Brasil tem tradição na recepção de migrantes e refugiados
Desde o século 19, o país recebe imigrantes de diversos países. italianos, alemães, japoneses e holandeses vieram a trabalho com a promessa de um país próspero
Desde o século 19, o país recebe imigrantes de diversos países. italianos, alemães, japoneses e holandeses vieram a trabalho com a promessa de um país próspero
À parte a colonização portuguesa, a migração no Brasil teve um salto relevante no século 19. O país recebeu imigrantes italianos, alemães, japoneses e holandeses, que vieram a trabalho com a promessa de um país próspero. Até hoje é possível perceber a contribuição cultural e social das diferentes nacionalidades, seja pela culinária, pela arquitetura ou pelos costumes.
Ao longo dos anos, o Brasil começou a participar da construção de políticas internacionais para refugiados e migrantes, como a Convenção de 1951 — que foi aderida pelo país em 1960. Porém, com o regime militar (1964-1985) nos anos subsequentes, as orientações para receber fluxo migratório acabaram não sendo colocadas em prática. Mesmo assim, alguns argentinos, chilenos e uruguaios recorriam a entidades religiosas, como a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro e São Paulo, para receber asilo.
Com a volta da democracia no país, importantes legislações foram criadas para comportar a demanda de refugiados e migrantes que chegavam, como a Lei Brasileira de Refúgio, de 1997, o Visto Humanitário, de 2012, e a política para refugiados e migrantes na América Latina, de 2014.
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto com magnitude 7.3 na Escala Richter matou mais de cerca de 230 mil pessoas e deixou mais de 1 milhão de desabrigados, devastando a capital do país, Porto Príncipe. Com poucos recursos e estrutura, o país precisou de ajuda humanitária para recuperar-se.
Nos meses seguintes, devido à falta de saneamento básico adequado, uma epidemia de cólera assolou o país. Mais de 10 mil pessoas morreram e 700 mil foram infectados. Assim, a partir do cenário de crise humanitária, o fluxo migratório se intensificou.
Desde 2004, o país já enfrentava instabilidades políticas e sociais. Houve um conflito armado interno no local que culminou em missões de paz feitas por organizações internacionais. Em 2012, com o início do Visto Humanitário, os muitos haitianos escolheram o Brasil como lar, inclusive, permanente.
No ano seguinte, 2013, essa corrente migratória ganhou intensidade e os haitianos chegaram a figurar como principal nacionalidade estrangeira no país — cerca de 15 mil, segundo a OBMigra. Em 2022, o número era bem menor — 5 mil pessoas. A ONU identificou, porém, uma retomada crescente de emigração dos haitianos desde 2021, após o assassinato do presidente Jovenel Moise gerar conflitos políticos e dificultar as condições econômicas. De acordo com a entidade, no ano passado, 97% dos haitianos afirmaram que deixaram o país pela violência urbana e 2%, por desastres naturais.
A Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, mas, desde 2014, sofre com a queda nas exportações. Após a morte de Hugo Chávez, em 2013, Nicolás Maduro assumiu o comando do país e enfrenta críticas internacionais, o que dificulta as negociações econômicas.
A situação foi agravada em 2017, quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou uma série de sanções econômicas ao país. A primeira delas foi a proibição de contrair empréstimos no mercado financeiro norte-americano, o que impediu a Venezuela de reestruturar sua dívida externa.
Com isso, o país sofreu com hiperinflação e aumento do desemprego, da pobreza e da fome, o que acabou ocasionando no deslocamento forçado, refúgio dessas pessoas. Em especial, aqueles que estão mais vulneráveis socialmente.
A Agência da ONU para Refugiados registrou aumento de 8.000% nos pedidos de refúgio de venezuelanos desde 2014, principalmente para países da América Latina e Caribe. De acordo com a entidade, mais de 5,4 milhões de venezuelanos viviam no exterior em 2023, um dos maiores índices de deslocamento do mundo.
O Brasil é o 6º país na região a abrigar mais venezuelanos. A nacionalidade, atualmente, representa a maior fatia de refugiados e migrantes no país, totalizando mais de 96 mil pessoas.
Guilherme Augusto Machado
Leonardo Guilherme Lourenço Moisés
Ana Dubeux
Reportagem: Mayara Souto | Edição: Andreia Castro | Coordenação: Carlos Alexandre de Souza e Mariana Niederauer| Fotos: Ed Alves | Vídeos: Arthur Ramos e Samuel Calado| Tecnologia: Patrick Lima e Vinícius Paixão
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