A terceira tentativa de acabar com os combates entre as tropas azerbaijanas e as forças separatistas armênias em Nagorno Karabakh fracassou nesta segunda-feira (26/10), quando as duas partes trocaram acusações de "violação flagrante" do cessar-fogo negociado em Washington.
A "trégua humanitária" nos combates, iniciados no território montanhoso do Cáucaso em 27 de setembro, deveria começar às 8h locais (1h, no horário de Brasília).
Nesta segunda-feira, porém, o Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão acusou as forças armênias de terem bombardeado a cidade de Terter e as localidades próximas, assim como posições do Exército de Baku, ao mesmo tempo que afirmou respeitar o cessar-fogo de seu lado.
"Esta manhã, outro cessar-fogo entrou em vigor, e a Armênia o violou novamente, abrindo fogo sobre a região de Terter", disse o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev.
Em discurso à nação, Aliyev afirmou ter ordenado ao Exército que demonstre "moderação" e voltou a exigir a retirada das tropas armênias.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pachinyan, disse no Facebook que seu país "continua respeitando estritamente o cessar-fogo".
O Ministério da Defesa de Nagorno Karabakh denunciou disparos de artilharia do lado inimigo contra suas posições em diversos pontos.
Também afirmou que as forças sob seu controle "respeitam estritamente os acordos concluídos e que as acusações do inimigo não têm nada a ver com a realidade".
As duas partes denunciaram uma "violação flagrante" da trégua por parte do inimigo.
O acordo foi negociado durante o fim de semana em Washington, em plena campanha do presidente americano, Donald Trump, para sua reeleição. Trump prometeu solucionar o conflito, afirmando que seria "algo fácil".
Duas tréguas já fracassaram antes: a primeira, anunciada em Moscou, em 10 de outubro; e a segunda, em Paris, no dia 17.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, lamentou que o conflito continue em uma "fase aguda" e acrescentou que Moscou está preparada para "saudar qualquer medida que ajude a deter a guerra".
Bloqueio diplomático
Azerbaijão e Armênia protagonizam um conflito amargo sobre Nagorno Karabakh desde que os separatistas armênios respaldados por Erevan assumiram o controle da área em uma guerra na década de 1990 que deixou 30 mil mortos.
A autodeclarada independência de Nagorno Karabakh não foi reconhecida pela comunidade global, nem mesmo pela Armênia. De acordo com o direito internacional, o território continua sendo parte do Azerbaijão.
Em Stepanakert, a principal cidade do território separatista, a noite foi calma. Poucos minutos antes da entrada em vigor do cessar-fogo, no entanto, os moradores ouviram uma explosão e observaram uma coluna de fumaça em uma área próxima. Também ouviram disparos de artilharia.
A comunidade internacional não conseguiu até agora negociar uma trégua duradoura, nem uma resolução pacífica do conflito.
Na semana passada, a Armênia descartou qualquer solução diplomática, e o Azerbaijão afirmou que qualquer negociação tinha como condição prévia a retirada das tropas armênias de Nagorno Karabakh.
País rico em combustíveis, o Azerbaijão aumentou o arsenal militar nos últimos anos com a compra de armas de Rússia, Turquia e Israel.
O governo turco é acusado de mobilizar combatentes pró-Turquia da Síria no conflito.
O presidente russo, Vladimir Putin, cujo país atua tradicionalmente como árbitro na região, declarou na quinta-feira que o balanço dos combates desde o fim de setembro se aproximava de 5 mil mortos.
Nas últimas semanas, as forças do Azerbaijão conquistaram territórios que estavam fora de seu controle desde os anos 1990, após o fim da União Soviética, mas nenhum avanço determinante foi registrado.