A vacina para a covid-19 desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com o grupo alemão BionTech mostrou resultados positivos nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos, em humanos. Os dados foram divulgados ontem, na revista Nature, e mostram uma “resposta imune robusta” nos voluntários, maior que a em infectados que se recuperaram da doença. A fórmula imunizadora é feita com base no RNA do Sars-CoV-2 e já é avaliada na etapa três dos testes, onde um grupo maior de participantes recebe a substância. Os resultados até agora são animadores, mas especialistas acreditam que é necessário aguardar a finalização da última análise, que é realizada também no Brasil. Veja estudos sobre outras vacinas.
Nas duas primeiras fases dos estudos clínicos, 45 participantes (23 homens e 22 mulheres), com idade entre 18 e 55 anos, receberam a fórmula, chamada BNT162b1. O grupo foi dividido em quatro, conforme a dose de imunização recebida: 10 microgramas, 30 microgramas, 100 microgramas e placebo. A equipe observou uma resposta imune que considerou robusto nos imunizados. “Os níveis de anticorpos neutralizantes dos participantes foram de 1,9 a 4,6 vezes maiores do que aqueles em pacientes em recuperação da infecção pelo Sars-CoV-2”, destacam os autores, liderado por Judith Absalon, pesquisadora da Pfizer.
A resposta imune foi mais significativa em pacientes que receberam a maior dose do imunizante, mas eles também demonstraram maiores efeitos colaterais, como dor no local da injeção, fadiga, dor de cabeça, febre e distúrbios do sono. Os dois grupos de imunizados que receberam quantidades menores da vacina tomaram uma dose de reforço, aplicada 21 dias depois da primeira. A estratégia resultou em aumento da quantidade de anticorpos ao vírus da covid-19.
O efeito também foi percebido naqueles que não receberam a dose extra. “Os anticorpos contra o Sars-CoV-2 estavam presentes 21 dias após uma única vacinação em todos os níveis de dose, e houve aumento substancial nos anticorpos neutralizantes do vírus sete dias após a segunda dose de 10 ou 30 microgramas ter sido dada”, detalham os autores, no artigo.
Diversidade
A equipe também analisou pacientes mais velhos, com idade entre 65 e 85 anos, mas os dados relativos a esse grupo ainda serão divulgados. Na próxima etapa, eles pretendem aumentar a diversidade no perfil dos voluntários, já que todo o grupo testado era composto por pessoas brancas. A equipe também planejam testar a vacina em participantes com doenças crônicas. “As fases posteriores vão priorizar o recrutamento de populações mais diversas, incluindo aquelas com condições de saúde subjacentes crônicas e de grupos raciais e étnicos afetados adversamente pela covid-19. Precisamos que os analisados representem a diversificação da população”, justificam.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que a vacina demonstrou suprir os fatores mais importantes para que a pesquisa evolua para a terceira fase de testes. “Ela obteve a resposta imune adequada e a segurança, esse é o perfil esperado. Os cientistas viram efeitos adversos, como dor no braço, febre, mas essas reações também são esperadas e são consideradas normais”, avalia.
Segundo o especialista, agora, é necessário esperar os resultados da fase mais avançada. “Essa é a hora em que vamos observar dados mais complexos em relação ao teste da vacina. Nesse estágio, teremos, por exemplo, a eficácia dela em pacientes com problemas crônicos, como diabetes, saberemos também o quanto ela reduz as chances de hospitalização, a mortalidade, uma série de fatores extremamente importantes”, detalha.
A vacina da Pfizer utiliza o RNA mensageiro do vírus feito em laboratório. A não exigência de uso de um micro-organismo é considerada uma grande vantagem na hora da produção, destaca Renato Kfouri. “Esse é um ponto muito positivo, pois, ao usar esse material sintético como base, nós não precisamos reproduzir o vírus em laboratório, algo que é extremamente trabalhoso. Com isso, queimamos etapas e aceleramos a velocidade de produção.”