Investigado por: Band News FM e Estadão.
Enganoso: Ao contrário do que alega vídeo que circula nas redes sociais, a interrupção de funcionamento da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais 5 de Porto Alegre (Ebap 5), no dia 29 de maio, não ocorreu de forma proposital para provocar as enchentes do início do mês. O Departamento Municipal de Água e Esgotos esclareceu que o equipamento deixou de operar devido a um problema momentâneo no abastecimento de óleo diesel do gerador. A situação foi resolvida no mesmo dia. As enchentes foram causadas pelo volume recorde de chuvas aliado a falhas em estruturas do sistema de proteção contra inundações da cidade.
Conteúdo investigado: Vídeo de um homem visitando uma casa de bombas com problemas em Porto Alegre. Ele caminha pelo local mostrando equipamentos sem funcionar. Sobre o vídeo originalmente postado por ele, foi inserida a frase “Será que foi mesmo a chuva essa inundação, ou vingança, genocídio?”. Esta versão viralizou nas redes sociais.
Onde foi publicado: TikTok e Instagram.
Conclusão do Comprova: Uma falha em um gerador causou a interrupção momentânea de parte da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap 5), que atende o bairro de Humaitá, em Porto Alegre. O problema foi constatado em 29 de maio e resolvido no mesmo dia, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos da capital gaúcha.
Na ocasião, um técnico do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) explicou, neste vídeo, que foi identificada uma falha nas bombas que abastecem de óleo diesel os geradores do local. Em outro post, o próprio departamento explicou que o desligamento não foi proposital. “Tivemos um problema no gerador e as equipes já estão no local resolvendo. Em seguida a flutuante e a CB 5 retomam a operação.”
Mais cedo, naquele mesmo dia, um empresário gravou um vídeo andando pela Ebap 5 e mostrando os equipamentos sem funcionar, sugerindo que teriam sido desligados de forma deliberada. Afirma, ainda, que um dos motores está sem operar desde o início das enchentes na cidade.
Ao Comprova, o DMAE explicou que a Ebap 5 perdeu a vazão naquele dia também por causa do acúmulo de lixo na região. Por isso, apenas um grupo motobomba funcionava naquele momento, como mostra o vídeo aqui verificado.
Além disso, a bomba flutuante que aparece do lado externo da Ebap 5, também afetada, foi emprestada pela Sabesp, sem custo à prefeitura de Porto Alegre, ao contrário do que alega o autor do vídeo. “Tanto a casa de bombas quanto a flutuante estavam ligadas através de gerador. No momento deste vídeo, foi uma falha no gerador que ocasionou a parada momentânea do bombeamento”, explicou o departamento.
Atualmente, a estação já opera na rede elétrica e está com três grupos de motobomba em funcionamento, cada um com capacidade para bombear dois mil litros de água por segundo, segundo a prefeitura. Todas as 23 Estações de Bombeamento de Águas Pluviais da cidade estavam em funcionamento antes da inundação, de acordo com o DMAE.
Procurado, o homem que gravou o vídeo não retornou o pedido de esclarecimento do Comprova.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Não há relação entre bombas de escoamento e causas da inundação
Devido ao alto volume de chuvas no Rio Grande do Sul no início de maio, o Rio Guaíba, que fica na região metropolitana de Porto Alegre, atingiu o nível histórico de 5,35 metros no dia 5. Segundo levantamento divulgado pelo g1, as chuvas de maio foram mais intensas e concentradas do que a cheia histórica de 1941.
Sendo assim, não faz sentido sugerir que a não operação das bombas de escoamento de águas pluviais foram a causa das enchentes. Segundo o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aliado ao volume recorde das chuvas, o que contribuiu para as enchentes em Porto Alegre foram falhas no sistema de proteção contra enchentes da cidade.
“As casas de bombas servem para tirar a água de dentro da cidade para fora, especialmente a água da chuva. Mas elas não são uma barreira motorizada para tirar a água para fora durante a ocorrência do evento”, explica o professor Fernando Fan. “O que deveria ter segurado as águas são os diques, as comportas, os muros. Mas as águas acabaram entrando por falhas nessas estruturas, que formam a linha de frente do sistema de proteção. A causa da inundação foi que a barreira de defesa foi vencida”.
Segundo ele, alguns dos problemas estruturais foram a passagem das águas por vãos nas comportas e por cima dos diques de contenção, além de casos em que as águas retornaram por bombas de escoamento. “As causas disso têm a ver, claramente, em alguns locais, com falta de manutenção. Outros locais precisam ser investigados um pouco mais a fundo para entender exatamente o que aconteceu. Essas falhas são resultado de décadas de negligência com o sistema de proteção contra enchentes, não necessariamente algo que vem de agora”, acrescenta o professor.
A Ebap 5 não foi a única a apresentar problemas em meio à enchente, considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. No auge da crise, apenas 17% das casas de bomba de Porto Alegre estavam funcionando e 19 tiveram de ser desligadas por causa de inundações ou falta de energia elétrica. Ao Comprova, o DMAE confirmou que das 23 casas de bombeamento da capital gaúcha, apenas a da Vila Minuano estava com os motores em manutenção até a data da publicação desta checagem, em 13 de junho.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo soma 210 mil visualizações e mais de 15 mil interações. No instagram, a gravação foi vista mais de 168 mil vezes e tem mais de 16 mil interações.
Fontes que consultamos: Entramos em contato com a prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos e com o homem que gravou o vídeo. Também consultamos o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador da UFRGS.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Publicações com desinformação sobre a tragédia no Rio Grande do Sul têm sido frequentes desde o início das inundações. O Comprova já explicou, por exemplo, que uma estrada foi bloqueada em Canoas para a passagem de carretas com material de construção, que o fluxo do abastecimento de aeronaves civis com doações no estado foi alterado por segurança e que um vídeo engana ao dizer que Anvisa impediu o transporte de medicamentos aos gaúchos.
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