As avenidas Niezalezhnasci (“Independência”, em bielorrusso) e Pieramozhcau (ou “Vencedores”), em Minsk, ficaram tomadas de manifestantes, muitos deles munidos com as bandeiras da ex-república soviética. Dessa vez, o tradicional protesto de domingo reuniu mais de 100 mil pessoas dispostas a desafiar as ameaças de Alexander Lukashenko, o autocrata que governa o país com mão de ferro há 26 anos e insiste em permanecer no poder por mais um mandato, depois de vencer eleições consideradas fraudulentas pela oposição. “Lukashenko na prisão!”, “Fora!”, “Você é um rato!” e “Vida longa à Bielorrússia”, gritava a multidão, na maior marcha desde o início da crise, em 9 de agosto passado. Além da capital, foram registrados atos políticos em outras cidades, como Grodno, Gomel e Mogilev.
As manifestações de ontem ocorreram poucas horas depois de a ativista Olga Kolvakova — uma das principais aliadas da candidata da oposição à Presidência Svetlana Tikhanovskaya — ser expulsa por forças de segurança para a Polônia. Svetlana tinha se refugiado na Lituânia dois dias após as eleições, por não aceitar os resultados. Nos últimos dias, policiais das forças especiais usando balaclavas arrastaram estudantes para dentro de minivans sem placas, segundo a emissora britânica BBC. Lukashenko prometeu “esmagar” os manifestantes.
Sob a condição de não ter o sobrenome revelado, Adam, 36 anos, contou ao Correio que participou dos protestos por entender que Lukashenko não é um democrata, além de sufocar a liberdade de expressão e manipular as eleições. “Se você não tem democracia em seu país, você é como um escravo”, afirmou, por telefone. “As forças de segurança da Bielorrússia têm usado de muita violência contra pessoas simples. Nos últimos dias, houve relatos de gente torturada. Os policiais agrediram alguns dos manifestantes presos hoje (ontem). Ninguém sabe qual será o resultado desses protestos.” A ONG Viasna informou que 250 bielorrussos foram presos neste domingo, 170 deles em Minsk.
Brutalidade
Para Andrej Vitushka — médico, ativista da oposição e ex-prisioneiro político —, os policiais têm se tornado cada vez mais brutais. “Hoje (ontem), eles tentaram impedir colunas de cidadãos de chegarem ao ponto de concentração do protesto. Além dos domingos, as manifestações têm ocorrido em dias úteis. “Estudantes fizeram passeatas perto de universidades, e as mulheres lideraram uma marcha neste sábado. As pessoas também têm se reunido em suas quadras. Nesses miniencontros, elas costumam ostentar bandeiras bielorrussas”, disse ao Correio. Andrej relatou que um colega dele, também médico, foi espancado ontem e sofreu concussão cerebral e fratura na coluna. “Diante da repressão, os católicos de meu país tornaram-se mais coesos. Autoridades proibiram o arcebispo de Minsk, Tadeusz Kandrusievich, de retornar à Bielorrússia, depois de uma viagem a Bruzgi, vila na fronteira com a Polônia.
Morador de Minsk, o jornalista Valery Kalinovsk admitiu à reportagem que o veto a Kandrusievich levou milhares de católicos a unirem-se aos protestos de ontem. “No fim do protesto, quando todos deixavam a Avenida Pieramozhcau, perto do palácio presidencial, a polícia tentou deter e golpear algumas pessoas, que não conseguiram escapar. A libertação da Bielorrússia é um processo que poderá ter longa duração, pois o presidente russo, Vladimir Putin, ajuda Lukashenko”, disse.
Na última quinta-feira, o primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, viajou até Minsk e se reuniu com o autocrata. No dia seguinte, Tikhanovskaya exortou a comunidade internacional a aplicar sanções contra o regime de Lukashenko e enviar uma missão da ONU para “documentar” as violações dos direitos humanos — além de três mortos e dezenas de feridos, há denúncias de vários casos de tortura.