Movimento democrático

Oposição bielo-russa recebe Prêmio Sakharov 2020 de Direitos Humanos

O prêmio foi entregue pela primeira vez a Nelson Mandela, em 1988. Os 50 mil euros serão entregues em sessão plenária do Parlamento Europeu, em 16 de dezembro

O movimento democrático em oposição ao presidente bielo-russo, Alexander Lukashenko, ganhou o prestigioso Prêmio Sakharov de 2020 para os direitos humanos - anunciou o Parlamento Europeu nesta quinta-feira (22/10).

Segundo o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, este grupo de oposição "tem algo do seu lado que a força bruta nunca pode derrotar: a verdade. Não baixe os braços. Estamos ao seu lado".

"É uma honra anunciar que os homens e mulheres da oposição democrática em Belarus são os laureados do Prêmio Sakharov para 2020", anunciou Sassoli no Twitter.

A distinção será entregue em sessão plenária do Parlamento Europeu, em 16 de dezembro. Dotado de 50 mil euros (US$ 58 mil), foi entregue pela primeira vez a Nelson Mandela, em 1988.

"Não é um prêmio pessoal, é uma recompensa para o povo bielo-russo", disse a líder da oposição Svetlana Tikhanivskaya, em uma entrevista coletiva em Copenhague, durante uma visita de dois dias.

O movimento de oposição bielo-russo, que, em grande parte, não tem relação com qualquer partido tradicional no país, é liderado por Svetlana, atualmente exilada na Lituânia.

O prêmio deve acrescentar mais um elemento de tensão nas relações de Bruxelas com Minsk e Moscou, dois firmes aliados. E chega em um momento delicado. Tikhanovskaya convocou Lukashenko a deixar o poder antes de 29 de outubro, sob o risco de enfrentar uma greve geral em massa.

Belarus é palco de protestos sem precedentes contra a reeleição de Lukashenko, que se mantém no poder desde 1994, à frente de um modelo que muitos identificam como inspirado en el sistema soviético.

Este grupo de oposição é um movimento popular em geral alheio aos partidos políticos tradicionais de Belarus. Recebe um apoio em massa entre mulheres e jovens, muitos dos quais não conheceram a extinta União Soviética.

A União Europeia não reconhece o resultado das eleições de 9 de agosto, que marcaram a reeleição de Lukashenko, e considera que seu governo carece de "legitimidade democrática".

Na semana passada, líderes europeus adotaram sanções contra 40 autoridades bielo-russas por seu papel em fraudar as eleições, ou reprimir as manifestações que se seguiram.

Até agora, porém, a UE se absteve de incluir o próprio Lukashenko na lista de sanções, embora fontes diplomáticas concordem que esta medida pode ser adotada a qualquer momento.

Repressão aos protestos

Em um país que fez da alta tecnologia um eixo de desenvolvimento prioritário, os protestos se organizam, em grande parte, pelos canais do aplicativo de mensagens Telegram. Apesra de seus esforços, o governo não conseguiu bloqueá-lo.

Todos os domingos, dezenas de milhares de bielo-russos tomam as ruas da capital, Minsk, e de outras cidades do interior do país, apesar das ameaças de repressão policial.

Aos sábados, acontecem as manifestações das mulheres, enquanto os aposentados ocupam as ruas às segundas-feiras.

Quase todas as personalidades ligadas a Tikhanovskaya e ao Conselho de Coordenação, formado para conseguir uma transição de poder, foram detidas, submetidas à detenção domiciliar, ou se encontram no exílio.

Com o apoio da Rússia, Lukashenko exclui qualquer concessão importante, prometendo uma vaga reforma constitucional para sair da crise e um simulacro de diálogo com os opositores detidos, visitando-os na prisão.