A três dias do desfecho pela disputa à Casa Branca, o candidato republicano e atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o adversário democrata, Joe Biden, enfrentam uma batalha política pelos "swing states" (entenda melhor abaixo). Esses estados, mais "voláteis" nas intenções de voto e menos fiéis a partidos, são vistos pelas campanhas eleitorais regiões críticas para definição da corrida presidencial. Por isso, os oponentes devem "conquistá-los" até a terça-feira (3/11).
Um desses "swing states" é a Flórida, onde, oportunamente, os dois candidatos protagonizaram comícios na última quinta-feira (29/10). E, nesta sexta (30/10), Trump seguiu rumo ao eleitorado da Geórgia e Pensilvânia, enquanto Biden se deslocava para Iowa e Wisconsin, cruzando-se, novamente, em Michigan.
Entenda o Colégio Eleitoral e delegados
Nos EUA, o sistema eleitoral é diferente do que ocorre no Brasil. Isso porque não basta vencer nas urnas, é preciso ganhar no Colégio Eleitoral, obtendo a maioria dos 538 votos dos delegados.
Os norte-americanos utilizam o sistema de voto indireto. Ou seja, os eleitores, apesar de marcarem o nome do candidato nas urnas, os votos são encaminhados para os chamados delegados, que figuram como representantes estaduais. Estes delegados então, após a votação popular, confirmam a maioria dos votos em determinado candidato.
Por causa disso, há um série de dificuldades para que as pesquisas possam apontar o real cenário eleitoral, ao mesmo tempo em que os votos de cada eleitor têm pesos diferentes dependendo do estado em que ele está.
Sendo assim, cada região tem uma quantidade diferente de delegados proporcional à população local. Por exemplo, a Califórnia detém 55 delegados, com aproximadamente 39,5 milhões de habitantes (12% da população dos EUA). Portanto, o candidato com mais votos populares no estado conquista 55 delegados para o páreo, de acordo com o sistema do "winner-take-all" (ou, o vencedor leva tudo) – em que o candidato que sobressaiu naquele estado fica com todos os delegados, não importa qual seja a margem de votos entre os competidores. As exceções são Nebraska e Maine, que dividem os votos de maneira mais proporcional, com quatro e cinco delegados, respectivamente.
Por causa desse complexo sistema, alguns estados são "mais importantes" que outros durante a corrida à Casa Branca, transformando-se no foco das campanhas dos candidatos, os chamados "battleground states" – "estados campos de batalha".
O candidato para ser o vencedor tem que recolher pelo menos 270 votos dos delegados para se tornar presidente dos Estados Unidos. Em 2020, 12 estados estão no centro das atenções dos candidatos democrata e republicano e prometem ser decisivos. São eles: Texas (38 delegados), Flórida (29), Pensilvânia (20), Ohio (18), Michigan (16), Geórgia (16), Carolina do Norte (15), Arizona (11), Wisconsin (10), Minnesota (10), Iowa (6) e Nevada (6).
Cada um desses estados que estão no meio dessa "guerra" por votos, no entanto, tem suas peculiaridades. Em alguns casos é por causa do alto número de delegados; em outros, estados que alternam entre elegerem republicanos ou democratas a cada eleição — os “swing states”; ou pelas características demográficas e econômicas, que podem definir as eleições em determinados cenários.
Flórida e Pensilvânia
Estes são os dois maiores "campos de batalha" da eleição, apesar de serem dois estados muito diferentes entre si. Caso um deles vença em ambos os estados, fica muito perto de chegar aos 270 votos no Colégio Eleitoral.
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Pensilvânia
A Pensilvânia, com 20 representantes, foi decisiva para eleger Donald Trump, em 2016, em vez da adversária Hillary Clinton. Na ocasião, foi rompida décadas de vitórias democrata no estado.
Formada por grandes subúrbios, a Pensilvânia demonstrou descontentamento com o governo do democrata Barack Obama. Neste ano, contudo, Biden tenta reverter a situação utilizando dos problemas de gestão de Donald Trump diante da atual crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.
As pesquisas indicam que o democrata tem uma leve vantagem na região, mas dado o que ocorreu há quatro anos, não há como cravar uma decisão democrata na região.
Assim como em diversos estados, o voto por correspondência é aceito na Pensilvânia. A entrega de votos, por ordem judicial, foi prorrogada até 6 de novembro, após o Serviço Postal dos Estados Unidos alertar para o "risco considerável" de os eleitores não terem tempo suficiente para preencher e enviar os votos respeitando as leis estaduais atuais.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Democratas
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas na Pensilvânia foi às 23h no horário de Brasília, 22h no horário local.
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Flórida
Já a Flórida é o terceiro estado com maior número de delegados – 29 – empatada com Nova York. Este último, contudo, segundo as pesquisas, já tem um candidato definido: Biden.
A Flórida, porém, tem a peculiaridade da predominância do eleitor latino e mais idoso, sendo que cada lado, atualmente, está pendendo para um lado da disputa.
Biden tem conseguido capturar votos dos mais idosos por causa da má condução de Trump diante da crise do vírus. O estado, inclusive, foi um dos mais afetados pela covid-19 no país.
