Um dos setores mais afetados durante a pandemia do novo coronavírus foi o de turismo. Companhias aéreas em todo o mundo somam perdas bilionárias com o fechamento de fronteiras e o cancelamento de viagens. No primeiro semestre do ano, as perdas chegaram aos US$ 460 bilhões ao turismo mundial. Várias companhias estão pedindo acordos para não decretarem falência e muitas outras foram obrigadas a parar de oferecer serviços em diferentes aeroportos do mundo.
Pensando em novas formas de turismo e nos turistas que estão reclamando da falta que sentem de viajar, na região Ásia-Pacífico, companhias aéreas aproveitaram a situação e criaram os "voos para lugar nenhum". Milhares de pessoas em Brunei, Taiwan, Japão e Austrália começaram a reservar passagens para voos que começam e terminam no mesmo lugar. O sucesso da proposta foi tão grande que algumas viagens se esgotaram em 10 minutos!
Voo temático
Para celebrar o dia dos pais em Taiwan, a companhia aérea EVA Airways operou um voo especial em um de seus populares jatos com tema da personagem Hello Kitty.
O voo decolou do aeroporto na capital de Taiwan, Taipei, depois sobrevoou várias atrações, incluindo a Ilha Guishan, na costa leste, bem como as Ilhas Ryukyu no Japão, antes de retornar ao mesmo aeroporto. Segundo a EVAair, durante a viagem, o capitão fez um trajeto de "voo no formato de coração ao redor de Parpa, para abençoar todos os pais do mundo".
No serviço de bordo, bandejas temáticas com a Hello Kitty foram oferecidas aos clientes, além de receberem um desconto de 30% na compra de produtos no duty-free.
Como parte da homenagem até a identificação do voo foi mudada para BR5288 que, pronunciado em mandarim, soa similar a "eu te amo, papai".
Voo panorâmico na Austrália
A empresa australiana Qantas Airways anunciou na última quinta-feira um voo panorâmico especial para os australianos que sentem falta de voar. O voo QF787 parte do Aeroporto Doméstico de Sydney no sábado, 10 de outubro de 2020. "Para aqueles que estão perdendo a emoção da viagem ou estão ansiosos para acenar para amigos e familiares interestaduais, estamos oferecendo um voo panorâmico da 'Grande Terra do Sul' usando nossa aeronave Dreamliner B787 de última geração, normalmente reservada para viagens internacionais de longa distância voos, com as maiores janelas em qualquer aeronave de passageiros,” informou o comunicado da empresa.
O anúncio fez tanto sucesso que as passagens se esgotaram em 10 minutos. Mais de 18 mil pessoas curtiram a postagem com as informações da iniciativa e muitas pessoas reclamaram nos comentários que não conseguiam realizar a compra.
O voo panorâmico de sete horas incluirá trajetos com altitudes mais baixas que as normalmente adotadas em aeronaves deste porte para famosos destinos australianos, como "Queensland, Território do Norte e Nova Gales do Sul, incluindo a Grande Barreira de Corais, Uluru, Kata Tjuta, Byron Bay e o icônico Porto de Sydney".
O avião nem precisa decolar
No Japão, a companhia aérea First Airlines lançou em junho a experiência virtual de voo com a opção de sentar-se em uma estrutura similar a uma cabine de avião, com assentos de classe executiva e serviço de bordo (bebidas e refeições tipicamente servidas nos voos da companhia), enquanto telas projetam em realidade virtual nuvens e paisagens aéreas do lado de fora da aeronave.
Segundo a descrição do evento no Facebook, "FA Lounge" é um serviço on-line que permite reviver uma viagem extraordinária com apenas um smartphone, baseado no conceito de "viver um novo mundo onde quer que esteja". Antes de desembarcar, o passageiro também pode fazer um tour virtual pelo destino escolhido (Paris, Roma ou Nova York, por exemplo) que inclui até guia turístico.
Antártica sem passaporte
A companhia de turismo Antartica Flights, em parceria com a aérea Qantas Airways, voltou a oferecer viagens para a Antártica, o segundo menor continente do mundo, partindo de cinco lugares diferentes da Austrália: Adelaide, Brisbane, Melborne, Perth e Sydney. Como o voo não pousa no continente coberto por geleiras, não é necessário que australianos tenham passaporte para realizar a viagem.
Segundo a companhia, eles oferecem vôos do tipo desde 1994 e já realizaram mais de 150 viagens. No entanto, pela primeira vez irão usar o avião modelo 787 Dreamland da Qantas Airlines. Até esta quinta-feira (24/9), o último voo deste ano ainda tinha sete lugares livres. Algumas partidas para o ano que vem já estão esgotadas.
São seis pacotes diferentes e os valores variam entre 1.199 dólares australianos na classe econômica, sem direito a sentar na janela mas podendo se levantar da cadeira, a 7.999 dólares australianos na classe executiva Deluxe. Durante a viagem, será feita uma rotação de assentos para que todos possam aproveitar melhor a experiência.
"A duração média do voo é de 12 horas (dependendo do seu ponto de partida). Após cerca de três horas de voo, geralmente vemos o primeiro gelo marinho e icebergs. Passamos aproximadamente quatro horas na Antártica e as quatro horas restantes viajando para casa", descreve o anúncio.
Serviço de bordo
A Thai Airways abriu no início deste mês um restaurante temporário com mobiliário de aviões e garçonetes vestidas de aeromoças. Como o restaurante fica no segundo andar da sede da Thai Airways, é possível entrar por escadas semelhantes às utilizadas para entrar em aviões. A ideia é que as pessoas possam desfrutar de parte da comida e das bebidas oferecidas em um avião sem realmente voar.
Também interessados em oferecer a experiência gastronômica nos ares, a Royal Brunei Airlines montou o pacote Dine & Fly. Desde meados de agosto já ocorreram cinco viagens do tipo "jantar e voar" servindo culinária local aos passageiros durante os voos sobre o país. Nas redes sociais da companhia é possível acompanhar como funciona a experiência.
Experiência em Brasília
No ano passado, um protótipo de avião foi montado no estacionamento da Igreja Batista Central de Brasília, na 603 Sul, por seu presidente Ricardo Espíndola. Batizado de Pan Am Experience Brasil, agora o projeto é transformar um avião de verdade em restaurante e seu progresso pode ser acompanhado no Instagram.
A moradora de Sobradinho Marcella Carlos, 28 anos, participou da experiência com sua família no ano passado e adorou. "Apesar de não termos decolado foi uma experiência muito legal e muito real! No nosso avião tinha o som simulando a decolagem, o serviço de bordo e até o ar-condicionado que faziam você realmente se sentia na experiência de um avião porque até as poltronas foram cedidas por empresas aéreas. Foi uma experiência de primeira classe que eu nunca tive. Agora com a pandemia o serviço está fechado aqui mas eu recomendo pra todo mundo", explica.
Dióxido de carbono
Nos comentários das redes sociais de propaganda das viagens, pessoas acusam as companhias aéreas de contribuir sem necessidade com emissões de dióxido de carbono e outras substâncias que contribuem com as mudanças climáticas.
Apesar do sucesso inicial e de algumas empresas afirmarem que os voos têm compromisso com planos de sustentabilidade, as experiências de turismo alternativo têm recebido críticas intensas tanto por grupos de ambientalistas quanto pelo público.
*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca