Cerca de 300 mil alunos abandonaram o sistema educacional no Peru este ano devido à necessidade de trabalhar ou às dificuldades de acesso a aulas virtuais em meio à pandemia do coronavírus. O número é uma estimativa do Ministério da Educação e equivale a 15% das matrículas no país.
"A educação não tem sido uma prioridade na pandemia. O alto índice de evasão é um sinal de um sistema educacional precário", disse à AFP o analista Luis Benavente, diretor da consultoria Vox Pópuli. "Nenhum esforço foi feito para melhorar a educação e a saúde durante este governo ou nos anteriores", acrescentou.
O Peru é um dos países mais atingidos pela pandemia, com 772 mil infecções e 31 mil mortes. O governo tem concentrado seus esforços na contenção do vírus e na reativação da economia. Uma das primeiras medidas foi suspender as aulas presenciais, em 12 de março, uma semana após a detecção do primeiro caso de covid-19 em território peruano.
Com o país em confinamento, em abril, o ensino a distância começou a ser implementado em escolas públicas, privadas e universidades. São mais de 2 milhões de crianças em idade escolar e 800 mil estudantes universitários, segundo dados oficiais.
No mesmo mês, foi lançado o programa "Aprendo em casa", com a transmissão de aulas pela televisão, rádio e internet. O Ministério da Educação também distribuiu 719 mil tablets com acesso à internet para alunos do campo e 124 mil para alunos da cidade acompanharem as aulas.
No entanto, as medidas esbarraram em uma dura realidade: a alta informalidade do trabalho (70%) levou milhares de peruanos a desafiarem o isolamento para ganhar a vida. Além disso, a pobreza em que vive um quinto da população privou milhares de alunos do acesso a computadores e à internet. A própria geografia do Peru prejudica o contato de muitos estudantes.
"O fator que levou ao alto índice de evasão é o econômico", explicou o diretor regional de Educação, Mario Benavente, à rádio RPP. "Muitos, por falta de trabalho para os pais, têm que se mudar para o campo; muitos vão trabalhar nas minas", afirmou.
Um terço dos 33 milhões de peruanos segue em quarentena. O governo descartou a retomada das aulas presenciais este ano, mas o ministro anunciou que nas férias de verão haverá um programa de nivelamento para os alunos que estão atrasados ou abandonaram a escola.