O primeiro-ministro tailandês, Prayut Chan-O-Cha, recuou ante o movimento em favor da democracia e suspendeu o estado de emergência “reforçado”. A manobra do chefe de governo é considerada uma vitória para os milhares de manifestantes nas ruas, os quais exigem a renúncia de Prayut e a reforma da monarquia. O decreto, divulgado no Diário Real, órgão oficial do palácio, foi suspenso a partir de meio-dia de hoje (meia-noite de ontem em Brasília). “A situação foi flexibilizada. Os representantes do governo e os organismos estatais podem aplicar as leis comuns”, afirmou a publicação. “Todas as medidas excepcionais foram suspensas.”
Além de proibir as reuniões com mais de quatro pessoas, o texto conferia à polícia carta branca para deter manifestantes e confiscar qualquer publicação eletrônica considerada “contrária à segurança nacional”. A medida de exceção foi imposta em 15 de outubro. No dia anterior, ativistas pró-democracia protestaram durante a passagem do cortejo da rainha Suthida e levantaram três dedos diante de seu carro — um sinal de desafio inspirado no filme Jogos vorazes, o qual tornou-se símbolo de resistência.
Desde então, milhares de manifestantes, em sua maioria jovens, desafiaram a proibição de reuniões com eventos diários e simultâneos em vários pontos da capital, Bangcoc. “O governo está fazendo uma mudança de rumo porque percebe que os métodos antigos não funcionam mais”, disse Christine Cabasset, do Instituto de Pesquisas sobre o Sudeste Asiático Contemporâneo. “Não poderia continuar perdendo a cara para uma juventude ultradeterminada, que não parou de lutar, apesar da detenção da maioria de seus líderes. É uma vitória do movimento, que continua fortalecendo sua base.”
Os protestos exigem a renúncia do premiê, um general que alcançou o poder depois de articular um golpe de Estado, em 2014, e legitimado pelas polêmicas eleições do ano passado. Os manifestantes cobram uma revisão da Constituição, por considerá-la favorável às Forças Armadas. Eles se atrevem a exigir uma reforma da poderosa e rica monarquia — o tema é considerado tabu.
Divergências
O rei Maha Vajiralongkorn não comentou diretamente os eventos e, na semana passada, afirmou apenas que a Tailândia precisa de “um povo que ame seu país”. Na quarta-feira, Prayut Chan-O-Cha tinha antecipado que se preparava para suspender o decreto de emergência. “Estou dando o primeiro passo para desativar a situação”, disse, antes de pedir aos manifestantes que resolvam as divergências no Parlamento, que se reunirá em sessão extraordinária a partir de segunda-feira para tentar resolver a crise. No mesmo horário, quase 7 mil manifestantes pró-democracia se reuniram perto da Casa de Governo, desafiando o decreto pelo sétimo dia consecutivo.