Israel perde aliado Trump e palestinos ganham esperança com Biden

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chamou Donald Trump de "o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca"

Agência France-Presse
postado em 07/11/2020 19:07 / atualizado em 07/11/2020 19:07
 (crédito: Mandel Ngan/AFP)
(crédito: Mandel Ngan/AFP)

O democrata americano Joe Biden pode não despertar muito entusiasmo em Israel, que perderá um aliado importante, Donald Trump, mas reaviva uma fraca esperança entre os palestinos, que romperam relações com o presidente republicano.

Com diplomacia agressiva, Trump reconheceu Jerusalém como a capital do Estado hebreu, apoiou a colonização na Cisjordânia ocupada, abençoou a anexação do Golã e alcançou a normalização das relações entre Israel e alguns países árabes.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chamou Donald Trump de "o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca" e esperava, como a maioria de seus concidadãos, sua vitória.

De acordo com duas pesquisas recentes, 63% dos israelenses preferem Trump a Biden (17-18%), enquanto 20% se sentem indecisos. No entanto, Joe Biden é um velho conhecido de Israel, um país que visitou pela primeira vez em 1973. Em 2015, ele declarou que os Estados Unidos devem honrar "sua promessa sagrada de proteger o lar judaico de origem".

Apesar dessas declarações, muitos em Israel não confiam em Biden.

As autoridades israelenses temem o surgimento de uma nova geração atrás dele, considerada menos favorável, se não diretamente hostil ao Estado hebreu, nas fileiras do Partido Democrata.

E Biden também fez parte do governo que chegou a um acordo histórico com o Irã para colocar seu programa nuclear sob controle.

“Há uma influência crescente do ramo progressista radical dentro do Partido Democrata. A maioria deles é anti-Israel, mas não sabemos que influência terão (...) no próximo governo”, estima Eytan Gilboa, professor de Ciência Política no Universidade israelense Bar-Ilan.

O dominó iraniano

As relações entre democratas e Israel pioraram sob a presidência de Barack Obama. O acordo com o Irã, assinado em conjunto com as grandes potências, irritou profundamente a classe política israelense, que se vingou quando Trump rompeu unilateralmente o tratado e aprovou uma série de duras sanções contra Teerã.

Será que Joe Biden tentará colocar essa situação nos trilhos? "A probabilidade é muito grande", disse à AFP Michael Oren, ex-embaixador israelense em Washington.

Trump também conseguiu que três países árabes, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão, normalizassem suas relações com Israel.

“Acho que os iranianos vão dizer o seguinte aos Estados Unidos: eles não podem negociar conosco e construir uma coalizão contra nós”, prevê Gilboa.

"A grande questão é até que ponto o governo dos Estados Unidos se comprometerá com esses acordos (de normalização)", disse Michael Oren, que são descritos como "traição" pelos palestinos.

"Vitória" palestina

Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, os líderes palestinos ficaram ansiosos nos últimos dias sobre o resultado da corrida presidencial dos EUA.

Trump conseguiu que os palestinos rompessem completamente suas relações com Washington com medidas polêmicas: fechou seu consulado em Jerusalém Oriental, a parte da cidade que os palestinos reivindicam, cortou sua ajuda aos palestinos e encerrou sua contribuição para a agência da ONU para refugiados palestinos (Unrwa).

Trump também apresentou seu plano para o Oriente Médio em janeiro passado, sem antes consultar os palestinos. Com Biden, os Estados Unidos tentarão falar "muito mais" com os palestinos, estima Sarah Feuer, analista do Instituto de Washington para política do Oriente Próximo.

Além de retomar com a ajuda direta, Washington pode reabrir o consulado em Jerusalém Oriental e até mesmo o escritório da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em Washington. Mas poucos analistas veem Joe Biden forçando uma nova rodada de negociações de paz entre israelenses e palestinos.

Do lado palestino, algumas vozes já se ergueram com satisfação: "Não havia nada pior do que a era Trump! Seu fim já é uma vitória em si", disse Nabil Shaath, assessor do presidente palestino Mahmoud Abas.

O chefe do movimento islâmico palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, convidou Biden a "corrigir" as "políticas injustas" dos Estados Unidos, começando com o "cancelamento" do "plano Trump" para o Oriente Médio.

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