O confronto entre Alemanha e Rússia sobre o caso Alexei Navalny ganhou um novo capítulo neste domingo (6) com o ultimato de Berlim exigindo uma explicação sobre o envenenamento do opositor antes de impor eventuais sanções, enquanto Moscou acusou a Alemanha de atrasar a investigação.
"Lançar ultimatos não ajuda ninguém, mas se nos próximos dias o lado russo não contribuir para esclarecer o que aconteceu, então teremos que discutir uma resposta com nossos parceiros", disse Heiko Maas, o ministro das Relações Exteriores alemão, ao Jornal Bild.
Se sanções forem decididas, terão que ser "seletivas", segundo o ministro, que não descartou um impacto no projeto do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Europa. "Berlim está atrasando o processo de investigação que exige deliberadamente?", escreveu no Facebook a porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova. Navalny, principal opositor russo, está hospitalizado em Berlim.
De acordo com o governo de Angela Merkel, ele foi envenenado na Rússia durante uma turnê eleitoral com um agente nervoso do tipo Novichok, criado no período soviético para fins militares. Ele foi então transferido para a Alemanha. Berlim e outros países ocidentais pediram repetidamente a Moscou que esclarecesse o envenenamento.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, afirmou neste domingo que é "muito difícil" pensar em qualquer outra explicação "plausível" que não seja "uma emanação do Estado russo". É "claro que o Novichok foi usado", disse à Sky News.
Mas o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, reagiu às acusações esta semana com "uma boa dose de ceticismo" e pediu a Berlim que fornecesse provas.
Envolvimento do Kremlin
Seu colega alemão implicou diretamente o Estado russo no envenenamento. "Há vários indícios a esse respeito, é por isso que a parte russa deve reagir agora", declarou Heiko Maas.
"A substância letal com a qual Navalny foi envenenado foi encontrada no passado em poder das autoridades russas, apenas um pequeno número de pessoas tem acesso ao Novichok e esse veneno já foi usado pelos serviços russos no ataque ao ex-agente [russo] Serguei Skripal", observou Maas.
Na quinta-feira, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, evocou a possibilidade de sanções contra a Rússia. E o chefe da diplomacia alemã não descartou que o caso afete o polêmico projeto do gasoduto Nord Stream 2, que deve abastecer a Alemanha e a Europa com gás russo, projeto que até agora tinha o apoio alemão.
"Em qualquer caso, não espero que os russos nos obriguem a mudar nossa posição sobre Nord Stream", disse o ministro. Com o envenenamento de Navalny, o governo de Angela Merkel está sob pressão para revisar o apoio a este projeto.
Os Estados Unidos e seu presidente, Donald Trump, lideram há vários anos uma campanha para tentar impedir o projeto e impuseram sanções às empresas envolvidas nas obras, atualmente paralisadas, apesar dos protestos europeus.
Até agora, Merkel sempre tentou separar outras questões dos interesses econômicos e energéticos do projeto, importante para a Alemanha. Mais de uma centena de empresas europeias, metade das quais alemãs, estão associadas ao gasoduto.
No entanto, Nord Stream tornou-se um assunto controverso na Alemanha entre os candidatos conservadores que aspiram a suceder Merkel. Dois deles, Friedrich Merz e o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Norbert Röttgen, pediram a paralisação do gasoduto para que Putin não "continue com sua política".