Duas pessoas foram gravemente feridas em um ataque em Paris nesta sexta-feira (25), perto da antiga sede da semanário satírico Charlie Hebdo, em meio ao julgamento dos supostos cúmplices dos atentados terroristas de janeiro de 2015. Na ocasião, a redação da revista foi dizimada por publicar charges do profeta islâmico Maomé.
Dois suspeitos foram presos logo após os eventos. O primeiro, de 18 anos e considerado o principal autor da ação, foi detido próximo ao local do atentado, afirmou Jean-François Ricard, chefe da procuradoria antiterrorismo, encarregada da investigação. De acordo com as primeiras informações, ele nasceu no Paquistão.
O segundo suspeito tem 33 anos e a polícia está verificando suas ligações com o autor do crime. Mais tarde, outros cinco homens foram detidos durante várias buscas em Pantin, nos arredores de Paris, informaram fontes judiciais.
O ataque aconteceu "em um lugar simbólico ao mesmo tempo em que está ocorrendo o julgamento dos cúmplices dos autores de atos indignos contra o Charlie Hebdo", ressaltou o primeiro-ministro francês, Jean Castex. Trata-se "manifestamente de um ato de terrorismo islâmico", acrescentou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
Os dois feridos, ambos funcionários de uma produtora audiovisual vizinha, estão hospitalizados, mas não correm risco de morte, acrescentou Castex, que foi imediatamente ao local do atentado.
Armado com um facão
O ataque ocorreu pouco antes do meio-dia. Um homem, armado com um facão, feriu duas pessoas, um homem e uma mulher, na rua Nicolas Appert, a mesma rua onde ficava a redação do Charlie Hebdo há cinco anos.
Desde o atentado de 7 de janeiro de 2015, no qual 12 pessoas foram mortas pelos irmãos jihadistas Chérif e Said Kouachi,incluindo alguns dos cartunistas mais famosos da França, a equipe da revista mudou-se para um endereço mantido em segredo.
"Dois colegas estavam fumando em um cigarro lá embaixo do prédio, na rua. Ouvi gritos. Fui até a janela e vi um dos meus colegas, manchado de sangue, ser perseguido por um homem com um facão", disse à AFP um funcionário da produtora Premières Lignes, que pediu anonimato.
A polícia montou um impressionante perímetro de segurança no bairro, localizado no coração de Paris. A princípio, houve desconfianças sobre a presença de um dispositivo explosivo, após a detecção de um pacote suspeito, mas essa pista foi descartada.
Por precaução, a prefeitura de Paris ordenou o fechamento das portas das escolas do bairro e milhares de crianças permaneceram confinadas por horas.
"É tão trágico ver de novo as imagens de um ataque na [rua] Nicolas Appert, cinco anos e meio depois de Charlie. Esta violência é um perigo para todos nós, na França e no resto do mundo", reagiu Christophe Deloire, secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, no Twitter.
Ameaça da Al-Qaeda
O ataque coincide com o julgamento do atentado contra a Charlie Hebdo, iniciado no começo de setembro, no qual 14 pessoas estão sendo julgadas por um tribunal especial de Paris pelo suposto apoio aos executores do atentado, que morreram logo em seguida.
A publicação satírica expressou seu apoio às vítimas. "Toda a equipe do Charlie oferece seu apoio a seus ex-vizinhos e colegas (...) e as pessoas feridas neste ataque hediondo", disse a revista em uma mensagem postada no Twitter.
Há poucos dias, o grupo jihadista Al-Qaeda ameaçou o semanário francês com outro massacre após a republicação das charges do profeta Maomé.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou no Twitter sua "plena solidariedade com o povo francês", assim como o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, diante deste "vil ataque".
Enquanto isso, nesta sexta-feira, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, pediu na Assembleia Geral da ONU ajuda para combater a islamofobia e criticou a revista Charlie Hebdo. O discurso, porém, foi gravado há vários dias, aparentemente sem relações com o atentado em Paris.
Segundo Khan, o nacionalismo crescente no mundo "acentuou a islamofobia" e "os muçulmanos continuam a ser perseguidos impunemente em muitos países". "Incidentes na Europa como a decisão do Charlie Hebdo de republicar ilustrações blasfemas são um exemplo recente", disse.