Chamas e águas da destruição

Clima / Apesar da mobilização de 13.700 bombeiros no combate à série de incêndios na Califórnia, o fogo consome área superior a 400 mil campos de futebol . No Caribe, tempestade Laura provoca mortes no Haiti e na República Dominicana

Os bombeiros lutavam, ontem, contra um dos maiores incêndios de todos os tempos na Califórnia, que expulsaram dezenas de milhares de casa e queimaram cerca de 400 mil hectares, com previsão de mais relâmpagos e rajadas de vento.
Os relâmpagos desencadearam chamas que deixaram a fumaça cobrindo a região. O Serviço Meteorológico Nacional disse que tempestades secas podem desencadear incêndios florestais adicionais, acrescentando que “o oeste dos Estados Unidos e as Grandes Planícies estão envoltos em uma vasta área de fumaça devido aos incêndios florestais em andamento.”
Cerca de 2.600 bombeiros estão enfrentando os dois maiores incêndios. No total, 13.700 agentes lutam contra “quase duas dezenas de grandes incêndios”, de acordo com o oficial de informações públicas da CalFire, Jeremy Rahn.
“Se você não acredita nas mudanças climáticas, venha para a Califórnia”, tuitou o governador do estado, Gavin Newsom, no sábado, ao lado de uma dramática fotografia de nuvens de fumaça subindo de incêndios. “Isso é de hoje”, disse ele, “e é apenas uma pequena parte dos quase 600 incêndios que estamos combatendo esta semana.”
Cinco mortes estão relacionadas às últimas crises, com quatro corpos recuperados na quinta-feira, incluindo três em uma casa queimada em uma área rural do condado de Napa. Mas muitos residentes recusaram ordens de evacuação. “Pelo menos, se estivermos aqui, sabemos exatamente o que está acontecendo”, disse o morador John Newman, 68 anos.

As reservas naturais também foram devastadas. O Big Basin Redwoods State Park informou que algumas estruturas históricas foram destruídas por chamas. O parque, onde podem ser encontradas sequoias gigantes com mais de 500 anos, foi amplamente danificado. Cerca de 119 mil pessoas foram evacuadas, muitas delas lutando para encontrar abrigo e hesitando ir aos centros criados pelas autoridades por causa dos riscos do coronavírus.

Em alguns condados ao sul de San Francisco, os evacuados optaram por dormir em trailers ao longo do Oceano Pacífico, enquanto os turistas eram chamados a deixar as acomodações. Equipes de bombeiros, equipamentos de vigilância e combate a incêndios estavam sendo enviados de estados como Oregon, Novo México e Texas. Mas, diante da dimensão do desastre, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, também pediu ajuda ao Canadá e à Austrália.


A situação soma-se a uma tremenda onda de calor, com temperaturas históricas que chegaram aos 54,4°C no Vale da Morte.

Força avassaladora de um furacão

O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) prevê que a tempestade Laura se tornará furacão, amanhã, e também atingirá a área costeira dos Estados Unidos. O fenômeno climático está causando “chuvas torrenciais e inundações potencialmente mortais” no Haiti, informou o NHC.
No Haiti, foram registradas pelo menos cinco mortes em decorrência da passagem de Laura. Entre as vítimas está uma menina de 10 anos que morreu depois que uma árvore caiu sobre a casa dela.
Uma mulher foi levada para o sudeste enquanto tentava atravessar um rio, enquanto outra mulher e dois homens morreram em Porto Príncipe devido à tempestade, embora nenhum detalhe adicional tenha sido fornecido.
Na República Dominicana, com a qual o Haiti compartilha a ilha Hispaniola, Laura deixou três mortos em Santo Domingo. Desde o início da manhã de ontem, Laura causou chuvas moderadas a constantes em várias cidades dominicanas, também acompanhadas de ventos. Mais de um milhão de pessoas estavam sem energia. Vinte das 32 províncias estão em “alerta vermelho”.
A temporada de tempestades no Atlântico, que vai até novembro, pode ser especialmente severa neste ano. O Centro Nacional de Furacões dos EUA espera 25 e Laura é a 12ª até agora.
No Haiti, muitos moradores com água até os joelhos tentavam, ontem, salvar o que restou das casas inundadas. Os vendedores viam as águas das ruas levarem as mercadorias.
“Não sabia que havia uma previsão de tempo ruim. Muitas vezes falta eletricidade. Não conseguia ouvir o rádio”, disse Sony
Joseph, em Porto Príncipe.
Todos os anos, de junho a novembro, o Haiti fica sob a ameaça de ciclones, mas as fortes chuvas são suficientes para pôr em risco a vida dos cidadãos mais desfavorecidos, forçados a viver em áreas de risco, cheias de lixo.