O presidente do Peru, Manuel Merino, renunciou, neste domingo (15/11), cinco dias após tomar posse, o que levou a comemorações nas ruas peruanas após jornadas de protestos em massa duramente reprimidos pela polícia, nas quais houve dois mortos e uma centena de feridos.
“Quero tornar público para todo país que apresento minha renúncia”, declarou Merino em uma mensagem ao país transmitida pela televisão, o que deflagrou uma celebração imediata nas ruas de Lima, um dia depois da violenta repressão a manifestações.
Merino havia substituído, na terça-feira passada, o popular presidente Martín Vizcarra, um dia depois que ele foi destituído pelo Congresso por suposto caso de corrupção. O Parlamento deve agora nomear um novo presidente para tentar pacificar o país.
O escolhido será o terceiro presidente em menos de uma semana, em um país duramente atingido pela pandemia do coronavírus e pela recessão econômica, que mergulhou em uma crise política quando o Parlamento removeu o presidente popular Martín Vizcarra em um julgamento a jato na segunda-feira.
Merino, um centro-direitista de 59 anos, disse que, para não haver “vazio de poder”, os 18 ministros escolhidos por ele, na quinta-feira, serão mantidos nos cargos, ainda que praticamente todos tenham renunciado após a repressão aos manifestantes no sábado.
O fugaz governante anunciou a renúncia pouco depois do meio-dia (14h em Brasília). Assim que Merino fez o comunicado, as ruas de Lima encheram-se de manifestantes que faziam panelaços e gritavam em meio a uma comemoração. “Conseguimos. Percebem o que somos capazes de fazer?”, escreveu nas redes sociais Renato Tapia, jogador peruano de futebol.
O ex-presidente Vizcarra comemorou a renúncia do presidente e pediu para que o Tribunal Constitucional se pronuncie o mais rapidamente possível sobre a destituição ocorrida em 9 de novembro. “Um pequeno ditador saiu do Palácio. Merino afastou-se. Ele estava quebrando nossa democracia”, disse Vizcarra à imprensa.
Após a renúncia de Merino, o Peru ficaria sem presidente por algumas horas, até que o Congresso designasse um novo entre os membros, possivelmente algum dos 19 parlamentares que não votaram a favor do impeachment de Vizcarra. Isso ocorreria em uma sessão convocada para as 16h locais (18h em Brasília). Ao menos durante seis horas, o Peru não teria presidente. Até o fechamento desta edição, no entanto, não havia informações sobre o mandatário substituto.
Direitos humanos
As manifestações do sábado deixaram dois mortos e 94 feridos, segundo autoridades do Ministério da Saúde. Porém, a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos afirmou que, ao todo, foram 112 feridos, acrescentando que também há 41 manifestantes “desaparecidos” após as passeatas em Lima e outras cidades do país.
A repressão a esses protestos custou o pouco apoio político que tinha Merino. O presidente do Congresso, Luis Valdez, exigiu a “renúncia imediata”, somando-se ao pedido dos milhares de manifestantes desde terça-feira. “O Congresso deve pedir desculpas ao país por uma decisão tão irresponsável (a destituição de Vizcarra)”, afirmou a parlamentar de esquerda Mirtha Vásquez, da Frente Ampla, uma dos 19 parlamentares que votaram contra a saída de Vizcarra.
Merino, um político provinciano quase desconhecido dos peruanos até assumir o cargo, foi criticado por figuras do próprio partido — o Ação Popular, de centro-direita — como o prefeito de Lima, Jorge Muñoz.
Os mortos nas manifestações de sábado foram identificados como Jack Bryan Pintado Sánchez, de 22 anos, e Inti Sotelo Camargo, de 24 anos, segundo a polícia. Fotos de ambos circulam nas redes sociais com a legenda “Heróis do Bicentenário da Independência” (que o Peru completará em 28 de julho de 2021).
A ação policial tem sido duramente criticada pela ONU e por organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, desde que os protestos começaram na terça-feira, dia em que Merino tomou posse.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CICH), entidade da Organização dos Estados Americanos, lamentou a morte dos dois manifestantes “durante ações de repressão estatal a protestos em massa” e exigiu “uma investigação imediata dos fatos e estabelecimento de responsabilidades”.
“Não tenho responsabilidade pela violência”, declarou, ontem, o número dois do governo, o primeiro-ministro Ántero Flores-Aráoz.
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