Trinta e dois dias depois de ter sido internado em Berlim em coma induzido e em estado grave por um possível envenenamento, o líder opositor russo Alexei Navalny recebeu alta do hospital na terça-feira (22/9) e pode começar a planejar o retorno a seu país.
"O estado de saúde do paciente melhorou tanto que a terapia intensiva foi interrompida", afirma um comunicado divulgado pelo Hospital Charité de Berlim.
"Observando a evolução do tratamento até agora e do estado atual do paciente, os médicos consideram que é possível um restabelecimento completo", completa a nota do hospital de Berlim.
Após o anúncio de alta médica, o Kremlin afirmou que o opositor era "livre" para retornar à Rússia.
"Com relação ao seu retorno a Moscou, como qualquer outro cidadão russo, ele está livre para fazê-lo a qualquer momento", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, de acordo com agências de notícias russas.
O principal opositor ao Kremlin, de 44 anos, divulgou nos últimos dias várias fotografias. Nesta quarta-feira ele publicou uma imagem no Instagram em que aparece sentado em um banco, bem mais magro.
Em outra mensagem, ele anunciou que deve passar por uma longa recuperação antes de retomar uma vida normal. Afirmou que precisa fazer muitos exercícios para "aguentar em uma perna. Recuperar o controle total dos meus dedos. Manter o equilíbrio".
"Alexei Navalny ficará no momento na Alemanha, o tratamento ainda não acabou", afirmou em um vídeo postado no Twitter sua porta-voz, Kira Iarmych.
No comunicado, os médicos explicam que não é possível saber com certeza as sequelas que Navalny terá a "longo prazo", devido ao provável envenenamento.
"Meu plano ousado era morrer"
As relações entre a Rússia e os países ocidentais, especialmente com a Alemanha, foram afetadas pela questão Navalny. Moscou recebeu exigências de explicações sobre o ocorrido e autoridades europeias mencionaram a possibilidade de considerar "todo tipo de sanções", em caso contrário.
O opositor passou mal durante um voo entre a Sibéria e Moscou, em 20 de agosto. Após um pouso de emergência, Navalny foi internado em um hospital russo antes de ser levado para a Alemanha, por desejo de sua família.
Vários laboratórios especializados na Alemanha, na França e na Suécia determinaram que Navalny foi vítima de um envenenamento com uma substância neurotóxica do tipo Novichok, desenvolvida durante a época soviética para fins militares, o que as autoridades Moscou negam.
A equipe de Navalny afirma que foram encontrados vestígios de Novichok em uma garrafa retirada de seu quarto de hotel na Sibéria, onde estava para participar da campanha de apoio aos candidatos de oposição nas eleições locais.
Há algumas semanas, durante uma conversa com o colega francês Emmanuel Macron, o presidente russo, Vladimir Putin, descreveu o líder opositor com desprezo, informou o jornal "Le Monde".
Putin afirmou que Navalny já havia inventado problemas de saúde no passado e cometeu atos ilegais. Ele também justificou a ausência de uma investigação oficial na Rússia sobre o ocorrido, porque as autoridades de Berlim e Paris não enviaram a Moscou as análises efetuadas em seus laboratórios.
O chefe de Estado russo também mencionou outras possíveis pistas, como a participação da Letônia, país onde reside o inventor do Novichok, e sugeriu, inclusive, que Navalny poderia ter ingerido o veneno por conta própria por uma razão desconhecida.
O líder opositor, que denuncia há vários anos a suposta corrupção das elites russas, comentou as acusações de Putin em sua conta na rede social Instagram.
"Cozinhei o Novichok na cozinha, ingeri e entrei em coma. Meu plano ousado era morrer em um hospital de Omsk (Sibéria), onde no necrotério a necropsia teria concluído: 'Causa da morte: já viveu bastante' (...) Mas não consegui o que queria, minha provocação falhou", ironizou.
Na segunda-feira, Navalny reiterou que o Novichok foi detectado em seu organismo e sobre seu corpo. Ele pediu a Moscou que devolvesse as roupas que usava no dia do envenenamento, porque representam uma "prova vital".