Separatistas

Armênia e Azerbaijão seguem em combates e sem vontade de negociar

Os países desafiaram apelos internacionais, feitos nesta quarta-feira (30/9), por um cessar-fogo em Karabakh, uma região de etnia armênia que se separou do Azerbaijão na década de 1990

A Armênia considerou nesta quarta-feira (30/9) que é prematuro pensar em negociar com o Azerbaijão com mediação da Rússia, no quarto dia de confrontos em Nagorno Karabakh - um enclave separatista armênio em território azerbaijano apoiado por Yerevan.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pachinian, fechou a porta para negociações imediatas, poucas horas depois da votação unânime do Conselho de Segurança da ONU por uma declaração que pede o "fim imediato dos hostilidades e a retomada de negociações construtivas".

"Não é apropriado falar de uma reunião de cúpula Armênia-Azerbaijão-Rússia, no momento em que acontecem intensos combates", disse ele à imprensa russa, de acordo com a agência estatal Interfax.

"Para que aconteçam negociações, precisamos de uma atmosfera e de condições adequadas".

Potência regional do Cáucaso do Sul, a Rússia mantém relações cordiais com Armênia e Azerbaijão, ex-repúblicas soviéticas. Yerevan integra uma aliança militar liderada por Moscou, que fornece armas para os dois lados.

O Kremlin, que pede o cessar imediato dos combates, os mais graves desde 2016, afirmou que está disposto a atuar como mediador, em uma região instável que pode ser muito afetada por uma eventual guerra aberta entre Baky e Yerevan.

Rússia, França e Estados Unidos são os três mediadores do conflito dentro do chamado Grupo de Minsk. Desde 1992, busca-se, sem sucesso, uma solução duradoura para Nagorno Karabakh, território que se autoproclamou independente do Azerbaijão com o apoio da Armênia. Uma guerra no início dos anos 1990 provocou 30.000 mortes.

De acordo com os balanços oficiais, provavelmente parciais, os confrontos que explodiram no domingo deixaram 98 mortos: 81 combatentes separatistas e 17 civis dos dois lados.

O Azerbaijão não anunciou nenhuma baixa militar, e os dois lados trocam acusações sobre o início das hostilidades.

O número de mortos pode ser muito maior. O Ministério azerbaijano da Defesa afirmou que os combates prosseguem e citou a morte de 2.300 separatistas armênios desde o fim de semana.

O porta-voz do Ministério armênio da Defesa, Artsroun Hovhannisian, relatou que 790 soldados do outro lado morreram, e 1.900 ficaram feridos.

As partes envolvidas também anunciaram a destruição de tanques, drones e outros materiais, mas os dados não foram confirmados por fontes independentes.

A retórica de guerra alimenta o fervor patriótico nos dois países. Ambos os territórios decretaram lei marcial, e muitos voluntários se apresentaram para os combates.

O Azerbaijão afirma que reconquistou territórios e impede as linhas de abastecimento armênias. Nagorno Karabakh alega que retomou posições.

A Armênia afirmou na terça-feira que um caça turco de apoio ao Azerbaijão derrubou um de seus aviões militares. Ancara e Baku desmentiram a acusação.

Uma intervenção militar direta da Turquia representaria uma guinada importante e a internacionalização do conflito.

O governo turco foi o único que não pediu um cessar-fogo. Pelo contrário, estimulou o aliado Azerbaijão a retomar o controle de Karabakh à força e a humilhar a Armênia, seu inimigo histórico.

Já o Kremlin pediu a Ancara que "não jogue lenha na fogueira".