Natal
Os Natais de Brasília: Correio relembra festas e histórias que marcaram o DF
Em seis décadas, o jornal que nasceu com a capital federal contou histórias emocionantes, mostrou as celebrações pela cidade e deu espaço para a solidariedade
Natal
Em seis décadas, o jornal que nasceu com a capital federal contou histórias emocionantes, mostrou as celebrações pela cidade e deu espaço para a solidariedade
Desde a década de sua inauguração, Brasília se veste de luzes e cores para celebrar a temporada natalina, tornando-se um verdadeiro palco de encanto e confraternização. Brasilenses, candangos e turistas de outros estados são envolvidos pela atmosfera mágica que só o Natal é capaz de proporcionar. O Correio Braziliense, jornal que nasceu no mesmo dia que a capital federal, acompanha como o povo do Planalto Central comemora seus fins de ano. Neste natal, relembramos histórias e celebrações que marcaram Brasília.
Entre os principais acontecimentos, as tradicionais decorações natalinas que adornam as avenidas e praças da cidade, dando vida ao céu noturno de Brasília e pintando os cartões postais da capital, como a Esplanada dos Ministérios ou as quadras que disputavam o título de "melhor decoração natalina do DF".
A solidariedade também tem presença garantida no Natal da capital. Ao longo dos últimos 63 anos, as páginas do Correio Braziliense contaram histórias de ações sociais e campanhas de arrecadação para ajudar quem mais precisam. Organizações não governamentais, empresas e voluntários se unem para proporcionar um fim de ano mais digno para famílias em situação de vulnerabilidade, reforçando o espírito de compaixão e generosidade.
O primeiro grande evento natalino da nova capital federal ocorreu em 1963, com um até então inédito espetáculo musical de canções de Natal. Um encontro de mil vozes sob o comando do maestro Livino de Alcântara encantou o Distrito Federal com apresentação de temas natalinos de todo o mundo, na Praça 21 de Abril — na entrequadra 707/708 Sul — que nas primeiras décadas de Brasília era o principal local de festas e cerimônias públicas.
Durante duas horas, o coral prendeu a atenção do público e arrancou aplausos de uma plateia de admiradores da festividades, com figuras públicas como o então ministro da Educação, Júlio Furquim Sambaqui, o embaixador Carlos Magno e outras autoridades.
Em 1993, o Natal foi marcado por uma ação da diretoria da Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos (ECT) que recebeu cartinhas direcionadas ao Papai Noel e distribui presentes com o intuito de espalhar a magia do Natal. Naquele ano, foram 400 cartinhas recebidas.
O Correio acompanhou a visita do Papai Noel dos Correios a casas de Samambaia. Uma das crianças que recebeu o bom velhinho foi Antônio Rodrigeus de Lima Júnior, de 10 anos. "Sempre acreditei nele, mas não imaginava que o Papai Noel fosse vir a minha casa", disse ao Correio.
A tradição segue até os dias de hoje. A campanha Papai Noel dos Correios já tem mais de 30 anos de história e em 2023 foram recebidas 237 mil cartas em todo país. Qualquer pessoa pode ir até uma agencia dos Correios e adotar uma cartinha. Depois, é só embalar o presente e colocar uma etiqueta com os dados da criança e entregar em um dos pontos de coleta.
O público-alvo da campanha são crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental em situação de vulnerabilidade, de escolas públicas, creches e orfanatos. Em parceria com as escolas, a campanha também tem caráter pedagógico, ao treinar a redação de cartas por parte das crianças.
A capa do Correio Braziliense do dia 25 de dezembro de 1994 estampava um Papai Noel fazendo embaixadinha. Era ano de Copa do Mundo, e não uma qualquer, a Copa que fez o Brasil tornar-se tetracampeão. Na imagem, Cristiano Pessanha Lobato, na época com 20 anos, jogava bola logo após terminar uma diária como Papai Noel. "Minha mãe guarda um prato da ceia para mim", disse ao Correio.
O Papai Noel Sírio Roberto da Costa, que trabalhava no Alameda Shopping, contou que precisava ficar calado ao ver a filha de 4 anos, para não ter a identidade secreta revelada. "Não pronunciarei nenhuma palavra para não ser identificado", contou.
Em 1997, o Correio Braziliense percorreu as ruas do Lago Norte e do Guará para mostrar uma competição que uniu moradores: a disputa pelo título de quadra com a melhor decoração de Natal e Ano Novo.
A decoração do conjunto 12 da QI 11 do Lago Norte foi a grande vencedora: foram 33 mil lâmpadas espalhadas, com destaque para uma estrela de Belém instalada na casa 15.
Elias Santana, um dos moradores da rua vencedora, compartilhou com a repórter Cristine Gentil, do Correio, a emoção e o entusiasmo com o prêmio. "Foi uma vitória de equipe, Todos os moradores do conjunto estão de parabéns", disse ele, vestido em uma roupa de Papai Noel.
Em 2002, o Correio Braziliense colocou luz sobre as dificuldades enfrentadas por abrigos para idosos do DF. O Lar São José, em Sobradinho, corria risco de fechar as portas por falta de verba, o que poderia deixar os 52 idosos que moravam no local sem um lar em pleno Natal.
Fundado em 1973, o Lar faz parte da Casa do Candango, entidade filantrópica que existe na cidade desde 1962. ‘‘A grande maioria do nosso público provém de famílias carentes, que não têm condições de cuidar deles. Mas também temos muitos idosos que não têm ninguém, que chegam aqui sem nada’’, contou ao Correio o então diretor da instituição, João Florêncio Pimenta.
