Assange foi vigiado como ''em um filme'', diz seu advogado

O fundador do WikiLeaks denunciou a empresa espanhola Undercover Global de tê-lo espionado durante anos por causa dos Estados Unidos, enquanto estava asilado na embaixada equatoriana em Londres

Agência France-Presse
postado em 27/07/2020 21:15 / atualizado em 27/07/2020 21:21
 (crédito: Pierre-Philippe Marcou/AFP)
(crédito: Pierre-Philippe Marcou/AFP)

Madri, Espanha - Baltasar Garzón, o advogado de Julian Assange, afirmou que o fundador do WikiLeaks foi vigiado como "em um filme" quando esteve refugiado na embaixada do Equador em Londres.

Julian Assange denunciou a empresa espanhola Undercover Global de tê-lo espionado durante anos por causa dos Estados Unidos, enquanto estava asilado na embaixada equatoriana em Londres, onde permaneceu entre 2012 e 2019.

Essa empresa esteve parte desse tempo encarregada da segurança da sede diplomática.

"Você poderia dizer que isso realmente acontece em filmes de espionagem, mas este não é um filme de espionagem", disse o ex-juiz Garzón a repórteres ao deixar o Tribunal Nacional de Madri, onde ele teve que testemunhar nesta segunda-feira em defesa ao seu cliente.

É "algo escandaloso", acrescentou Garzón, referindo-se às imagens de vigilância em vídeo que lhes foram apresentadas, e nas quais Assange é visto na embaixada do Equador conversando com seus advogados.

Segundo a denúncia apresentada pelo australiano, a empresa espanhola colocou microfones e câmeras em diferentes partes da embaixada, até mesmo no banheiro feminino, onde o australiano fazia muitas de suas reuniões. Também teriam sido instalados microfones na base dos extintores, de acordo com a denúncia.

A defesa de Assange, atualmente preso em Londres, espera que o caso de espionagem na Espanha o ajude no processo de extradição iniciado pelos Estados Unidos contra ele.

Nesse processo o australiano, de 49 anos, pode receber uma sentença de 175 anos na prisão por ter divulgado mais de 700.000 documentos classificados de atividades militares e diplomáticas dos EUA no Iraque, Afeganistão e em muitos outros países, desde 2010.

"Disponibilizamos todo esse material às autoridades judiciais britânicas, porque elas têm um impacto direto na extradição e demonstram, do nosso ponto de vista, que Julian Assange foi objeto de perseguição política", acrescentou Baltasar Garzón, responsável pela defesa de Assange na Espanha.

O sistema espanhol de Justiça também ouviu os depoimentos de Stella Morris, advogada de Assange e mãe de dois dos seus filhos, e de Fidel Narváez, ex-cônsul equatoriano em Londres.

"Julian está mal, mas um pouco melhor, digamos, enquanto aguarda a continuidade do processo de extradição" aos Estados Unidos, que deve ser retomado em 7 de setembro, ressaltou Garzón.

Também em relação ao suposto caso de espionagem, a justiça espanhola admitiu em junho uma denúncia do ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, contra a Undercover Global. Nela, Correa acusa a companhia de segui-lo e de tirar fotos das suas reuniões encontros com Baltasar Garzón.

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