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Casa Branca quis restringir informações sobre interferência russa nas eleições

De acordo com agências de inteligência dos EUA, a Rússia interferiu nas eleições de 2016 em benefício do republicano Donald Trump

Washington, Estados Unidos - Um alto funcionário da inteligência dos EUA informou ter recebido ordens da Casa Branca para parar de relatar sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de novembro e, em vez disso, destacar a intromissão da China e do Irã, de acordo com uma denúncia dele divulgada nesta quarta-feira (9).

Brian Murphy, funcionário do alto escalão do escritório de Inteligência e Análise do Departamento de Segurança Interna (DHS), relatou que, em maio passado, recebeu ordens do chefe interino do departamento, Chad Wolf, para deixar de fornecer análises de inteligência sobre a ameaça de interferência russa nos Estados Unidos.

Murphy assinalou em sua denúncia que Wolf lhe disse que a ordem partiu do assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, Robert O'Brien.

A queixa foi feita por Murphy na condição de "informante", que permite a um funcionário normalmente sujeito à confidencialidade divulgar uma conduta claramente ilegal.

O autor da denúncia alegou que, sendo responsável por assuntos de inteligência e análise no DHS, foi rebaixado a uma posição menos importante em agosto, devido à sua recusa em ceder à pressão de superiores. No entanto, o DHS "negou enfaticamente" as alegações de Murphy, de acordo com o porta-voz Alexei Woltornist, que enfatizou que Wolf está "focado em prevenir a interferência eleitoral de qualquer potência estrangeira e ataques de qualquer grupo extremista".

"O DHS aguarda com interesse os resultados de qualquer investigação, e esperamos que se conclua que nenhuma ação retaliatória foi tomada contra Murphy", acrescentou Woltornist.

De acordo com agências de inteligência dos EUA, a Rússia interferiu nas eleições de 2016 em benefício do republicano Donald Trump, cuja equipe de campanha foi acusada de conluio com Moscou. Após uma longa investigação que afetou a primeira metade do mandato do magnata, o então procurador especial Robert Mueller explicou que não havia encontrado "evidências suficientes" de um acordo entre a Rússia e a equipe de Trump, mas descreveu uma série de pressões preocupantes sobre sua investigação.

Para as agências de inteligência dos EUA, existe o risco de a Rússia interferir novamente nas eleições. O governo Trump, crítico ferrenho do Irã e imerso em um conflito diplomático, econômico e tecnológico com a China, foi apontado por seus detratores por falta de firmeza contra o governo de Vladimir Putin.

Supremacia branca

Segundo a denúncia apresentada nesta quarta-feira, Murphy também foi solicitado a alterar um documento oficial da inteligência norte-americana sobre grupos de supremacia , "para diminuir o perigo desta ameaça e incluir informações sobre a relevância dos grupos violentos de esquerda".

Membros do atual governo republicano "tentaram, indevidamente, politizar, manipular e censurar a inteligência em benefício político do presidente Trump", reagiu Adam Schiff, chefe democrata do poderoso Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, em nota. "Isso coloca nosso país e sua segurança em sério risco", ressaltou.

No início do ano, Schiff foi encarregado de supervisionar a equipe de promotores do processo de impeachment de Trump, acusado de abusar de seu cargo para pressionar a Ucrânia com o objetivo de que Kiev investigasse o democrata Joe Biden, seu oponente nas eleições de novembro, pelos negócios de seu filho no país do leste europeu.

Acusado pela Câmara, de maioria democrata, Trump foi absolvido pelo Senado, casa controlada por legisladores republicanos.