Bamako, Mali - Uma delegação de países da África Ocidental chegou a Bamako neste sábado(22) onde se reuniu com os dirigentes da junta militar que depôs o presidente Ibrahim Boubacar Keita.
A missão da Comunidade Econômica da África Ocidental (Cedeao), liderada pelo mediador na crise do Mali, o ex-presidente nigeriano Goodluck Jonathan, chegou a Bamako durante a tarde e foi recebida no Ministério da Saúde por membros do Comitê Nacional para a Salvação do Povo (CNSP), instância criada pelos militares para dirigir o país.
Após uma reunião de meia hora, na qual participou o coronel Assimi Goita, o novo homem forte do Mali, a delegação deixou o edifício ministerial sem comentários. "É uma reunião oficial para fazer contato. Haverá outros, talvez não tenham impacto na mídia, mas já tivemos uma boa impressão desta missão do Cedeao", disse à AFP uma fonte próxima aos golpistas.
"Entendemos que chefes de Estado, como Alassane Ouattara, da Costa do Marfim, estão trabalhando para reduzir as tensões e a favor de uma solução pacífica, embora tenham condenado nossa tomada do poder. Estamos abertos ao diálogo", acrescentou.
No aeroporto, representantes do Cedeao já haviam sido recebidos pelo coronel Malick Diaw, número dois do CNSP, e o porta-voz da diretoria, Ismaël Wagué, confirmaram correspondentes da AFP. As negociações podem levar a "algo bom para o país, bom para a Cedeao e bom para a comunidade internacional", disse Jonathan, mediador da crise no Mali.
À noite, os enviados visitarão o campo militar de Kati, nos arredores de Bamako, onde Keita está detido com uma dezena de altos líderes civis e militares, incluindo o primeiro-ministro Boubou Cissé, presidente da Assembleia Nacional, Moussa Timbiné, e o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Abdoulaye Coulibaly.
Está previsto que os enviados encontrem o presidente deposto Keita, que neste sábado foi levado de Kati a Bamako, segundo uma fonte próxima à junta.
"Não estamos de acordo com o golpe"
A delegação da Cedeao se reunirá na manhã de domingo com os embaixadores dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (França, Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha e China).
Os países vizinhos do Mali, reunidos em uma cúpula extraordinária, exigiram na quinta-feira a "reintegração" do presidente e decidiram enviar uma delegação a Bamako para apoiar um "retorno imediato à ordem constitucional".
Os militares no poder, que prometeram uma "transição política", foram saudados na sexta-feira no centro de Bamako por milhares de partidários da oposição, que há meses exigiam a saída do chefe de estado.
"Não há golpe, não há Junta, há apenas malineses que assumem suas responsabilidades", disse Mohamed Aly Bathily, um dos líderes da coalizão do Movimento 5 de Junho (M5-RFP). Na manhã de sábado, várias dezenas de apoiadores de Keita tentaram se manifestar em Bamako, mas foram dispersados pela polícia.
"Estamos aqui esta manhã para mostrar que não concordamos com o golpe. Mas pessoas vieram nos atacar com pedras, e então as forças da ordem aproveitaram a agressão para dispersar nossos militantes", disse à AFP Abdoul Niang, militante da Convergência das Forças Republicanas (CFR).
Keita, eleito em 2013 e reeleito em 2018 por cinco anos, enfrenta um protesto sem precedentes desde o golpe de 2012 há meses. Assim como a ONU, a União Europeia (UE) pediu na quarta-feira a libertação imediata dos prisioneiros e "um retorno ao Estado de Direito". Os Estados Unidos suspenderam a ajuda militar ao Mali na sexta-feira.
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