O coronavírus provocou a morte de mais de 219 mil norte-americanos e infectou 8,1 milhões, entre eles o próprio presidente dos Estados Unidos. Apesar das estatísticas e a apenas 15 dias das eleições, o republicano Donald Trump voltou a atacar o médico infectologista Anthony Fauci, coordenador da Casa Branca da resposta contra a pandemia, a quem chamou de “desastre”. Também referiu-se ao especialista e a outras autoridades da saúde como “idiotas”. As declarações foram feitas em ligação para assessores de campanha, a partir de um hotel em Las Vegas. Jornalistas tiveram acesso à gravação da conversa telefônica.
“As pessoas estão cansadas da covid. Eu tenho esses grandes comícios. As pessoas estão dizendo: ‘Sejá lá o que for, apenas nos deixem em paz’. Elas estão cansadas. As pessoas estão cansadas de escutar Fauci e todos esses idiotas”, afirmou Trump. O magnata disse que Fauci é “um cara legal”, mas que “está aqui há uns 500 anos”. “Toda vez que ele vai à televisão, há sempre uma bomba, mas há uma bomba maior se você o demite. Esse cara é um desastre”, alfinetou o presidente. “Se o escutássemos, teríamos 700 mil (ou) 800 mil mortes”, acrescentou Trump. Fauci, 79 anos, ficou mundialmente reconhecido por seu trabalho como diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), situado nos arredores de Washington.
O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, não poupou críticas a Trump pelo ataque ao médico. “Agitar uma bandeira branca e dizer ‘isso é o que é’ é inaceitável, quando milhares de vidas de norte-americanos são tiradas a cada semana, quando empresas estão sendo fechadas. (...) O povo americano precisa de um líder para mostrar o caminho. Tudo o que o presidente Trump fez foi se encolher e se afundar na autopiedade”, declarou.
No domingo, Fauci concedeu entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS, na qual desqualificou a tese de Trump de que a pandemia estaria próxima do fim. Segundo o jornal The New York Times, o infectologista disse que não estava surpreso com o fato de o presidente ter contraído o Sars-CoV-2 e citou a falta de precaução da Casa Branca em tomar medidas protetivas durante eventos oficiais. “Eu fiquei preocupado que ele adoecesse, quando o vi em uma situação precária de aglomeração, sem separação entre as pessoas e com quase ninguém usando máscara”, admitiu.
O mais recente ataque do presidente a Fauci provocou uma dura reação do senador republicano Lamar Alexander. “O doutor Fauci é um dos servidores públicos mais distintos do nosso país. Serviu a seis presidentes, a começar por Ronald Reagan”, tuitou Alexander. “Se mais americanos prestassem atenção a seus conselhos, teríamos menos casos da covid-19.”
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Há uma semana, Fauci também tinha expressado descontentamento pelo uso de imagens suas em um anúncio de campanha de Trump sobre o coronavírus. “Nas minhas quase cinco décadas de serviço público, nunca apoiei publicamente nenhum candidato político”, respondeu o imunologista, dizendo que suas declarações no vídeo foram tiradas de contexto. Em vários momentos durante a resposta à pandemia, Fauci esclareceu ou corrigiu os comentários públicos de Trump sobre o desenvolvimento de tratamentos e vacinas para a covid-19. O tom entre eles se tornou tenso algumas vezes, como em abril, quando Trump retuitou uma publicação com a hashtag #FireFauci (Demita Fauci), para depois se dirigir ao povo americano e dizer que “Tony” fazia um grande trabalho.