Enquanto isso, por outro lado, Trump tem se saído melhor entre os latinos, principalmente cubanos e venezuelanos, por sua postura contra os regimes dos dois países. Até o momento as pesquisas não dão vantagem para nenhum dos dois na Flórida, mas especialistas avaliam que a vitória na região é crucial para reeleição de Trump.
A Flórida, assim como a maioria dos 50 estados e do Distrito de Columbia, aceita votos por correspondência. No estado, pelo menos um terço dos eleitores requisitou a cédula de votação. Além disso, as votações presenciais antecipadas no estado começaram em 19 de outubro.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Democratas
- 2008 – Republicanos
- 2012 – Republicanos
- 2016 – Democratas
Em 2016 o fechamento das urnas na Flórida foi às 22h no horário de Brasília, 21h no horário local.
Texas, Arizona, Minnesota, Michigan e Geórgia
Estes cinco estados costumam ter uma tendência, mas podem surpreender e serem decisivos para a vitória de qualquer um dos dois candidatos.
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Texas
O estado é um tradicional reduto republicano desde 1980, mas que não tem registrado nas pesquisas vantagem para Trump até o momento.
Com grande quantidade de delegados (38), este é o segundo maior estado norte-americano. Segundo as projeções, o democrata e o republicano aparecem praticamente empatados.
O foco de Biden está no eleitorado urbano e cosmopolita, que pode reverter a tendência e o levar à vitória. Há dois anos, o democrata Beto O'Rourke perdeu a eleição para o Senado com diferença menor do que 3% para o republicano Ted Cruz, a menor desvantagem entre os dois partidos no estado nos últimos 30 anos.
Em votação antecipada presencial, que reuniu 85 milhões de votos em diversos estados, 9 milhões destes foram apenas no Texas.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Republicanos
- 2012 – Republicanos
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas no Texas foi às 23h no horário de Brasília, 21h no horário local.
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Arizona
Assim como o Texas, cidadãos do Arizona também tendem a votar nos republicanos. Por isso, assim como na Flórida, Biden tentará reverter este cenário por meio público dos homens brancos idosos descontentes com o gerenciamento da crise.
O democrata conta, ainda, com apoio da família de John McCain, ex-senador conservador morto em 2018 que fazia oposição ao atual presidente, mesmo sendo um republicano.
Nesta sexta (30/10), foi o último dia de votação antecipada no estado.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Republicanos
- 2012 – Republicanos
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas no Arizona foi às 0h no horário de Brasília, 20h no horário local.
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Geórgia
Os habitantes de Geórgia também tendem a votar nos republicanos, e compõe a bolha dos estados do Sul onde o democrata tenta reverter décadas de domínio do partido opositor, com enfoque nos eleitores de cidades grandes, como Atlanta, e dos subúrbios.
Esta sexta (30/10), assim como no Arizona, foi o último dia de votação antecipada no estado.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Republicanos
- 2012 – Republicanos
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas na Geórgia foi às 22h no horário de Brasília, 17h no horário local.
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Michigan
Já no estado de Michigan, o cenário é o oposto: é um tradicional reduto democrata. Contudo, em 2020, Trump tem grandes chances de conquistar os delegados, assim como levou em 2016 com a promessa de resgatar os empregos perdidos para as indústrias de outros países.
Apesar de Biden aparecer ligeiramente à frente de Trump nas pesquisas, o atual presidente pode retomar a dianteira se resgatar os votos dos eleitores dos subúrbios que viram aumento das vagas de emprego e prosperidade antes da pandemia.
O estado faz parte do "cinturão industrial da ferrugem", assim como Pensilvânia, Wisconsin e Ohio.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Democratas
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Republicanos
Em 2016h o fechamento das urnas em Michigan foi entre as 23h e 0h no horário de Brasília, 22h e 23h no horário local.
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Minnesota
Os democratas também costumam se sobressair neste estado. Neste ano, contudo, a região foi marcada pelo assassinato de George Floyd em uma ação da polícia em Minneapolis.
Entretanto, mesmo com o descontentamento, Trump tenta perdurar o discurso de “lei e ordem” na região e pode conseguir conquistar o eleitorado, revertendo um cenário em que nenhum republicano vence desde 1972, com Richard Nixon.
No entanto, a derrota de Trump, em 2016, com apenas 1,5% de diferença para a rival, fez candidato adotar uma estratégia e investir no estado onde esteve por várias vezes durante a campanha, assim como seus parentes e diversos aliados políticos.
Outro motivo de ter colocado Minnesota no radar dos republicanos foi a vitória durante as eleições para a Câmara dos Representantes, quando o partido tomou duas cadeiras historicamente dos democratas em dois condados do interior.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Democratas
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Democratas
Em 2016, o fechamento das urnas em Minnesota foi às 0h no horário de Brasília, 22h no horário local.
Carolina do Norte, Ohio e Wisconsin
Estes são três estados em que Trump saiu vitorioso em 2016, mas que estão divididos nesta eleição.
