Em mais um ingrediente de tensão no confronto com a China, o governo dos Estados Unidos decidiu, ontem, impor sanções às principais autoridades de Hong Kong. Na nova ofensiva americana à iniciativa de Pequim de adotar uma lei de segurança estrita no território semiautônomo, o Tesouro anunciou o congelamento de todos os ativos americanos da chefe do Executivo, Carrie Lam, bem como de 10 outros altos funcionários. Eles são acusados de minar a democracia na ex-colônia britânica ao reprimir ativistas.
A medida também penaliza qualquer transação financeira dos Estados Unidos com os 11 funcionários. A lista de autoridades inclui Chris Tang, Comissário da Polícia de Hong Kong, e Luo Huining, diretor do Escritório de Ligação, um braço chinês no centro financeiro internacional. “Os Estados Unidos respaldam o povo de Hong Kong e utilizarão ferramentas e autoridades para impor sanções àqueles que minam a autonomia do território”, declarou Steven Mnuchin, secretário do Tesouro americano, por meio de um comunicado.
“As medidas de hoje (ontem) enviam uma mensagem clara de que as ações das autoridades de Hong Kong são inaceitáveis”, disse o secretário americano de Estado, Mike Pompeo. O chefe da diplomacia dos EUA destacou que a lei chinesa, vista pelos ativistas como uma arma legal para silenciar dissidentes, violou as promessas feitas por Pequim antes de o Reino Unido devolver sua então colônia, em 1997.
Carrie Lam encabeça a lista das autoridades punidas porque, de acordo com o Tesouro, ela é diretamente responsável por implementar as “políticas de repressão de liberdade e processos democráticos de Pequim”. A lei de segurança começou a valer no fim de junho, na esteira dos grandes protestos pró-democracia do ano passado.
Recentemente, as autoridades adiaram as eleições legislativas em Hong Kong, sob o argumento da crise sanitária do novo coronavírus. Além disso, emitiram mandados de prisão para seis ativistas pró-democracia no exílio.
Aplicativos
As medidas foram anunciadas horas depois de o governo de Donald Trump impor restrições significativas nos Estados Unidos aos aplicativos TikTok, de vídeos curtos, e WeChat, de envio de mensagens, dois gigantes chineses de mídia social. Por decreto, o chefe da Casa Branca deu prazo de 45 dias para que os americanos parem de fazer negócios com essas plataformas.
Trump citou riscos à segurança nacional para justificar as medidas, que também colocaram em questão as operações americanas da matriz do WeChat, a empresa Tencent, poderoso ‘player’ na indústria de videogames e uma das companhias mais ricas do mundo.
Em resposta, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wengbin, denunciou o governo americano por “manipulação política arbitrária e repressão”. O porta-voz acusou Washington de sobrepor “interesses egoístas” aos princípios do mercado e das regulamentações internacionais.
O decreto de Trump sustenta que o TikTok, cujos videoclipes variam de tutoriais de tintura de cabelo a danças e piadas sobre a vida cotidiana, poder ser usado pela China para rastrear funcionários federais dos EUA, criar arquivos sobre pessoas para chantageá-las e realizar espionagem corporativa. O TikTok, que refuta compartilhar dados com Pequim, diz ter ficado “chocado” com a iniciativa do republicano, assinada “sem o devido processo”.