Os Estados Unidos e 16 países se recusaram nesta terça-feira a adiar a eleição do próximo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em um incentivo ao candidato de Washington, assessor do presidente Donald Trump que tem gerado resistências na região.
"Nossos povos precisam de soluções que não podem ser postergadas", afirmaram os 17 países, em nota divulgada pela chancelaria colombiana.
O texto foi assinado por Bahamas, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Panamá, Paraguai, República Dominicana, Suriname e Venezuela, que no BID são representados por um delegado do chefe parlamentar e líder da oposição, Juan Guaidó.
"A eleição do presidente do BID é de extrema importância para nossa região (...). Instamos todos os países membros a cumprirem, em tempo e forma, as resoluções já aprovadas", afirmaram os signatários.
Conforme decisão da diretoria do banco em julho, o sucessor do colombiano Luis Alberto Moreno deve ser votado em reunião virtual de 12 a 13 de setembro.
Inicialmente, a eleição era para março na assembleia anual do BID em Barranquilla, Colômbia, mas foi remarcada para março de 2021 "devido à pandemia".
O governo Trump anunciou em junho a nomeação de Mauricio Claver-Carone, atual advogado cubano encarregado dos assuntos latino-americanos no Conselho de Segurança Nacional de Trump e conhecido por suas posições duras em relação à Cuba e à Venezuela.
O BID, principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe, nasceu em 1959 no seio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e teve apenas quatro presidentes: o chileno Felipe Herrera (1960-1970), o mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), o uruguaio Enrique Iglesias (1988-2005) e Moreno.
- Argentina e México querem adiamento -
A Argentina, que quer garantir que essa tradição seja mantida, insistiu na semana passada em adiar a decisão de substituir Moreno até março, alegando que a pandemia agora impede uma eleição presencial "conforme apropriado".
Costa Rica, Chile e México também se manifestaram a favor do adiamento, assim como o chefe da diplomacia da União Européia (UE), Josep Borrell, que o recomendou aos países europeus membros do BID.
Diante da ofensiva liderada pela Argentina, Claver-Carone acusou o governo de Alberto Fernández de buscar "obstruir" a votação, em declarações consideradas "agressivas" pelo Chile.
A Argentina indica Gustavo Beliz, Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, enquanto a Costa Rica promove a candidatura da ex-presidente Laura Chinchilla.
O presidente do BID é eleito pela Assembleia de Governadores, a instância máxima da instituição, que reúne seus 48 países membros. Cada país nomeia um governador, cujo poder de voto está diretamente ligado ao capital que subscreve.
Para que a eleição ocorra, a maioria do total de governadores deve participar, incluindo a maioria dos governadores regionais, representando um poder de voto de pelo menos 75%.
Os Estados Unidos, o maior acionista do BID, detém 30% do poder de voto.
Os outros 16 países que na terça-feira rejeitaram o adiamento da eleição somam mais 23,9%.
Por outro lado, Argentina, México, Chile e Costa Rica somam pouco mais de 22%.
Outros membros do BID com percentual significativo de poder de voto são Canadá, com 4,0%, e Japão, com 5,0%. Entre os europeus, os principais acionistas são Itália (1,966%), Espanha (1,964%), Alemanha (1,896%) e França (1.896%).