ESTADOS UNIDOS

Vitória na Flórida é crucial para reeleição de Trump, avaliam especialistas

Donald Trump faz comício em comunidade de idosos situada no estado-chave, no sul do país. Especialistas sustentam que vitória na região é crucial para a reeleição. Biden promete imunização contra a covid-19 sem custos para todos os cidadãos

A dez dias das eleições, mais de 50 milhões de norte-americanos já votaram antecipadamente, por meio dos correios. Para conquistar a Flórida, a galinha dos ovos de ouro da disputa pela Casa Branca, o presidente Donald Trump realizou,ontem, um comício na comunidade The Villages, onde pretende convencer boa parte dos 100 mil moradores aposentados. Na Flórida, estarão em disputa 29 votos eleitorais. Nas últimas semanas, as pesquisas indicavam que o magnata republicano perdeu espaço entre os idosos, as principais vítimas da covid-19. Sem agenda oficial de campanha, o democrata Joe Biden retornou à sua residência em Wilmington (Delaware), depois do último debate de quinta-feira, e anunciou o plano de resposta à pandemia de coronavírus durante seu eventual governo. Ele prometeu que, caso eleito, disponibilizará a vacina aos 332 milhões de norte-americanos. “Uma vez que tivermos uma vacina segura e eficaz, terá que ser gratuita para todos, sem importar se você tem seguro ou não”, declarou.

“Eu amo a Flórida! É ótimo estar de volta aqui. Eu gosto de The Villages”, disse Trump, durante o comício de 70 minutos, na tarde de ontem, a uma multidão entusiasmada. “Daqui 11 dias, nós ganharemos na Flórida e ganharemos mais quatro anos. (…) Eu sempre estarei aqui para proteger vocês. Sempre lutarei e acalentarei vocês, idosos dos Estados Unidos”, disse.

Para Randy Pestana, professor do Instituto para Políticas Públicas Jack D. Gordon da Universidade Internacional da Flórida, Trump sabe que, se fracassar no estado, os planos da reeleição estarão acabados. “O republicano intensificou o apoio entre latinos no país desde 2016. O problema é que ele também perdeu apoio entre os eleitores brancos mais velhos, especialmente as mulheres. Há, também, a questão de participação dos afro-americanos, que podem votar em número o bastante para permitir que Joe Biden vença na Flórida e obtenha a indicação”, afirmou ao Correio. No entanto, ele assegura que o democrata está “no banco do motorista”, com mais caminhos para a vitória. “Francamente, Biden é percebido de modo mais favorável do que Hillary Clinton em 2016, algo que Trump tem buscado mudar.”

Professor de ciência política da Universidade de Tennessee (em Knowville), Richard Lewis Pacelle Jr. disse ao Correio que, se Trump perder a Flórida, terá menos de 1% de chance de ganhar a eleição. “Ele precisa vencer no estado. De fato, o presidente tem muito poucos caminhos para a vitória. Ele precisa vencer na Flórida e na Pensilvânia. Se Biden levar a Flórida, a disputa estará acabada. E se o democrata for derrotado em Ohio, significa que perderá na Pensilvânia e em Wisconsin”, comentou. Ele reconhece que os idosos foram um grupo demográfico que favoreceu amplamente os republicanos nas últimas eleições. “Em 2016, Trump teve 20 pontos percentuais de votos de idosos a mais do que Hillary Clinton. Agora, ele os está perdendo para Biden, por uma diferença entre 8 e 10 pontos. É por isso que a Flórida está em jogo”, explicou.

Avaliação

Pacelle Jr. considerou o debate de quinta-feira muito melhor do que o de 29 de setembro, apesar de ver pouca substância em ambos. “Trump foi o foco. Ele interromperia Biden? O desligamento temporário dos microfones funcionaria? O presidente pareceu-me mais calmo e atento aos fatos e aos números. Mas, Biden saiu-se melhor. No fundo, duvido que o recente debate mova a agulha e faça alguma diferença. São poucos os eleitores indecisos”, afirmou. “A reação geral, aqui nos EUA, foi a de que Trump se saiu muito melhor do que no primeiro debate. Mas não conseguiu acertar o nocaute. Trump precisava que Biden cometesse uma grande gafe, o que não aconteceu. Biden venceu por uma pequena margem.” O debate foi visto por 55,2 milhões de telespectadores — 6,8 milhões a menos do que o primeiro duelo, em 29 de setembro.

