Enfático em suas críticas a Pequim, Jimmy Lai, magnata da mídia de Hong Kong foi preso, ontem, com base na lei de segurança recentemente imposta pela China à ex-colônia britânica. Policiais realizaram uma operação de busca e apreensão no grupo de imprensa de Lai, 71 anos, que teve dois filhos detidos. A China elogiou a medida, enquanto, os Estados Unidos, as Nações Unidas e o Reino Unido externaram preocupação com a garantia dos direitos humanos e da liberdade de imprensa.
Jimmy Lai é dono do jornal Apple Daily e da revista Next Magazine, duas publicações abertamente pró-democracia e críticas ao governo de Xi Jinping. Segundo Mark Simon, um de seus colaboradores mais próximos, ele foi preso em casa, no fim da manhã.
Ao mesmo tempo, cerca de 200 policiais compareceram à sede do grupo de comunicação, em uma área industrial do bairro Lohas Park. Jornalistas do Apple Daily transmitiram ao vivo no Facebook as imagens da operação, que mostram o chefe de redação da publicação, Law Wai-kwong, solicitando aos policiais o mandato de busca.
Conluio
Segundo a polícia, foram efetuadas nove detenções por fraude e por suspeitas de conluio com forças estrangeiras — uma das novas proibições citadas na lei de segurança nacional. Considerada por muitos uma resposta de Pequim aos meses de manifestações pró-democracia que sacudiram o território semiautônomo em 2019, a legislação, aprovada no fim de junho, dá às autoridades novos poderes para repressão de outros três tipos de delitos contra a segurança do Estado: subversão, separatismo, terrorismo.
“Esses agitadores antichineses em concertação com forças estrangeiras colocaram seriamente em perigo a segurança nacional (...) Jimmy Lai é um de seus representantes”, destacou, por meio de um comunicado, o escritório chinês responsável pelo monitoramento da situação em Hong Kong e Macau.
Presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, Chris Yeung chamou a operação de “impactante e aterrorizante”. “Isso não tem precedentes e era inimaginável há um ou dois meses”, ressaltou. Chris Patten, último governador britânico de Hong Kong, acusou as autoridades de conduzir “a operação mais escandalosa possível sobre o que resta da imprensa livre em Hong Kong”.
Poucas pessoas do território provocam tanto mal-estar em Pequim quanto Lai, chamado de “traidor” pela imprensa estatal chinesa, que o acusa de ter instigado os protestos de 2019. Em Hong Kong, para os cidadãos envolvidos no movimento pró-demoracia, ele é um herói.
As acusações de conluio com uma potência estrangeira aumentaram depois que Jimmy Lai se reuniu com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence. Em sua defesa, afirmou que os cidadãos de Hong Kong tinham o direito de reunir-se com políticos de outros países.