Um ano após a queda do presidente esquerdista Evo Morales, seu afilhado político Luis Arce tomou posse, neste domingo (8), como o novo presidente da Bolívia com o desafio de fechar as feridas políticas e superar a crise econômica.
Arce sucedeu a presidente interina de direita Jeanine Áñez por um mandato de cinco anos, o que marcou a volta ao poder do Movimento pelo Socialismo (MAS), liderado por Morales, que retornará ao país na segunda-feira de seu exílio na Argentina.
“Estamos iniciando uma nova etapa em nossa história e queremos fazê-lo com um governo que seja para todos, sem discriminação de qualquer espécie. Nosso governo buscará reconstruir nossa pátria em unidade para viver em paz”, declarou Arce em seu discurso após ser empossado por seu vice-presidente, David Choquehuanca.
“Nos comprometemos a restaurar o que estava errado e aprofundar o que estava certo”, acrescentou.
O rei Felipe VI da Espanha e os presidentes da Argentina,Antonio Fernández, Colômbia,Iván Duque, e Paraguai, , Mario Abdo Benítez, além do ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, entre outros, assistiram a posse de Arce, economista de 57 anos com mestrado na Grã-Bretanha e com perfil de tecnocrata.
A cerimônia foi realizada pela manhã no Congresso boliviano. Após prestar juramento, o novo presidente caminharia até o Palácio Quemado, sede do governo.
A programação da posse também incluia que Arce presidiria um desfile de destacamentos do Exército, Força Aérea, Marinha e Polícia, para em seguida, receber os cumprimentos dos chefes de Estado visitantes e demais enviados oficiais.
"Melhores relações com os EUA"
Antes de assumir o cargo, Arce expressou sua confiança de que as relações com os Estados Unidos serão fortalecidas após a eleição de Joe Biden. Ambos os países não têm embaixadores desde 2008.
"Com um novo governo, prevemos relações melhores que se traduzirão no bem-estar de nossos povos", tuitou Arce.
Arce venceu de forma esmagadora as eleições de 18 de outubro, que substituíram as eleições de 2019, que marcaram a queda de Morales após 14 anos no poder.
Durante a campanha, Arce ergueu a bandeira da bonança econômica do governo Morales (2006-2019), de quem foi ministro da Fazenda -época de alto crescimento do PIB e participação ativa do Estado na economia, além de redução da pobreza.
No entanto, o arquiteto deste "milagre" econômico tem vários desafios pela frente em um país polarizado e em recessão. Também deve provar que é ele quem controla o país e não seu mentor,segundo analistas.
Um grande desafio para Arce "e consolidar sua própria legitimidade diante de uma figura forte e expressiva na mídia como Evo Morales", disse a cientista política Ximena Costa à AFP.
“Há uma parte da sociedade que não quer a volta de Evo Morales e cabe ao próximo presidente fazer um governo diferente”, disse à AFP o analista político Carlos Cordero.
Morales, de 61 anos, retornará à Bolívia na segunda-feira, um ano depois de renunciar após perder o apoio das Forças Armadas e da polícia, em meio a protestos e denúncias de fraude eleitoral, quando buscava um polêmico quarto mandato consecutivo.
O ex-presidente entrará em uma caravana pela fronteira com a Argentina e fará uma viagem de 1.100 quilômetros até o Trópico de Cochabamba, onde emergiu como o líder dos cocaleiros, em uma jornada que ameaça chamar a atenção nacional e internacional e ofuscar a agenda da Arce.
Medidas de ajuste
Outro grande desafio para o novo presidente é a recuperação da economia boliviana, duramente atingida pela pandemia do coronavírus.
Em junho passado, a economia apresentava uma taxa de crescimento de -11%, um déficit fiscal de 9%, altos níveis de endividamento, redução da arrecadação tributária e perda de reservas.
Nesse contexto adverso, Arce terá que demonstrar sua capacidade de fazer milagres novamente, mas será difícil para ele sem apoio político além do MAS.
Os analistas acreditam que, como prova de boa vontade, o partido deveria anular a decisão do Parlamento cessante que modificou os regulamentos internos reduzindo o quorum para aprovar certas disposições.
Esta modificação de última hora visa garantir que o MAS continue controlando o Congresso boliviano, apesar de ter perdido sua maioria de dois terços.
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