As forças separatistas armênias de Nagorno Karabakh e o Exército do Azerbaijão se acusavam mutuamente, neste domingo (11), de bombardear zonas civis, no segundo dia de uma trégua que parece ter caducado. Na tarde de hoje, não foi anunciada nenhuma troca de prisioneiros nem de corpos de militares, um dos objetivos do cessar-fogo, negociado em Moscou, que deveria ter entrado em vigor às 12h locais de ontem.
O Azerbaijão acusou os separatistas armênios de não cumprirem as condições da trégua e os acusou de terem bombardeado Gandja, segunda maior cidade do país, durante a noite, ataque que teria matado nove civis.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, denunciou no Twitter uma "violação flagrante do cessar-fogo" e um "crime de guerra". "As forças armadas armênias não respeitam a trégua humanitária e continuam com os disparos de foguetes e artilharia contra cidades e povoados do Azerbaijão", declarou à AFP um porta-voz do Ministério da Defesa do país. A acusação foi reiterada pelo Exército azeri.
Na mesma linha, expressou-se sua colega armênia, Shushan Stepanian: "Em violação do acordo de cessar-fogo, as forças azeris dirigem invasões no sul usando blindados e mísseis. As unidades (separatistas) eliminaram todas as operações inimigas."
Em Gandja, socorristas azeris trabalhavam nos escombros de um prédio, de onde removeram dois corpos. Nove apartamentos foram destruídos por um projétil às 2h locais, segundo testemunhas.
Troca de acusações
"Uma pedra caiu no meu rosto, abri os olhos e outra pedra caiu. Não conseguia ver nada, tudo era uma nuvem de poeira", contou a moradora de Gandja Akifa Baïramova, 64 anos.
O Ministério da Defesa dos separatistas de Nagorno-Karabakh negou ter bombardeado Gandja: "É uma mentira absoluta." O presidente dos separatistas, Araïk Harutiunian, garantiu que suas tropas respeitam o "acordo de cessar-fogo" e considerou a situação "mais calma" do que na véspera.
Stepanakert foi alvo de três séries de bombardeios durante a noite, segundo jornalistas da AFP. Na tarde de hoje, ouvia-se o barulho de artilharia pesada.
O chanceler armênio, Zohrab Mnatsakanian, que negociou a trégua com o colega azeri, voltará a Moscou amanhã para uma reunião com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov. O porta-voz deste último informou que também está previsto um encontro com os presidentes do Grupo de Minsk (Rússia, França e Estados Unidos), que atua como mediador do conflito, embora sem data definida.
Os chanceleres russo e turco destacaram neste domingo, segundo comunicado divulgado pela Rússia, a "necessidade de se respeitar rigorosamente todas as disposições" do acordo. Já a União Europeia expressou preocupação com as violações do cessar-fogo e pediu às partes que participem, "sem demora, das negociações mediadas pelo Grupo de Minsk", segundo um comunicado do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
O Papa Francisco lamentou "uma trégua frágil demais". "Aprecio que a Armênia e o Azerbaijão tenham concordado em um cessar-fogo por motivos humanitários, com o objetivo de chegar a um acordo de paz substancial, embora a trégua seja muito frágil", disse, ao final da oração do Angelus.
"Eu os encorajo a retomar a trégua e expresso a minha participação na dor pela perda de vidas humanas, pelo sofrimento sofrido e pela destruição de casas e locais de culto", acrescentou o pontífice.
Centenas de mortos
Nagorno-Karabakh, um território povoado principalmente por armênios, separou-se do Azerbaijão depois de uma guerra que deixou 30.000 mortos na década de 1990. Desde então, Baku acusa Yerevan de ocupar seu território e os confrontos são recorrentes.
Os combates entre as tropas separatistas, apoiadas pela Armênia, e o Azerbaijão desde 27 de setembro são os mais sérios desde o cessar-fogo de 1994. Quase 500 mortes foram registradas, incluindo cerca de 60 civis, um número que pode ser muito superior, pois o Azerbaijão não divulga as baixas entre seus militares e cada campo afirma ter matado milhares de soldados adversários.
A trégua negociada em Moscou foi alcançada após vários apelos da comunidade internacional, em particular do mediador histórico do conflito, o Grupo de Minsk. O Azerbaijão, apoiado pela Turquia, advertiu que suas operações militares só cessarão definitivamente com uma retirada da Armênia de Nagorno-Karabakh.
O medo é ver esse conflito se internacionalizar, Ancara encorajando Baku à ofensiva e Moscou se contendo por um tratado militar com Yerevan. Ancara também é acusada de enviar combatentes pró-Turquia da Síria para lutar ao lado dos azeris, o que Baku nega.