- Conteúdo investigado: Em vídeo publicado no Kwai e no YouTube, um homem apontado como “líder dos advogados do PT” é gravado ao nível da cintura enquanto bebe um café, como se tivesse sido filmado com uma câmera escondida. Ele alega que haveria uma conspiração para fraudar pesquisas eleitorais e manipular votos nas urnas eletrônicas em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Onde foi publicado: Kwai e YouTube. Também circula no WhatsApp e no Facebook
Conclusão do Comprova: Não é verdade que um “líder dos advogados do PT” tenha dito em um vídeo que existe uma conspiração para fraudar pesquisas eleitorais e manipular votos em favor do ex-presidente Lula. O homem que aparece na gravação é um comediante, e o conteúdo foi publicado originalmente no Kwai e no YouTube como piada.
O autor da peça é Warley Alberto Clauhs, também conhecido como Nana Arroba. Na legenda, ele se identifica como “Dr. Avacalho Ellhys” — um personagem fictício de “advogado pilantra”, cujo nome é um trocadilho com a expressão “avacalho eles”.
Em material divulgado no site oficial de Lula, o PT negou que o “Dr. Avacalho” seja advogado do partido ou do ex-presidente. Ao Comprova, a assessoria de comunicação de Lula afirmou que “o vídeo não tem nenhuma veracidade e infelizmente faz parte de uma campanha da extrema-direita brasileira contra a democracia e o debate público honesto”.
O Comprova classificou o material como sátira porque se trata de uma publicação que foi compartilhada com o intuito de fazer humor, ainda que parte dos usuários nas redes sociais tenha interpretado erroneamente o conteúdo como verídico. Perfis que replicaram o conteúdo no Kwai e no WhatsApp também ocultaram o nome do personagem, amplificando a desinformação.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até 22 de abril, o vídeo checado teve mais de 16 mil visualizações no Kwai e 51 mil no YouTube, além de viralizar no WhatsApp, para o qual não há métricas de compartilhamento disponíveis.
O que diz o autor da publicação: Procurado por e-mail, Warley Alberto Clauhs confirmou ser o homem que aparece no vídeo e que o conteúdo é uma sátira. Ele afirmou que todas as suas contas nas redes sociais “têm uma descrição do autor e a modalidade de material criado”.
Como verificamos: O Comprova começou a verificação a partir da análise do conteúdo original e do perfil do autor no Kwai. Ao pesquisar pelo nome do personagem “Dr. Avacalho Ellhys” e por palavras-chaves sobre o conteúdo no Google, a reportagem chegou a um canal no YouTube que informa que o homem que aparece nas imagens é o “humorista mineiro Warley Clauhs”.
Essa informação foi usada em novas buscas, que revelaram que o comediante havia se lançado como candidato a vereador nas eleições municipais de 2016 e 2020. Foi então possível encontrar os registros das candidaturas (1 e 2) no site de divulgação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A assessoria de comunicação do ex-presidente Lula foi procurada e respondeu por mensagem de texto. O site do político publicou uma nota a respeito do assunto no dia 20 de abril.
Sobre o perfil
O nome verdadeiro do autor da peça é Warley Alberto Clauhs, que se apresenta em seu perfil do Kwai como “professor, ator, poeta, locutor, comediante, imitador e político”. Ele foi candidato a vereador nas duas eleições municipais mais recentes.
Em 2016, concorreu pelo Progressistas na cidade de Açailândia (MA). Quatro anos depois, nas eleições de 2020, foi candidato em Rondon do Pará (PA), pelo Republicanos. Nas duas ocasiões, classificou-se como vereador suplente. De acordo com informações declaradas para o TSE, Warley é natural de Teófilo Otoni (MG) e tem 42 anos.
O personagem do “Dr. Avacalho Elhys” aparece em vários outros vídeos do comediante. Além de “líder dos advogados do PT”, já foi apresentado também como advogado “dos grandes políticos” — são citados João Doria (PSDB), Flávio Dino (PSB), Helder Barbalho (MDB) e Ruy Costa (PT), entre outros — e “das empresas fabricantes de vacina contra a covid-19”. O comediante também interpreta uma drag queen chamada Nana Arroba e já fez vídeos em que as duas personagens interagem.
Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos suspeitos que viralizaram a respeito de eleições, políticas públicas e pandemia de covid-19. Apesar de ter sido publicado originalmente como sátira, o vídeo aqui verificado levou alguns usuários nas redes sociais a acreditarem nas declarações falsas feitas pelo comediante acerca da confiabilidade do processo eleitoral e de pesquisas de intenção de voto.
O vídeo deu origem a comentários como “essa tática dos corruptos do PT é muito preocupante”, “isso é muito sério, crime envolvendo o nome de pessoas do STF” e “essas pessoas perderam toda ética profissional”. No Facebook, perfis conservadores repercutem o material agradecendo ao “petista traíra” que fez a gravação e alegando que a fala supostamente confirma “o que todos nós já sabíamos” sobre pesquisas eleitorais e urnas eletrônicas.
O Comprova também recebeu o vídeo como sugestão de checagem pelo WhatsApp. No aplicativo de mensagens, o vídeo é acompanhado por legendas como “querem entender o que se passa? É preciso coragem para ver o incontestável (vídeo/áudio) do advogado do PT orientando como continuar a fraudar as eleições” e “esse é advogado do PT ou uma montagem?”.
Outras checagens sobre o tema: O vídeo analisado pelo Comprova também foi checado pela agência Lupa, pelo site Boatos.org e pela AFP. A AFP e a Lupa classificaram o conteúdo como falso, destacando que ele foi criado em tom humorístico, mas desinforma a respeito do processo eleitoral e das pesquisas de intenção de voto para presidente. O Boatos.org esclareceu que se trata de uma peça humorística.
Esse é mais um exemplo de desinformação acerca das eleições presidenciais de 2022, que se tornou um dos principais focos de teorias conspiratórias e falsidades a favor ou contra determinados políticos. Recentemente, o Comprova mostrou que nenhuma pesquisa eleitoral aponta 70% de votos para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que uma enquete feita em restaurante de Minas Gerais não pode ser considerada pesquisa eleitoral e que um texto anônimo alegando que o ministro Luís Roberto Barroso teria prometido atuar contra reeleição de Bolsonaro é falso.