ELEIÇÕES NOS EUA

Microsoft revela ciberataques

Quatro anos depois das denúncias de interferência na corrida à Casa Branca, gigante da tecnologia alerta sobre ofensiva contra pessoas e organizações ligadas a Donald Trump e a Joe Biden. Ações partiram da Rússia, da China e do Irã

A menos de dois meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, a Microsoft advertiu, ontem, que o processo está sob risco de interferência externa. Depois das denúncias de espionagem russa em 2016, agora, a gigante da tecnologia informou ter detectado e impedido, nas últimas semanas, ataques cibernéticos da Rússia, da China e do Irã contra pessoas e organizações ligadas às campanhas do presidente Donald Trump e do seu adversário, o democrata Joe Biden.

A Microsoft ressaltou ter detectado 200 ataques ligados a grupos de hackers russos contra equipes de campanha e consultores políticos. As tentativas fracassadas da China, segundo a companhia, foram diretamente contra figuras políticas, como Biden, e uma pessoa “anteriormente associada” ao governo Trump.

A ofensiva foi revelada em um comunicado assinado por Tom Burt, vice-presidente de segurança de clientes da Microsoft. A ação iraniana, por exemplo, teve como alvo pessoas ligadas ao governo federal, com tentativas de acesso a contas de e-mails.

De acordo com ele, investidas da China e do Irã foram bloqueadas, mas não houve essa assertividade em relação às tentativas da Rússia. As ações também focaram alguns partidos do Reino Unido, diz o comunicado.

“O que detectamos lembra tipos de ataques precedentes, que não só têm como alvo os candidatos e funcionários das campanhas, mas, também, pessoas que são consultadas pelos partidos para problemas importantes”, explicou Burt, sem citar especificamente a corrida presidencial americana de 2016.

“As atividades que estamos relatando deixam claro que grupos estrangeiros intensificaram sua ofensiva visando as eleições de 2020, como havia sido previsto”, destacou Tom Burt.

De acordo com o comunicado, as ofensivas partiram de três grupos. Operando a partir da Rússia, o Strontium, contabilizou a Microsoft, teve mais de 200 alvos. Essa organização atuou fortemente contra a campanha da democrata Hillary Clinton, segundo o procurador Robert Mueller, responsável pelas investigações da ação russa nas eleições presidenciais de quatro anos atrás.

O segundo grupo, apontou a gigante da tecnologia, foi o Zirconium, baseado na China, que mirou na campanha de Biden e em relevantes nomes da comunidade internacional. Foram milhares de ataques desde março, dos quais a maioria fracassada — cerca de 150 teriam surtido efeito.

Por último, foram relatadas ações frustradas do Phosphorus, do Irã, para acessar contas pessoais de integrantes do governo e da campanha de Trump.

Sanções

Ontem, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou sanções a Andrii Derkach por interferência eleitoral. O político ucraniano divulgou gravações editadas em maio, alegando implicar o democrata Joe Biden em atos de corrupção.

Segundo o órgão, Derkach “tem sido um agente russo ativo por mais de uma década” e é “cúmplice em tentar influenciar a próxima eleição presidencial”.

Chip Somodevilla/AFP - O presidente republicano (E) e o adversário democrata em campanha: hackers russos realizaram 200 tentativas de acessos
Brendan Smialowski/AFP - v

Presidente critica jornalista


Com uma avalanche de mensagens e de declarações à rede Fox News, Donald Trump procurou, ontem, enterrar a polêmica que surgiu das declarações dadas ao jornalista Bob Woodward. A estratégia do magnata republicano foi desclassificar o autor de Rage, o livro explosivo sobre o presidente americano.

A publicação, que estará à venda a partir da próxima terça-feira, ganhou enorme repercussão pelos comentários feitos por Trump a respeito da pandemia do novo coronavírus, tema central das eleições presidenciais de 3 de novembro. O chefe da Casa Branca admitiu, nas entrevistas, a gravidade da situação.

“Bob Woodward teve minhas declarações por vários meses”, tuitou Trump sobre o jornalista, famoso por ter revelado o escândalo Watergate na década de 1970 com Carl Bernstein. “Se ele pensou que elas eram tão ruins, ou perigosas, por que não relatou imediatamente, em um esforço para salvar vidas? Não tinha a obrigação de fazer isso? NÃO, porque sabia que eram respostas boas e adequadas”, acrescentou.

Trump deu a Woodward 18 entrevistas entre dezembro de 2019 e julho de 2020, por telefone e presencialmente. “Sempre quis minimizar (o perigo)”, disse, em 19 de março. No entanto, semanas antes, em 7 de fevereiro, ele explicou ao jornalista como o novo coronavírus era “uma coisa mortal”. Trump tem sido duramente criticado pela gestão da epidemia, que matou mais de 190 mil pessoas nos EUA.