Protestos

Polícia dispersa milhares de manifestantes pró-democracia em Bangcoc

O Batalhão de Choque fez uso de jatos d'água contra os cerca de 3.000 ativistas reunidos no centro da capital

A polícia tailandesa dispersou, nesta sexta-feira (16), em Bangcoc, milhares de manifestantes que voltaram a desafiar a proibição a protestos e foram mais uma vez às ruas pedir reformas democráticas no país. O Batalhão de Choque fez uso de jatos d'água contra os cerca de 3.000 ativistas reunidos no centro da capital, observaram jornalistas da AFP.

Os manifestantes responderam erguendo barricadas para tentar retardar a dispersão da concentração. "Ordenamos a nossos irmãos e irmãs que retornem às suas casas", alertou a polícia antes de avançar contra os manifestantes.

"Fora Prayaut!", "Abaixo a ditadura!", gritavam os ativistas, muitos deles estudantes. Onze manifestantes e quatro policiais ficaram feridos, informou a Police TV. O movimento pró-democracia havia planejado se reunir em Ratchaprasong, um grande cruzamento no centro da capital.

Mas os principais acessos estavam fechados desde o início da tarde e a polícia foi enviada ao local, o que fez com que os manifestantes ficassem a centenas de metros da área. "Pouco a pouco, temos cada vez mais valor", declarou à AFP Nine, um estudante de 21 anos. "Se não corrermos riscos, não haverá mudança alguma", acrescentou.

"Os pobres ficam cada vez mais pobres, os ricos cada vez mais ricos" neste país, um dos mais desiguais do mundo, disse Pim, de 20 anos. Na quinta-feira, cerca de 10.000 pessoas desafiaram a proibição de aglomeração, manifestando-se no centro de Bangcoc.

Segurança nacional 

Segundo o decreto de emergência promulgado para tentar impedir o movimento que sai às ruas há vários meses, as concentrações políticas de mais de quatro pessoas e as mensagens na Internet consideradas "contra a segurança nacional" estão proibidas.

Dois ativistas, Ekachai Hongkangwan e Bunkueanun Paothong, foram presos nesta sexta-feira. Até o momento, não se sabe exatamente quais são as acusações contra os dois jovens, mas foram detidos com base no artigo 110 do Código Penal tailandês, segundo o qual qualquer "ato de violência contra a rainha, ou sua liberdade", pode ser condenado com até 16 anos de prisão ou prisão perpétua.

Essas são as acusações mais graves anunciadas desde o início dos protestos.

Na quarta-feira, um carro que levava a rainha Suthida - que, segundo as autoridades, não podia evitar o percurso de uma grande manifestação pró-democracia em Bangcoc - parou por um instante e dezenas de manifestantes levantaram três dedos da mão diante do veículo, um sinal de resistência inspirado no filme "Jogos Vorazes" e um gesto de desafio à autoridade real.

Os dois detidos estavam no local. "Sou acusado de tentar prejudicar a rainha", mas "sou inocente. Não era a minha intenção", declarou Bunkueanun Paothong antes de ser preso. O movimento pró-democracia pede a renúncia do primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha, e uma reforma da poderosa e rica monarquia. Até pouco tempo, o assunto era tabu no reino.

Maha Vajiralongkorn, que chegou ao trono em 2016 após a morte de seu pai, o venerado rei Bhumibol, é uma figura controversa.

Em alguns anos, ele reforçou seus poderes, em especial, tomando diretamente o controle da fortuna real. Suas estadas frequentes na Europa, inclusive em plena pandemia de coronavírus, também levantaram dúvidas.

"Não renunciarei" 

O primeiro-ministro promulgou as medidas de emergência na quinta-feira, no dia seguinte ao incidente com o cortejo da rainha. "Não violem a lei!", alertou nesta sexta. "Não renunciarei", enfatizou. Mais de 20 militantes, incluindo vários líderes do movimento, foram detidos pouco depois da promulgação do decreto.

Um deles, Anon Numpa, foi transferido em um helicóptero para Chiang Mai (norte), onde não recebeu liberdade sob fiança, segundo seu advogado. A Tailândia é um país acostumado à violência política, com 12 golpes de Estado desde a abolição da monarquia absoluta em 1932.

O próprio Prayut Chan-O-Cha chegou ao poder por meio de um golpe de Estado em 2014. Depois, tomou a frente de um governo civil após eleições controversas no ano passado. Diante da situação, "a probabilidade de os militares retomarem o controle do país é viável", aponta Thitinan Pongsudhirak.

Os manifestantes "não vão parar até que seus pedidos sejam atendidos. Sem concessões por parte do governo, haverá tensões", afirma. Em um comunicado, o partido da oposição Pheu Thai pediu ao governo que "levante imediatamente as medidas de emergência", "pare de assediar a população" e "liberte os presos".