Londres

Brexit brutal causaria caos e mais perdas que pandemia, diz governo

As negociações entre britânicos e europeus em busca de um grande acordo de livre-comércio para reger suas relações pós-Brexit estão paralisadas há meses

Longas filas de caminhões se formarão na fronteira para cruzar o Canal da Mancha em janeiro, se Reino Unido e União Europeia não concluírem um acordo de livre-comércio pós-Brexit - alertou o governo britânico nesta quarta-feira (23/9).

"Esta não é uma predição, ou uma previsão", mas um "exercício prudente para estabelecer o que pode acontecer no pior dos cenários", explicou o ministro do Gabinete, Michael Gove, ao Parlamento.

Na véspera, o instituto de pesquisa independente The UK in a Changing Europe já havia alertado que uma saída brutal da UE no final do ano, quando o período de transição termina, poderia custar à economia britânica quase três vezes mais, no longo prazo, do que a pandemia de coronavírus.

O centro de pesquisa, que trabalhou em parceria com a London School of Economics (LSE), estima que, na ausência de um acordo, o Produto Interno Bruto (PIB) britânico perderia 5,7% em 15 anos em relação ao nível atual, contra 2,1% devido à pandemia de covid-19.

O cenário apontado por Gove se baseia, por sua vez, na estimativa de que apenas "entre 50% e 70% das grandes empresas e apenas entre 20% e 40% das pequenas e médias empresas estariam preparadas para a aplicação estrita dos novos requisitos europeus".

Assim, apenas "30% a 60%" dos caminhões chegariam à fronteira, depois de cumpridas as formalidades necessárias para suas mercadorias, explicou o ministro.

"Portanto, as autoridades francesas iriam enviá-los de volta para a fronteira, bloqueando a passagem", acrescentou, referindo-se a uma possível fila de "7.000 caminhões", ou seja, um atraso de dois dias, segundo documento publicado pelo governo.

As negociações entre britânicos e europeus em busca de um grande acordo de livre-comércio para reger suas relações pós-Brexit estão paralisadas há meses.

E, agora, enfrentam a nova ameaça representada pelo projeto do primeiro-ministro Boris Johnson de modificar alguns dispositivos do acordo de divórcio - um tratado internacional em vigor desde que o Brexit foi efetivado em 31 de janeiro. A proposta está enfurecendo seus ex-parceiros.