A apenas 18 dias das eleições, o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden travaram, na noite de ontem, um duelo à parte, por força da pandemia da covid-19, que também atingiu a campanha do partido da oposição (leia abaixo). Ao contrário do tumultuado debate de 29 de setembro, quando o titular da Casa Branca interrompeu o rival por várias vezes, em Cleveland (Ohio), ambos participaram de town halls, separados por 1.190km. Durante o tradicional evento, um painel de eleitores, supervisionado por um moderador, interroga um candidato. Segundo o cronograma inicial, Trump e Biden fariam, ontem, em Miami (Flórida), o segundo de três debates. Como o republicano foi infectado pelo coronavírus, a Comissão de Debates Presidenciais decidiu pelo formato virtual, rejeitado por Trump. Por fim, o embate direto foi cancelado e substituído pelos town halls, que começaram exatamente no mesmo horário, às 20h (21h em Brasília). Enquanto Biden utilizou uma máscara o tempo todo, Trump dispensou o acessório.
As primeiras perguntas direcionada a ambos tiveram, como tema, o coronavírus. No National Constitution Center, na Filadélfia (Pensilvânia), um cidadão questionou Biden sobre como teria manejado a pandemia. “Trump perdeu enormes oportunidades e continuou a dizer coisas que não eram verdadeiras. (…) Ele não falou sobre o que era preciso ser feito, porque se preocupava com o mercado de ações”, respondeu o democrata, ao explicar que teria seguido o plano pandêmico criado pelo ex-presidente Barack Obama. Os ataques da campanha de Biden ocorreram no Twitter quase que de forma simultânea. “Mais de 215 mil americanos morreram e o que o presidente tem feito? Nada. Estamos no oitavo mês desta pandemia. Donald Trump ainda não tem um plano para controlar o vírus. Eu tenho”, disparou o ex-vice de Obama.
No Pérez Art Museum, em Miami, Trump tergiversou ao ser perguntado sobre a chamada “imunidade de rebanho” — fenômeno que ocorre quando uma porcentagem significativa de indivíduos fica imune a uma doença transmissível. “A cura não pode ser pior do que o problema em si”, respondeu o magnata. Ele tornou a atacar governadores democratas por terem implementado medidas de distanciamento social e fechado estabelecimentos comerciais. Trump assegurou que fez um “trabalho incrível” e que os EUA têm “dobrado a esquina” em relação à pandemia.
Imunização
Por sua vez, Biden garantiu a um eleitor que não hesitaria em tomar a vacina contra a covid-19, caso sua segurança e eficácia fossem comprovadas. “Se o corpo de cientistas afirmar (que ela está pronta) e ela tiver sido testada, (….) sim, eu a tomaria e encorajaria as pessoas a fazê-lo”, afirmou. O mesmo questionamento foi feito à senadora Kamala Harris, candidata a vice pelo Partido Democrata, durante o debate com Mike Pence, em 7 de outubro. Biden também lembrou que Trump “disse coisas malucas, como injetar alvejante no braço” para combater o coronavírus.
Confrontado sobre o tema do racismo, Trump afirmou: “Eu denunciei a supremacia branca por anos, (…) mas você não perguntou a Joe Biden se ele denuncia ou não o Antifa (movimento antifascismo formado por grupos de esquerda)”. “Eu denunciei a supremacia branca. Eu denunciei o Antifa, e eu denunciou essas pessoas da esquerda que incendeiam nossas cidades, administradas pelos democratas”, disse o presidente. Ao ser pressionado por um jovem eleitor negro sobre como pretende energizar o eleitorado afro-americano, o democrata defendeu mudanças sistêmicas nas instituições americanas, da Justiça penal à educação primária, como forma de fechar a lacuna de riqueza racial entre negros e brancos.
Quando perguntado sobre para quem deve dinheiro, Trump se recusou a responder, e apenas disse que a quantia era pequena, e que o valor de US$ 421 milhões (ou R$ 2,3 bilhões), divulgado pelo jornal The New York Times, era errado. Sobre a imigração, foi evasivo ao responder uma pergunta ligada ao DACA — programa lançado por Obama que impede a deportação dos ‘dreamers’, estrangeiros levados aos EUA pelos pais, ilegalmente, quando crianças. “Nós cuidaremos dos ‘dreamers’”, disse. “Nós construiremos 400 milhas (640km) de muro na fronteira sul”, prometeu Trump.
O presidente foi interrogado sobre se discutiu a eventual impugnação da eleição de 3 de novembro com a juíza Amy Coney Barrett, indicado por ele para a Suprema Corte. “Acho que ela terá que tomar essa decisão. Não acho que tenha qualquer conflito. Nunca perguntei a ela sobre isso. Nunca conversamos sobre isso”, comentou. Biden, por sua vez, disse que, em caso de vitória, não pedirá uma investigação sobre o governo Trump e deixará que o Departamento de Justiça decida sobre isso. Ele sublinhou que não acredita em vingança política.
Pensilvânia e Flórida são estados-chave para definir o vencedor das eleições. Pesquisa recente da Reuters/Ispsos, na Pensilvânia, aponta vitória de Biden, com 51% dos votos contra 44% para Trump. Na Flórida, o democrata também venceria, com 49% a 47% dos votos. Nos Estados Unidos, os cidadãos votam para escolher 538 delegados — em sua maioria, legisladores locais e dirigentes estaduais de seus partidos. O número de delegados em cada estado é proporcional ao tamanho da população. Para chegar à Casa Branca, um candidato precisa conquistar 270 votos do Colégio Eleitoral.