É verdadeiro o vídeo onde o deputado estadual Frederico D’avilla (PL/SP) faz um discurso no púlpito da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e xinga o arcebispo da Arquidiocese da cidade paulista de Aparecida, Dom Orlando Brandes, a Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) e o Papa Francisco. No entanto, a fala ocorreu em outubro de 2021.
A gravação voltou a viralizar nesta quinta-feira (13/10), devido as comemorações do feriado de Nossa Senhora Aparecida, na última quarta-feira (12/10), e está sendo utilizado por apoiadores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para acusar o chefe do Executivo e postulante à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), de ser contrário à igreja católica. Correligionário de Bolsonaro, D’avilla é apoiador do presidente.
Durante as comemorações do 12 de outubro deste ano, o Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, afirmou ser preciso combater o “dragão do ódio”. Horas depois, o presidente Bolsonaro esteve no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida para a celebração católica. O arcebispo disse que, independente da intenção, o chefe do Executivo e candidato à reeleição seria bem-vindo.
"Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos, então precisamos ser fiéis a nossa identidade católica, mas seja qual for a intenção, (ele) vai ser bem recebido", declarou o líder religioso.
Contexto do discurso de D’avila
Assim como nos festejos de Nossa Senhora Aparecida deste ano, em 2021 o Dom Orlando Brandes também fez uma pregação que incomodou o governo de Jair Bolsonaro. Também sem citar o nome do presidente, o religioso defendeu que o lema “Pátria amada Brasil” - frase final do hino brasileiro - não deveria ser confundido com “Pátria armada, Brasil”.
A declaração soou como uma crítica à concepção política de Jair Bolsonaro,que é declaradamente favorável à posse e ao porte de armas pela população civil. Quanto ao Papa Francisco, dias antes do discurso de D'ávila, o pontífice havia criticado o fato de a comunidade global gastar recursos com armas.
“Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas de forma justa e menos armas comercializadas indiscriminadamente”, disse Francisco, em frente ao antigo Coliseu, no dia 7 de outubro de 2021.
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Discurso de Frederico D'avila
Diante do contexto de críticas ao atual presidente da República e de questionamentos à bandeira armamentista, o deputado estadual Frederico D'avila usou o púlpito da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para discursar contra o arcebispo da arquidiocese de Aparecida, Dom Orlando Brantes, e o Papa Francisco.
Nas palavras do parlamentar, os dois líderes religiosos são “safados”, “vagabundos” e “pedófilos”.
“Seu safado da CNBB dando recadinho para o presidente [Bolsonaro], para a população brasileira, que pátria amada não é pátria armada. Pátria amada é a pátria que não se submete a essa gentalha. (…) Seu vagabundo, safado, que se submete a esse papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito, do bem-estar e do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos safados, a CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil”, ofendeu Frederico D’ávila.
Punição
À época, o discurso do parlamentar gerou uma série de questionamentos na sociedade e entre os colegas da Alesp. A CNBB enviou, no dia 18/10/2021, uma carta à assembleia em que cobra punição ao deputado.
Sobre o tema, o presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari (PSD-SP), fez um pedido expresso de desculpas ao Papa Francisco e a dom Orlando Brandes, à CNBB e a todos os ofendidos pelas palavras do parlamentar, que "não representam a opinião da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo".
Ele também afirmou acreditar que “o parlamentar também reconheça seu excesso” e abre o espaço para uma retratação. Ele também apela para que “os extremos entendam, de uma vez por todas, que a divergência legitima a democracia''. Mas, não justifica a barbárie.”
Quatro meses após o deputado discursar contra o arcebispo, a Comissão de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo julgou que o mandato de Frederico D’ávila fosse suspenso por 90 dias. A recomendação do colegiado, porém, não foi aprovada pelo plenário da Casa.
Deputado pediu desculpas
Na mesma sessão em que o presidente da Alesp, Carlão Pignatari, lamentou o caráter ofensivo do discurso de Frederico D’Avila, o parlamentar pediu desculpas por ter xingado o arcebispo, o Papa e a CNBB.
“Meu pronunciamento foi inapropriado, exagerado, descabido e infeliz”, disse.
Sobre a nova onda de compartilhamentos do vídeo, nesta quinta-feira (13/10), o Correio tentou contato com o deputado Frederico D’Avila, mas não obteve sucesso até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para futuras considerações.
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