Até agora modelo na gestão da pandemia de coronavírus, a Alemanha vive um aumento de casos que suscita o receio de uma "propagação incontrolável" do vírus, que já causou seis milhões de infecções em toda Europa e continua a devastar outras partes do mundo, como o Brasil, onde já foram registrados cinco milhões de casos.
Nos Estados Unidos, país mais atingido, com 211.000 mortes e 7,5 milhões de infecções, o presidente Donald Trump voltou ao Salão Oval da Casa Branca na quarta-feira (7), seis dias após testar positivo para a covid-19 e ignorando as advertências de vários especialistas sobre os riscos de contágio.
O triunfalismo de Trump vai de encontro à cautela que se respira na Europa, onde os seis milhões de casos de coronavírus foram ultrapassados.
Na Alemanha, foram registrados mais de 4.000 novos casos nas últimas 24 horas, números idênticos aos do início de abril.
"Os números mostram um aumento preocupante, especialmente hoje", disse o ministro da Saúde, Jens Spahn, nesta quinta-feira.
O responsável pediu que não "estraguem" as conquistas alcançadas até agora pela Alemanha na luta contra a pandemia, que a tornou um dos países da Europa proporcionalmente menos afetados pelo vírus.
"É possível que tenhamos mais de 10.000 casos por dia. É possível que o vírus se espalhe de forma incontrolável", alertou o presidente do Instituto de Vigilância Epidemiológica Robert Koch (RKI), Lothar Wieler.
Segundo dados oficiais, a Alemanha registra 310.144 casos e 9.578 óbitos, número bem inferior ao de países europeus com população semelhante.
A situação em Berlim é especialmente preocupante. Nos últimos sete dias, foram registrados 50 casos de infecção por 100.000 habitantes. Este número implica a entrada em vigor de novas restrições para reuniões e horários de funcionamento de restaurantes, bares e lojas.
- Justiça rejeita confinamento parcial de Madri -
Os números de Berlim, alarmantes para seus dirigentes, parecem insignificantes se comparados aos de Madri, onde há cerca de 700 casos por 100 mil habitantes, ante 300 casos por 100 mil no restante do país.
Nesta quinta-feira, a Justiça rejeitou a decisão de confinar uma parte dos habitantes da região da capital espanhola, por considerar que afeta "direitos e liberdades fundamentais".
Desde a noite de sexta-feira passada, 4,5 milhões de pessoas em Madri e parte de sua periferia podem deixar seu município apenas para trabalhar, estudar, ir ao médico, ou cuidar de pessoas dependentes.
A decisão foi tomada pelo governo central, de esquerda, após uma intensa disputa com os líderes conservadores da comunidade madrilena, que se opuseram a essas restrições, principalmente, por suas consequências econômicas e apresentaram este recurso judicial.
Na França, onde na quarta-feira foram registrados quase 19.000 novas infecções, o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou que "mais restrições" terão de ser impostas nas áreas afetadas, devido à progressão do vírus.
Em Bruxelas, onde a situação é "complexa e tensa", segundo as autoridades, bares e restaurantes foram fechados.
- "Me sinto excelente" -
Em todo mundo, a pandemia causou mais de um milhão de mortes e quase 36 milhões de infecções desde dezembro passado.
Na quarta-feira (7), em um vídeo postado no Twitter, um eufórico Trump disse que se sentia "perfeitamente bem" e chamou seu contágio de "uma bênção de Deus".
O presidente atribuiu sua melhora à terapia experimental de anticorpos sintéticos usada em sua recuperação. E prometeu, sem entrar em detalhes, que esse tratamento estará disponível "gratuitamente" e em breve.
Em plena campanha para a eleição presidencial de 3 de novembro, seu rival democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, não escondeu sua indignação: "Acho uma tragédia que o presidente fale da covid como se fosse algo com que ele não deveria se preocupar quando mais de 210.000 americanos morreram".
O número de infecções na Casa Branca continua a aumentar e a sede da Presidência se tornou um verdadeiro foco após os testes positivos de conselheiros, funcionários e jornalistas.
- Mais pobres -
De acordo com o Banco Mundial, este ano pode acabar com 115 milhões de novos pobres em todo mundo, devido à pandemia.
Em mais de 20 anos, esta é a primeira vez que a taxa global de pobreza extrema, definida como aqueles que vivem com menos de US$ 1,9 por dia, aumenta.
Na América Latina, onde vivem mais de 650 milhões de pessoas, a taxa de pobreza extrema passaria de 3,9%, em 2017, para 4,4%, no final deste ano, o que significa um total de 28,6 milhões de pessoas.
Somente em 2020, a crise teria mergulhado 4,7 milhões de latino-americanos na pobreza extrema. No Brasil, um dos países do mundo mais afetados pela covid-19, já são mais de cinco milhões de infecções. Este número é superado apenas pelos Estados Unidos e pela Índia. Além disso, o número de mortes se aproxima de 150.000.
Ainda na região, a Argentina registrou um recorde de 16.447 infecções em 24 horas na quarta-feira, totalizando 840.902 casos.
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