Não está fácil para ninguém. A quebra na rotina decorrente da pandemia e do isolamento social pode trazer impactos negativos também para as crianças e os adolescentes. Segundo o pediatra, intensivista em Pediatria e coordenador do Pronto-socorro Infantil do Hospital Águas Claras, Mário Ferreira Carpi, os pais precisam ficar atentos aos sinais e buscar, sempre que possível, atitudes de acolhimento, proteção e amor. Aumento de agressividade, medo, dificuldade de concentração, problemas com o sono são alguns dos sinais de alerta. “Buscar o controle das emoções e tentar transmitir segurança é fundamental. É compreensível que o momento esteja difícil também para os pais, mas o equilíbrio e o bom senso têm que vir deles. Nós, adultos, temos que buscar o controle dessas emoções. Então, a sugestão é sentar e conversar, tentando entender o momento de cada um”, recomenda.
Fernanda Barbosa, 40 anos, sabe bem como é. Com duas filhas em idades bem diferentes (6 e 15 anos), ela conta que é mais difícil lidar com o isolamento com a adolescente, mas a pequena também já começa a demonstrar cansaço e estresse. “No começo, para a caçula, foi o céu. Como moramos em uma casa com jardim e cachorros, ela se adaptou muito rapidamente, mas a felicidade total durou os dois ou três primeiros meses. Agora, já tem crises de choro e de saudade, acorda e dorme agitada e, mesmo que a gente evite que ela assista, as notícias impactam e levam a questionamentos". Conta a mãe que, outro dia, depois de um espirro, a caçula disse: "não quero cloroquina”. Fernanda e o marido, Daniel, trabalham em home office desde o início, mas são muitas horas de trabalho que ainda precisam ser compartilhadas com as tarefas de casa e o tempo para as filhas. “Estamos tentando nos dividir para aumentar a atenção com a mais velha. Desde o início da pandemia, foi mais difícil para ela, que sente falta dos amigos, chora muito e tem dificuldade em prestar atenção nas aulas, que são menos atraentes e muito pouco interativas”, comenta a mãe.
O pediatra lembra que crianças que já eram ansiosas tendem a piorar no isolamento: “a impossibilidade de encontrar os amigos, de ver os avós, de sair de casa e a constância de muitas notícias ruins geram esse estresse tóxico. Para os adolescentes, fase em que o convívio com o grupo tem importância ainda maior, está sendo mais difícil". Dar uma volta em um local aberto, onde possam ver os amigos, mesmo que sem abraços, é uma alternativa, segundo Mário Carpi. Para ele, o estresse que estamos vivendo agora pode reverberar na vida adulta dessas crianças, provocando baixa autoestima e até quadros mais graves de ansiedade e depressão. Por isso, ele diz que “adotar posturas positivas e atitudes altruístas pode ajudar muito a superar essa fase e propiciar ensinamentos que ficarão para a vida toda. Isso ajudará a transformar essa criança, no futuro, em um adulto capaz de enfrentar e resolver problemas com resiliência e equilíbrio”. Para os pais, fica sempre a dica: “pensem que há um futuro melhor à frente, conectem-se vocês também com um pouco de esperança, pratiquem empatia com filhos e filhas e os escutem. Todo mundo precisa de um pouco de colo e de esperança neste momento".