Com características peculiares, eles somam 43 delegados em disputa e podem ser decisivos.
As regiões mesclam eleitores de diferentes perfis. Enquanto moradores das cidades grandes costumam votar em candidatos do Partido Democrata, habitantes das áreas rurais preferem os republicanos. Assim, nichos do eleitorado podem desequilibrar a corrida para um dos lados.
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Ohio
A região tem costume em "profetizar" os vencedores a disputa à Casa Branca. A última vez que um candidato se elegeu presidente sem vencer em Ohio foi em 1960, com John F. Kennedy.
No estado, tanto Trump quanto Biden tentam fisgar o eleitorado da classe trabalhadora com baixa escolaridade, a mesma que deu a vitória ao atual presidente. Biden tenta reverter esse público com discurso sobre a frustração econômica no pós-pandemia.
Em Ohio, segundo as pesquisas, Trump lidera com apenas um ponto percentual à frente de Biden.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas em Ohio foi às 22h30 no horário de Brasília, 21h30 no horário local.
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Carolina do Norte
Os perfis do eleitorado da região permeia os dois lados do espectro. Há o eleitor jovem e cosmopolita, que tende a votar em Biden. Enquanto, por outro lado, os cidadãos rurais, ferrenhos republicanos.
Além disso, a Carolina do Norte tem também outro segmento que pode decidir a eleição: o eleitorado negro.
Desta vez, Trump aumentou a base de apoio nesse último grupo, mas Biden ainda aparece à frente em pesquisas. Os democratas, então, tentam convencer os eleitores das cidades maiores e das universidades a saírem para votar e reverter a tendência republicana que se repete desde 2012.
A Carolina do Norte iniciou em 4 de setembro o processo de votação pelos correios — ou seja, 2 meses antes da eleição de 3 de novembro — em uma campanha cada vez mais agressiva entre o candidato republicano Donald Trump e o rival democrata Joe Biden.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Democratas
- 2012 – Republicanos
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas na Carolina do Norte foi às 22h30 no horário de Brasília, 21h30 no horário local.
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Wisconsin
O estado de Wisconsin é uma grande mistura de características, com cidades cosmopolitas, subúrbios industriais e zonas rurais expressivas. O debate econômico tem sido importante para o eleitorado desta região, mas a questão de segurança pública e o enfrentamento ao racismo está em voga, principalmente após a tentativa de assassinato de Jacob Blake por policiais na cidade de Kenosha – tema que deve dividir o eleitorado.
Em 2016, Donald Trump venceu em Wisconsin, onde um republicano não conquistava a maioria dos eleitores desde a vitória de Ronald Reagan, em 1984. Contudo, recentes pesquisas indicam uma reviravolta do Partido Democrata e Joe Biden aparece mantendo uma sólida vantagem frente ao adversário. A gestão da crise sanitária é vista como um dos fatores que mais pesam na decisão final dos eleitores.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Democratas
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas no Wisconsin foi à 0h no horário de Brasília, 22h no horário local.
Iowa e Nevada
Estes “swing states”, ou “estados pêndulo”, oferecem seis delegados cada um. Apesar de um número pequeno de representantes, estas regiões podem ser decisivas em uma eleição bastante acirrada.
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Iowa
O estado tem alternado bem as preferências, com vitórias do democrata Barack Obama nas duas eleições que participou, em 2008 e 2012, enquanto Trump venceu em 2016.
Iowa faz fronteira entre o cinturão industrial e a enorme e pouco habitada região rural americana. No estado, os democratas estão levando vantagem, mas os republicanos, por meio da votação antecipada, vem estreitando a diferença. O estado também tem uma corrida pelo Senado importante entre a republicana Joni Ernst e a democrata Theresa Greenfield.
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Democratas
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Republicanos
Em 2016, o fechamento das urnas em Iowa foi à 1h no horário de Brasília, 23h no horário local.
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Nevada
Assim como Ohio, a região tem se destacado por ter sido um local em todos os presidentes eleitos venceram entre 1980 e 2012. Na última eleição, porém, o estado votou em Hillary Clinton, que acabou derrotada por Trump em números gerais.
No estado, porém, os republicanos estão diminuindo a margem de liderança democrata no voto antecipado. Na semana passada, democratas lideravam por 12 pontos. Com mais cédulas chegando do voto por correspondência, os democratas (42%) têm agora sete pontos de vantagem sobre os republicanos (35%).
Veja os partidos que venceram na região nas últimas cinco eleições:
- 2000 – Republicanos
- 2004 – Republicanos
- 2008 – Democratas
- 2012 – Democratas
- 2016 – Democratas
Em 2016, o fechamento das urnas em Nevada foi à 1h no horário de Brasília, 21h no horário local.
A nível nacional
A nível nacional, o democrata Joe Biden continua a liderar a corrida presidencial com 54% das intenções de voto, enquanto Trump segue com 42%. Contudo, isso não tranquiliza o ex-vice-presidente, já que na última eleição, em 2016, a candidata democrata Hillary Clinton encabeçou as pesquisas, ganhou em número de votos populares, mas saiu derrotada em número de delegados.
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