Os líderes mundiais expressaram, nesta sexta-feira (14/8), a esperança de que um acordo histórico para normalizar as relações entre os Emirados Árabes Unidos e Israel resulte na retomada das negociações de paz no Oriente Médio, enquanto os palestinos e alguns de seus aliados o veem como uma traição.
Os Emirados Árabes Unidos e Israel devem assinar dentro de três semanas em Washington o acordo anunciado de surpresa na quinta-feira (13/8) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O acordo foi concluído sob mediação dos Estados Unidos e fará dos EAU o terceiro país árabe a seguir este caminho desde a criação do Estado hebreu em 1948, depois do Egito e da Jordânia.
Como parte do acordo, Israel se compromete a suspender seu projeto de anexar territórios palestinos, uma concessão saudada por governos europeus e alguns governos árabes como um incentivo às esperanças de paz.
Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que a anexação de partes da Cisjordânia ocupada seria apenas "adiada" e que Israel "não desistiu" de tal empreendimento.
Os palestinos rejeitaram veementemente o acordo, chamando-o de "traição" à sua causa, incluindo à reivindicação de tornar Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel, a capital do Estado a que aspiram.
Também anunciaram a convocação de seu embaixador nos Emirados Árabes e exigiram uma reunião emergencial da Liga Árabe.
O fato é que o acordo dá margem a esperanças no exterior de relançar as conversações israelense-palestinas, que estão suspensas desde 2014.
Neste sentido, a Alemanha afirmou que se trata de uma "contribuição significativa para a paz na região", que "permitirá dar um novo impulso ao processo de paz no Oriente Médio".
Por sua vez, a França viu nela um "novo estado de espírito" que deve "permitir a retomada das negociações entre israelenses e palestinos com vistas ao estabelecimento de dois Estados".
"Oportunidade"
O polêmico plano de paz de Donald Trump, revelado em janeiro, ofereceu a Israel um caminho para anexar o Vale do Jordão e os assentamentos judeus na Cisjordânia ocupada, considerados ilegais pelo direito internacional.
Os palestinos o rejeitaram assim como os vizinhos árabes de Israel, aumentando o temor de uma nova escalada em uma região onde as tensões são altas.
Depois que o acordo EAU-Israel foi anunciado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, viu "uma oportunidade para os líderes israelenses e palestinos retomarem negociações substantivas, levando a uma solução de dois Estados de acordo com as resoluções das Nações Unidas".
A anexação "fechará efetivamente a porta" às negociações entre as lideranças israelense e palestina e "destruirá a perspectiva" de um Estado palestino viável, disse ele.
Entre os aliados dos EUA no Golfo, Bahrein e Omã expressaram seu apoio ao acordo. Mas a Arábia Saudita, peso-pesado na região, não reagiu.
"Pode-se certamente imaginar que Bahrein e/ou Omã acabarão concluindo um acordo formal com Israel", acredita Hussein Ibish, analista do Arab Gulf States Institute, que descarta, porém, um acordo semelhante em um futuro próximo entre a Arábia Saudita e o Estado judeu.
Egito e Jordânia, os únicos dois países árabes a manter laços diplomáticos com Israel após os tratados de paz concluídos em 1979 e 1994, respectivamente, reagiram com moderação.
"Traição"
O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, cujo país é aliado dos Emirados e dos Estados Unidos, acolheu com sobriedade o acordo, dizendo que impediria a anexação de partes da Cisjordânia.
A Jordânia não elogiou nem rejeitou o acordo, dizendo que seu futuro dependerá das próximas ações de Israel, que deve pôr fim a "seu empreendimento ilegal" de ocupação dos territórios palestinos.
Em contraste, o Irã e a Turquia criticaram fortemente a "traição" dos Emirados Árabes Unidos.
Teerã condenou nesta sexta-feira este acordo descrito como "estupidez estratégica de Abu Dhabi e Tel Aviv, que sem dúvida fortalecerá o eixo de resistência", em referência aos aliados de Teerã no Oriente Médio.
A Turquia acusou os Emirados de "trair a causa palestina" ao concordar em assinar este acordo apoiado pelos Estados Unidos para "servir a seus interesses mesquinhos".
O Hamas palestino também o condenou. O acordo "não serve à causa palestina, mas é visto como uma continuação da negação dos direitos do povo palestino", disse à AFP Hazem Qassem, porta-voz do movimento islâmico no poder na Faixa de Gaza.