A Armênia afirmou nesta terça-feira (29) que um caça-bombardeiro turco derrubou um de seus aviões militares, o que foi imediatamente desmentido pela Turquia e pelo Azerbaijão, no terceiro dia de violentos combates na região separatista de Nagorno Karabakh.
Desde domingo, as forças do enclave separatista de Nagorno Karabakh, apoiado política, militar e economicamente pela Armênia, e as do Azerbaijão, que é apoiado por Ancara, travam os confrontos mais mortais desde 2016.
Uma intervenção militar direta da Turquia representaria uma reviravolta importante, após confrontos que causaram quase uma centena de mortos e que continuam, apesar dos apelos por calma da comunidade internacional.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá com urgência esta noite para tentar evitar uma guerra aberta entre Armênia e Azerbaijão, que pode desestabilizar a região do Cáucaso Meridional e envolver Rússia e Turquia, potências regionais.
A Armênia declarou nesta terça-feira que havia perdido um caça SU-25 e seu piloto, abatidos por um F-16 turco.
O avião turco "decolou de um aeroporto na cidade azerbaijana de Ganja e apoiou a aviação azerbaijana e os drones que bombardeavam vilas civis em Vardenis, Mets Masrik e Sotk na Armênia", disse um porta-voz do Exército armênio.
O diretor de comunicação da presidência turca, Fahrettin Altun, qualificou essa acusação de "completamente falsa" e pediu que Erevan se retirasse dos "territórios ocupados".
"Esta informação é mais uma mentira da propaganda armênia", acrescentou o porta-voz do Ministério da Defesa do Azerbaijão, Vagif Dyargahly. Após três dias de combates em Nagorno Karabakh, o Kremlin pediu à Turquia que se abstenha de "adicionar lenha ao fogo" e trabalhe pela paz na região.
No dia anterior, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, havia prometido que Ancara permaneceria "ao lado" de Baku "por todos os meios". Vladimir Putin conversou por telefone na terça-feira com o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, a pedido deste último, observando "a necessidade urgente de um cessar-fogo" e "desarmando a crise".
Uma centena de mortos
O número oficial de mortos no conflito subiu para 97 mortos nesta terça-feira, incluindo 80 soldados separatistas, que revisaram sua contagem em baixa, e 17 civis: 11 no Azerbaijão e cinco no lado armênio. Ambos os lados afirmam terem matado centenas de militares inimigos.
"Há uma guerra, há muita destruição, vítimas, um grande número de militares envolvidos", disse Niko Pashinyan em uma entrevista à estação de televisão russa Rossiya 1.
"Nós percebemos isso como uma ameaça existencial ao nosso povo", acrescentou. "Não há uma única prova da participação da Turquia no conflito", insistiu o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse que Ancara fornecia apenas "apoio moral" a Baku.
O Azerbaijão "restaurará sua integridade territorial", ele havia declarado horas antes. O ministro da Defesa da Armênia informou nesta terça-feira que separatistas destruíram 49 drones, seis helicópteros, 80 tanques, um avião militar e 82 veículos militares azerbaijanos desde domingo.
As autoridades de Nagorno Karabakh afirmam ter recuperado posições perdidas no dia anterior, o que o Azerbaijão nega, apontando que fizeram mais progressos e destruíram "uma coluna motorizada armênia".
O Azerbaijão, país de língua turca com maioria xiita, exige o retorno sob seu controle de Nagorno Karabakh, uma província montanhosa habitada principalmente por armênios cristãos, cuja secessão em 1991 não foi reconhecida pela comunidade internacional.
Após semanas de retórica de guerra, Baku anunciou no domingo que havia lançado uma grande "contraofensiva" em resposta a uma "agressão" armênia, usando artilharia, tanques e aeronaves em ataques contra a província, que não controlava desde a queda da União Soviética e uma guerra que custou 30.000 vidas.
Esses novos combates despertaram um impulso patriótico nessas ex-repúblicas soviéticas. Shaddin Rustamov, um recruta azerbaijano de 25 anos, disse à AFP que está orgulhoso de servir a seu país. A reconquista de Nagorno Karabakh é "algo que esperamos há 25 anos e espero que este seja o último ano", acrescentou, antes de continuar o treinamento militar em Baku.
Cessar-fogo urgente
Rússia, França e Estados Unidos - os três mediadores do conflito dentro do chamado Grupo de Minsk - pediram sem sucesso um cessar-fogo e negociações. Na terça-feira, a chanceler alemã Angela Merkel disse que "um cessar-fogo imediato e um retorno à mesa de negociações são urgentes".
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, também pediu "para parar a violência" e "retomar as negociações o mais rápido possível". A Rússia mantém boas relações com os dois beligerantes e quer ser o árbitro regional. No entanto, permanece mais perto da Armênia, que pertence a uma aliança militar dominada por Moscou.
Todos os esforços de mediação durante quase 30 anos não conseguiram resolver este conflito e Nagorno Karabakh é regularmente abalado por surtos de violência. Ambos os Estados declararam lei marcial no domingo e a Armênia declarou mobilização geral.