a China, retomar o parque industrial americano, reduzir os gastos militares dos EUA no mundo e, basicamente, tentar a continuidade da sua agenda nacionalista econômica e isolacioanista em política internacional”, descreve Pedro Feliú Ribeiro, professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Já Biden deve, porvavelmente, mudar a abordagem em relação à China e volte a ter uma postura de maior cooperação internacional. "A preocupação com a China é tanto democrata quanto republicana. Os democratas, sob a liderança de Obama, costuraram o TPP (Parceria Transpacífica, acordo de livre comércio) como forma de balancear o avanço industrial e comercial chinês. Uma estratégia multilateral. Trump preferiu a bilateral. Esse vai ser um desafio para o democrata, retomar o TPP", opina Feliú.

Enfoques diferentes

Apesar de desafios em comum, alguns problemas devem preocupar mais um ou outro dos candidatos. A pandemia de coronavírus, embora seja um problema global, deve ocupar mais os esforços de Biden, que precisará mostrar, logo, ser capaz de dar uma resposta melhor à covid-19 do que Trump. “Responder de forma mais efetiva à pandemia de covid-19 será seu primeiro grande desafio. Muito difícil, embora possa ter a sorte de entrar com a curva diminuindo", diz Giorgio Romano Schutte, pesquisador do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb).

Biden terá ainda de lidar com uma Suprema Corte mais conservadora. Com a morte da juíza Ruth Bader Ginsburg, uma das principais vozes progressistas do tribunal, a vaga foi preenchida por Amy Coney Barrett, que se soma a outros cinco juízes conservadores. O tribunal tem, agora, apenas três liberais. Devido à isso, pautas ligadas a temáticas como direitos LGBTQ+, meio ambiente e direitos das mulheres, defendidas por Biden, podem ser mais difíceis de passar.

Já Trump deverá ser mais cobrado que Biden pelo desemprego. Para a professora Bojikian, caso reeleito, o presidente terá que assumir as responsabilidades pela forma como atuou na pandemia. "Ele precisa ter um plano para combater o número de empregos perdidos. Eles estavam em pleno emprego, mas a crise chegou e eles estão com a taxa de desemprego em 7,9%, extremamente alta. O governo precisa levar esse índice para perto de 5%", afirma.

O professor Giorgio Romano aponta outro desafio que caberá a Trump, mais especificamente: lidar com o próprio ego. "Se ele conseguir a reeleição e a maioria nas duas casas, o único desafio será seu próprio ego, lembrando que ele tem uma maioria no Supremo e uma base mobilizada. Caso contrário, seu principal desafio será negociar com o Poder Legislativo”, opina.

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