Um dia depois do incêndio no Edifício Joelma, especificamente na manhã de 2 de fevereiro de 1974, a manchete do Correio Braziliense anunciava a "maior tragédia do país": um incêndio em um condomínio residencial, que havia deixado 181 mortos até então. "Nunca, em toda a história de São Paulo, tanta gente chorando, rezando e implorando por um milagre, assistiu, estarrecida, a uma tragédia como essa", dizia a reportagem do jornal naquele dia.
Ao longo das páginas, o Correio trouxe imagens do prédio em chamas, das pessoas tomando o terraço do edifício, e até mesmo de pessoas se jogando do prédio — em busca de fugir do fogo. O desespero contagiou "até mesmo homens acostumados, por força das profissões que exercem a assistir às mais terríveis tragédias", que "chegaram a chorar quando as primeiras pessoas que se encontravam no prédio (...) jogarem-se do alto de edifício, estatelando-se nas calçadas".
A tragédia foi criando forma nas páginas do jornal. Metade de uma página foi dedicada aos depoimentos de quem sobreviveu. Ema Poli, Nadir Escovar, Ireni Nóbrega, Ismar Damião Silva — funcionários que se atrasaram, e, por descuido, acabaram salvando as próprias vidas. "Os bombeiros não poderiam ter demorado tanto", diz o título da seção. No total, foram mais de três horas para apagar as chamas, que consumiram os 22 andares do Joelma.
Outra matéria narra que "dezenas se atiraram do prédio em chamas", e conta a história de uma mãe que, desesperada, "jogou-se de um dos andares do edifício Joelma com seu filhinho seguro entre os braços". Ela faleceu, mas o filho foi levado a um hospital e conseguiu sobreviver.
No dia seguinte, 3 de fevereiro de 1974, o número de mortos foi atualizado. Eram agora 187 vítimas do incêndio, descrito pelo Correio como "pavoroso". As causas do incidente estavam sendo investigadas. "Apesar de se positivar, pelas fotos mencionadas, de que o incêndio teve lugar no 13º andar do prédio, não ficou plenamente confirmado de que as chamas tiveram origem em um aparelho de ar condicionado", dizia trecho da reportagem.
Cinquenta anos depois, o que parecia "insuperável" foi, aos poucos, sendo esquecido pelos brasileiros. Porém, ainda há registros vivos da dor e do sofrimento, descritos em palavras e em imagens publicadas em folhas de jornal.