Reportagem publicada na última edição da The Atlantic, com potencial de danos à candidatura de Donald Trump, acirrou ainda mais o embate entre o presidente dos Estados Unidos e o democrata Joe Biden, seu rival em 3 de novembro. Segundo a revista, o republicano, em visita à França, há dois anos, teria chamado soldados americanos mortos na Primeira Guerra Mundial de “perdedores” e “tolos”. Trump negou veementemente ter dito algo sequer semelhante, porém, o assunto tomou conta, ontem, do cenário eleitoral.
De acordo com a revista, Trump cancelou homenagens aos combatentes enterrados no cemitério militar americano Aisne-Marne, perto de Paris. “Por que eu deveria ir a esse cemitério? Está cheio de perdedores”, teria perguntado o chefe da Casa Branca a integrantes de sua equipe, segundo a reportagem, que cita fontes anônimas.
Ainda na noite de quinta-feira, ao tomar conhecimento da publicação, Trump contestou os comentários. “Eu juraria por qualquer coisa que nunca disse isso sobre nossos heróis”, ressaltou. Ontem, em seu perfil no Twitter, ele voltou ao tema: “A The Atlantic, como a maioria das revistas, está morrendo, então, inventa histórias falsas para chamar a atenção”.
O assunto invadiu a internet. De um lado, apoiadores de Trump inundaram as redes sociais com fotos do presidente acompanhado pelos militares. Ao mesmo tempo, reapareceram declarações da campanha de 2016 em que Trump zombou do senador republicano John McCain por ter sido capturado na Guerra do Vietnã. “Ele não é um herói de guerra. Ele é um herói de guerra porque foi capturado. Gosto de pessoas que não são capturadas”, disse o então candidato.
O democrata Joe Biden entrou no debate, com críticas ao adversário. “Se o que está escrito na The Atlantic for verdade, é nojento”, reagiu o ex-vice de Barack Obama, durante evento de campanha em Wilmington, Delaware, onde mora. “Isso corrobora o que a maioria de nós acredita ser verdade: que Donald Trump não é adequado para ser o comandante-chefe. As palavras de um presidente são importantes. Isso não pode continuar”, acrescentou.
Autor da reportagem, o jornalista Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista, confirmou o teor das declarações atribuídas a Trump ao participar do New Day da CNN, na manhã de ontem. “Eu mantenho minhas reportagens”, disse ele. “Tenho várias fontes me dizendo que foi isso que aconteceu, então, eu mantenho isso.”
Voto pelo correio
Em meio a esses embates, a Carolina do Norte iniciou, ontem, o processo de votação pelo correio, com o envio de mais de 600 mil cédulas. A preocupação com a covid-19 pode fazer com que, em todo o país, dezenas de milhões de cidadãos evitem ir pessoalmente aos centros eleitorais. Outros estados considerados essenciais para o resultado eleitoral, como Wisconsin, começarão a fazer o mesmo nas próprias semanas.
De acordo com uma pesquisa recente do USA Today/Suffolk, 56% dos republicanos dizem que votarão pessoalmente frente 26% dos democratas. Como marco das tensões no país, um em cada quatro eleitores afirma que, se seu candidato perder, não reconhecerá o resultado como “honesto” e “correto”.
Em busca do segundo mandato, Trump tem lançado dúvidas sobre a confiabilidade da eleição. Sem apresentar evidências concretas, o republicano insiste que o uso crescente do voto por correspondência pode levar a fraudes massivas.
Chegou a sugerir aos seus apoiadores que votassem duas vezes: enviassem a cédula pelo correio e votassem pessoalmente no dia da eleição, caso o seu voto não chegue. O Facebook e o Twitter, que estão sob pressão crescente para conter a desinformação antes das eleições, colocaram advertências nas postagens do presidente sobre o assunto.
O comportamento do presidente fez com que as autoridades eleitorais da Carolina do Norte, estado em que o democrata Joe Biden deve vencer Trump, declarassem que “é ilegal votar duas vezes” em uma eleição. “Pedir a alguém que faça isso também é uma violação da lei da Carolina do Norte”, disse Karen Brinson, diretora da autoridade eleitoral do estado.