John Myles Coleman, cientista político da Universidade da Virgínia, admitiu à reportragem que a economia é a principal aposta de Trump para as eleições de 3 de novembro. “Em uma pesquisa nacional divulgada pela Universidade Quinnipiac, ontem (quinta-feira), Biden lidera com 51% a 41% dos votos. Na mesma sondagem, porém, 48% dos eleitores confiaram mais em Trump, enquanto 47% em Biden, para lidar com a economia. Isso vai salvá-lo? Está ficando muito tarde para fazer a diferença, mas talvez se ele pudesse adaptar sua mensagem aos eleitores indecisos, isso o ajudaria”, explicou. “No debate entre os candidatos a vice, a democrata Kamala Harris trouxe à tona como o ex-presidente Barack Obama e Joe Biden salvaram a indústria automobilística quando estavam no poder. Provavelmente, tal referência foi destinada a eleitores de Michigan, Ohio e Wisconsin, estados capazes de decidir a eleição.”

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“O presidente Donald Trump pode, absolutamente, conquistar a reeleição. Mas, ele tem muito pouco tempo para mudar os corações e as mentes de poucos eleitores que permanecem indecisos. Se ganhar, é improvável que seja da mesma forma que em 2016.” Randy Pestana, professor do Instituto para Políticas Públicas Jack D. Gordon da Universidade Internacional da Flórida.

“Trump pode ter sido capaz de reconquistar mais uns poucos republicanos. A disputa eleitoral ficará um pouco mais acirrada, como sempre acontece. Isso muda a trajetória da Corrida à Casa Branca? Talvez um pouco.” Richard Lewis Pacelle Jr., professor de ciência política da Universidade de Tennessee
(em Knoxville).

Mandel NGAN/AFP - O republicano Donald Trump saúda idosos de The Villages, na Flórida: presidente tenta reverter desvantagem
Drew Angerer/AFP - O democrata Joe Biden permaneceu em Wilmington (Delaware) e anunciou planos para combater a covid-19

Israel e Sudão vão normalizar as relações

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, celebrou uma “grande vitória para a paz mundial”, ao anunciar a normalização das relações diplomáticas entre Israel e Sudão. No mês passado, Emirados Árabes e Bahrein assinaram um acordo semelhante, na Casa Branca. No entanto, o caso do Sudão é ainda mais emblemático, pois a nação africana esteve em guerra com Israel. Trump divulgou o acordo entre Israel e Sudão depois de comunicar formalmente ao Congresso sua intenção de retirar Cartum da lista de patrocinadores do terrorismo, o que o país árabe buscava há tempos.

Jornalistas na Casa Branca presenciaram uma conversa telefônica no Salão Oval entre Trump e os líderes israelenses e sudaneses. “Fizeram as pazes”, disse Trump. “Estamos expandindo o círculo da paz tão rápido, graças à sua liderança”, disse ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aliado de Trump.

Em uma declaração em separado, Netanyahu elogiou a “formidável mudança” por parte do Sudão, enquanto a Presidência da Autoridade Palestina expressou sua “condenação” e seu “repúdio” ao pacto. Por sua vez, o movimento islamita palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, qualificou o acordo de “pecado político”.

O magnata republicano afirmou que outros países árabes desejam reconhecer Israel, inclusive a Arábia Saudita — potência regional e lar de Meca e Medina, as duas cidades mais sagradas do islã. “Temos pelo menos cinco que querem se somar”, afirmou. “Esperamos que a Arábia Saudita seja um destes países”, acrescentou.

Embora Trump não tenha mencionado nenhum outro país, Omã e Mauritânia estariam inclinados a ter vínculos com Israel. Até o mês passado, os únicos países árabes que tinham reconhecido Israel eram Jordânia e Egito, que fizeram as pazes com seu vizinho com a mediação dos Estados Unidos.

Lista negativa

Como parte do pacto para que o Sudão deixe a lista de países patrocinadores do terrorismo, na qual está desde 1993, a Casa Branca disse que o governo em Cartum tinha depositado US$ 355 milhões destinados às vítimas americanas de atentados. Isto inclui indenizações por ataques da rede Al-Qaeda em 1998 contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia, que deixaram mais de 200 mortos. O Sudão, que foi pária da comunidade internacional por abrigar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, nos anos 1990, foi acionado pelos tribunais americanos a pagar estas compensações.

O primeiro-ministro civil do Sudão, Abdallah Hamdok, agradeceu a Trump por deixar de considerar Cartum promotor do terrorismo, o que permitirá ao país voltar ao setor financeiro internacional e captar investimentos. Em desvantagem nas pesquisas, Trump comemorou no Twitter o que considerou uma “grande vitória para os Estados Unidos e para a paz mundial”.