VERIFICAÇÃO

Matança de bois na Bahia não tem relação com MST

É enganoso o vídeo com imagens de bois mortos em curral com legenda que associa o esquartejamento dos animais ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Projeto Comprova
postado em 26/05/2023 13:41
 (crédito: Reprodução/Comprova)
(crédito: Reprodução/Comprova)

Investigado por: Folha de S. Paulo e O Popular

Enganoso: Vídeo com imagens de bois mortos em curral foi tirado de contexto ao ser publicado com legenda que associa o esquartejamento dos animais ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O crime foi cometido por uma quadrilha que tentou roubar a carne do gado, mas não conseguiu porque o veículo em que estava atolou, como mostrou reportagem do programa "Bahia no Ar", da RecordTV Itapoan.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem mostra bois mortos em um curral. Ele diz que “a coisa foi feia” e que há cerca de 17 animais abatidos. Em texto, as publicações afirmam que o responsável pelo esquartejamento é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “com apoio do governo Lula”.

Onde foi publicado: Twitter, Rumble e Kwai.

Conclusão do Comprova: É enganosa postagem segundo a qual o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teria esquartejado gado em ocupação em área rural. “Bois vivos foram cortados ao meio por criminosos do MST, apoio do desgoverno Lula”, desinforma um dos posts, no Twitter.

O vídeo é real, mas não mostra resultado de ação do MST. Reportagem do programa “Bahia no Ar“, da RecordTV Itapoan, que mostra a mesma gravação, informa que os bois foram mortos por oito bandidos, segundo a polícia, em uma fazenda no município de Conde (BA) – e não em Santa Catarina, como desinformam posts que viralizaram. O crime ocorreu na madrugada de 18 de abril. A repórter conta que a quadrilha tentou levar a carne para vendê-la no mercado ilegal, mas teve que abandoná-la porque o caminhão atolou.

Sites locais da Bahia também registraram o assalto (Esplanada News, Informe Baiano).

Os posts também afirmam que o MST é apoiado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O chefe do Executivo tem, de fato, uma relação histórica com o MST, mas a história entre eles também é cheia de atritos, vindo dos dois lados, como informa a Folha.

Ao Comprova, a assessoria de imprensa do MST disse se tratar de mais um caso de desinformação contra o grupo, em uma “clara tentativa de criminalizar e disseminar ódio contra o movimento”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Kwai, posts com o vídeo enganoso haviam sido visualizados cerca de 2 mil vezes até 25 de maio e, no Twitter, aproximadamente 600 vezes.

Como verificamos: O primeiro passo foi a busca pelo contexto da gravação do vídeo e se ele era real, ou seja, não havia sofrido qualquer adulteração de imagem ou som. Foram feitas pesquisas em sites de busca por notícias sobre ataques a bois no Brasil em 2023 e se as imagens contidas nas matérias eram semelhantes ao vídeo verificado.

Foi analisado o áudio existente no vídeo para identificar alguma fala que pudesse indicar a localização e a data do ocorrido. Pelo sotaque e vocabulário utilizado pelo homem que narra o vídeo, foi possível perceber que se tratava de alguém do Nordeste do Brasil.

Essa constatação levou à restrição das pesquisas a crimes que ocorreram na região. A pesquisa também foi feita nas redes sociais. Pelo TikTok, foi encontrada uma publicação em que um usuário assiste a uma reportagem da RecordTV Itapoan sobre um crime de matança de boi em Conde, na Bahia, com as mesmas imagens do vídeo aqui verificado.

Ao pesquisar sobre o caso de abril de 2023, as imagens nas notícias eram as mesmas, assim como as falas utilizadas na narração do vídeo. O Comprova pediu o envio da reportagem completa para a RecordTV Itapoan, mas não obteve resposta.

Também foi procurada a Polícia Civil da Bahia para mais detalhes do caso, mas também não houve retorno, e a assessoria de imprensa do MST.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contato com perfis que publicaram o conteúdo, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Os posts usam um vídeo verdadeiro, mas tiram as imagens de contexto, uma tática comum entre os desinformadores. As cenas são chocantes e, ao ver um conteúdo assim, sendo associado a um grupo social conhecido do Brasil, o MST, desconfie. Se fosse verdade, veículos da imprensa profissional não teriam noticiado o caso? O alerta já começaria aí, pois, ao buscar na internet palavras como “MST” e “bois mortos”, os resultados não mostram nada parecido com o que é mostrado no vídeo.

Outro ponto de atenção é o final da legenda que aparece sobre o vídeo. Ela diz “Viralizar é obrigação de todos”. Desinformadores costumam usar esta técnica para disseminar conteúdos duvidosos. Então, ao se deparar com publicações com mensagens que pedem compartilhamento imediato, também desconfie.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O MST é alvo frequente de conteúdos de desinformação. Recentemente, por exemplo, o Comprova verificou ser enganoso post de deputado que associa ocupação em bairro nobre de São Paulo ao movimento, a Boulos e a Lula. No ano passado, o Projeto classificou como falso título usado em publicação dizendo: “Agronegócio deve ser eliminado da terra, diz Lula e MST”.

Verificado por: Estado de S. Paulo (Estadão), A Gazeta, Jornal Plural, Grupo Sinos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação