O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu nesta quinta-feira (6/8) uma investigação internacional em Beirute após a devastadora explosão na capital libanesa e pediu "mudanças profundas" às autoridades do país, acusadas pela população de incompetência e corrupção.
Após uma visita de algumas horas, Macron anunciou seu retorno a Beirute em 1º de setembro, além de uma conferência de ajuda "nos próximos dias" para o Líbano, um país já mergulhado em uma crise econômica sem precedentes.
O Fundo Monetário Internacional também instou o governo libanês a efetuar "reformas cruciais" para cessar as negociações sobre o bloqueio e indicou que é "o momento para a comunidade internacional e os amigos do Líbano se mobilizarem para ajudá-lo neste momento de urgência".
As explosões provocadas, segundo as autoridades, por um incêndio em um depósito onde estavam armazenadas 2.750 toneladas de nitrato de amônio deixaram pelo menos 149 mortos e 5 mil feridos, dezenas de desaparecidos e centenas de milhares sem lar.
Comparadas a um "tsunami" ou um "terremoto", as explosões destruíram bairros inteiros perto do porto e danificaram outros por vários quilômetros ao redor
Macron, o primeiro chefe de Estado que visita o Líbano após as explosões, seguiu para o porto e depois ao bairro de Gemmayze, devastado pela tragédia e onde encontrou uma multidão revoltada com a classe política, que pouco mudou desde o fim da guerra civil (1975-1990), acusada de corrupção e negligência.
"É necessária uma investigação internacional aberta e transparente para evitar que as coisas sejam ocultadas primeiro e também para que não haja dúvida", disse Macron durante sua entrevista coletiva após uma reunião com líderes libaneses e representantes da sociedade civil.
16 funcionários detidos
Autoridades portuárias, os serviços alfandegários e alguns serviços de segurança estavam cientes de que produtos químicos perigosos eram armazenados no porto, mas eles atribuem a responsabilidade mutuamente.
Dezesseis oficiais das autoridades portuárias e aduaneiras foram detidos como parte da investigação, disse o promotor militar, Fadi Akiki, sem fornecer suas identidades.
Mas o governo ainda não conseguiu justificar por que o nitrato de amônio foi armazenado "sem medidas de precaução" no porto.
Furiosos com a catástrofe, em um país já em meio ao colapso, os libaneses pedem mudanças.
"O povo quer a queda do regime", gritaram os moradores. O presidente francês respondeu que deve propor "um novo pacto político" e pedir a seus interlocutores, incluindo as principais autoridades libanesas, para "mudar o sistema, terminar com as divisões e lutar contra a corrupção".
Na conferência de imprensa, Macron insistiu que "chegou a hora das responsabilidades para o Líbano e seus líderes" e pediu uma "reformulação da ordem política", além de "mudanças profundas".
Depois de garantir que a ajuda internacional "não caia nas mãos da corrupção", ele anunciou que a França organizaria "uma conferência internacional, de europeus, americanos, de todos os países da região e além [...]".
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, prometeu uma "resposta internacional".
À noite, as forças de segurança libanesas usaram gás lacrimogêneo para dispersar dezenas de manifestantes enfurecidos, que protestavam contra a incompetência das autoridades.
Os incidentes ocorreram a dois dias de uma grande manifestação antigoverno, prevista para este sábado.
Símbolo da saturação da população, a embaixadora do Líbano na Jordânia, Tracy Chamoun, entregou o cargo em protesto contra a "negligência" das autoridades e pediu uma mudança de liderança. "Este desastre é um sinal de alerta: não devemos mostrar piedade por nenhum deles e todos devem sair".
Retorno em setembro
Vários países já enviaram equipes de resgate e suprimentos para atender a emergência após a dupla explosão. A União Europeia anunciou uma ajuda no valor de 33 milhões de euros (cerca de 40 milhões de dólares).
As forças armadas dos Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira a entrega de um primeiro lote com água, alimentos e remédios para o Líbano.
Macron, cujo país exerceu um mandato sobre o Líbano desde a década de 1920 até o final da Segunda Guerra Mundial e mantém laços profundos com o país, declarou que retornaria a Beirute em 1º de setembro "para fazer um balanço".
"Não estou impondo algo às autoridades", declarou Macron, em resposta às acusações de "ingerência" de alguns políticos libaneses. Mas "as próximas três semanas serão decisivas para o futuro do Líbano", declarou o presidente francês em entrevista à BFMTV.
Em uma capital apocalíptica, as autoridades não criaram nenhum dispositivo para acolher os desabrigados, mas os libaneses foram às ruas para limpar os escombros e ajudar àqueles que perderam suas casas, em um enorme movimento de solidariedade.
As vítimas da tragédia foram enterradas durante o dia por seus familiares.
A explosão alimentou a revolta dos libaneses, que saíram às ruas em outubro de 2019 para protestar contra os políticos, acusados de corrupção e incompetência.
Os libaneses pedem que os responsáveis sejam punidos. No Twitter, o dramaturgo e ator libanês Ziad Itani, que vive em Gemmayze, celebrou a visita de Macron e criticou o fracasso dos líderes libaneses. "Eu não tenho mais uma casa em Gemmayze e o primeiro a visitar o bairro é um presidente estrangeiro. Que vergonha!"
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