A Agência Internacional de Energia (AIE) pede um esforço maior para uma redução contínua das emissões de gases de efeito estufa e, pela primeira vez, projeta um exigente horizonte de neutralidade de CO² - aponta seu relatório anual publicado nesta terça-feira (13/10).
A pandemia da covid-19 prejudicou o mundo da energia: as últimas previsões da AIE mostram uma queda da demanda de 5% este ano, uma redução das emissões de CO² relacionadas ao setor energético de 7% e o investimento nesta área cairá 18%.
Da mesma forma, o petróleo (-8%) e o carvão (-7%) diminuem, enquanto as renováveis têm um melhor resultado. Para além dessa crise, a AIE exige um maior compromisso na redução das emissões.
"Apesar da queda recorde deste ano, os Estados ainda têm muito a fazer para alcançar uma redução decisiva das emissões mundiais", enfatizou seu diretor-executivo, Fatih Birol.
"Só conseguiremos corrigir a tendência atual de emissões com mudanças estruturais em nosso modo de produzir e consumir", acrescentou Birol.
Como todos os anos, em suas mais de 450 páginas, o relatório da AIE apresenta uma série de cenários do futuro.
A partir das políticas, dos compromissos existentes e da previsão de uma recuperação econômica mais tardia, a AIE conclui que a queda das emissões não será mantida depois deste ano.
A AIE decidiu, então, apresentar um novo horizonte: "zero emissões líquidas" de agora até 2050 (NZE2050, em inglês), mais ambicioso do que seu cenário de "desenvolvimento sustentável" de 2019.
Algumas empresas, países e regiões, começando pela União Europeia (UE), estabeleceram um objetivo de neutralidade do carbono para meados deste século, a fim de limitar as mudanças climáticas.
Eles buscam reduzir as emissões de CO² ao mínimo e compensar o restante por meio de diferentes sistemas de absorção (florestas, plantas, captura e armazenamento de carbono etc.).
"Um primeiro passo insuficiente"
Alcançar este horizonte de neutralidade de carbono, no entanto, supõe aplicar uma série de ações radicais nos próximos dez anos.
Por exemplo, para reduzir as emissões em 40% em 2030, seria necessário que as fontes de geração de eletricidade com baixas emissões, como as renováveis, representassem 75% da produção (menos de 40% em 2019), e que mais de 50% dos carros vendidos no mundo sejam elétricos (cerca de 2,5%, atualmente).
"A descarbonização da eletricidade, a maior ambição na eficiência energética e as mudanças de hábitos terão um papel importante, assim como a aceleração no desenvolvimento de tecnologias como os eletrolisadores para produzir hidrogênio, ou os pequenos reatores [nucleares] modulares", informa a AIE.
A Agência insiste em que todos os atores precisam se envolver neste esforço sem precedentes: governos, empresas, setor financeiro e também os cidadãos, que terão de começar a tomar decisões sobre a maneira como viajam, ou aquecem suas casas.
Encarregada de assessorar os países desenvolvidos sobre sua política energética, a AIE é frequentemente criticada pelos defensores do meio ambiente por sua cautela excessiva, pela falta de ambição climática, pelo peso que atribui ao gás como energia de transição, ou até mesmo pela esperança que deposita em tecnologias como a captura e o armazenamento de carbono.
E este novo relatório está longe de agradar a algumas ONGs de defesa do meio ambiente.
"O programa NZE2050 da AIE está no meio do caminho. É uma perspectiva incompleta, limitada a dez anos e que continua apostando nas energias fósseis, enquanto acredita no desenvolvimento de tecnologias ainda questionadas", lamentaram as organizações Reclaim Finance e Oil Change International.
"É um primeiro passo insuficiente, porque, enquanto este tipo de relatório não se concentrar no objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5ºC, a AIE continuará protegendo os interesses da indústria de combustíveis fósseis e será um obstáculo na ação pelo clima", criticou Romain Ioualalen, da Oil Change International.
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