Em 2002, os 23 funcionários do lar ficaram seis meses sem receber, e só continuaram no trabalho por carinho aos idosos atendidos gratuitamente. Naquele ano, além de doações de dinheiro, a instituição precisava de alimentos para a ceia de Natal, e visitantes, para conversar e dar carinho aos idosos.
‘‘Aqui é minha casa, não tenho outro lugar para viver’’, contou Eleonora Melo, 72 anos, ao Correio, em 2002. Efigênia Nunes de Souza, 92, concordou com a amiga. ‘‘O Lar São José é tudo para mim. Nem posso pensar na possibilidade de vê-lo fechado’’, afirmou.
Naquele ano, o Correio publicou uma lista com instituições que atendem idosos e precisavam de ajuda.
21 anos depois, o Lar São José continua de portas abertas, mas ainda precisa de socorro. Confira abaixo como ajudar:
Uma reportagem triste marcou o fim do ano de 2003. O Correio contou a história das 12 mulheres e 35 crianças e adolescentes que viviam na Casa Abrigo, um espaço restrito para vítimas de violência doméstica, ameaças de morte ou abusos sexuais.
Uma das histórias contadas foi a da ex-diarista Conceição — nome fictício, como o de todas as pessoas ouvidas na reportagem. No começo de dezembro, ela comprou um leitão, um cabrito e bebidas para a festa de Natal. Mas nada disso foi usado. Ela deixou tudo para trás ao fugir de casa com os cinco filhos. ‘‘Minha filha de 4 anos foi estuprada por um vizinho e eu denunciei à polícia. Na delegacia, ele disse que eu ia pagar caro.’’
Passados dois dias, um homem encapuzado invadiu o barraco da dona de casa e espancou Conceição e os filhos de 7 e 9 anos.
‘‘Fugi para não morrer. Tenho apenas uma irmã, que não sabe o que aconteceu e nem onde estamos’’, diz Conceição. Apesar de viver com outras famílias que passam por situações parecidas, ela afirmou que aquele Natal não seria igual aos anteriores. ‘‘Preferia passar em casa. Mas é melhor estar ‘presa’ aqui dentro do que morta lá fora.’’
Naquela mesma edição, o Correio esteve no Centro de Abrigamento e Reencontro (Cear), em Taguatinga, onde 87 crianças e adolescentes esperavam um novo lar.
A reportagem contava sobre uma tradição de fim de ano: pessoas que procuram a instituição para levar crianças para suas casas durante as festas de Natal e de ano novo — modalidade que precisava ser autorizada por um juiz.
Uma menina de 9 anos contou ao Correio sobre a emoção de passar o Natal na casa de uma voluntária — aquele seria o primeiro fim de ano dela em um lar de paz. ‘‘Estou muito feliz. Gosto demais da tia, que tem uma filha da minha idade e uma casa muito bonita’’, comenta a menina, que estava no Cear há poucos dias, depois de fugir de casa. ‘‘Tenho 16 irmãos e meu pai bate muito na gente. Prefiro ficar aqui, onde a gente recebe visitas e presentes.’’
Em 2004, o Correio cobriu uma visita nobre ao Varjão... o Papai Noel, em carne e osso. O bom velhinho chegou de helicóptero na entrada da cidade e distribuiu 4 mil presentes para crianças carentes.
O repórter Marcelo Abreu, do Correio, esteve lá, às 15h20 do dia 22 de dezembro, quando o helicóptero pousou em um campo de futebol em frente à entrada do Varjão. Ao lado da figura de vermelho, um menino de 8 anos, cego de nascença, chamado Igor Carvalho, tocava flauta e teclado.
O Papai Noel pegou uma charrete e saiu pelas ruas enlameadas após uma chuva que atingiu a cidade. Seguiu até a Escola Classe do Varjão, onde mais de 2 mil crianças o esperavam. Ele entregou mais de 4 mil brinquedos — entre bolas, carrinhos e bonecas —, que foram arrecadados a partir de doações de empresários do Lago Norte.
O repórter do Correio detalhou a emoção: "Cada criança reagiu de uma forma especial à chegada de Papai Noel. Riso e choro estamparam-lhe os rostos. É como se, além dos presentes, a vida fosse lhes dar mais. Talvez um pouco mais de esperança. Um pouco mais de cidadania e dignidade. Um pouco mais de sonho, em meio a uma realidade em que se torna difícil até mesmo sonhar", escreveu o repórter Marcelo Abreu.
Na década passada, o Correio contou várias histórias emocionantes e de superação que marcaram o natal dos brasilienses. Em 2019, contamos a história das gêmeas siamesas Lis e Mel, que nasceram grudadas pela cabeça. Com 10 meses de vida, elas passaram por uma cirurgia inédita em Brasília, realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital da Criança de Brasília José Alencar.
Sete meses depois da cirurgia, as gêmeas, na época com 1 ano e seis meses, ficaram encantadas com a decoração natalina e se vestiram a caráter para desejar só coisas boas para todos que torceram por elas. Católica, a mãe das meninas, Camilla Vieira Neves, contou que o final de ano teve um significado especial. “Meu sentimento é de gratidão e amor por poder passar o Natal super bem com elas.”
Brasília, cidade de luz! Esse foi o tema do Natal de 2020, que contou com uma extensa programação do "Brasília Iluminada". A iniciativa, promovida pelo Governo do Distrito Federal, contou com 415.770m² de área enfeitada com luzes, árvores coloridas luminosas, espaço cultural para apreciar o céu da cidade, além de um presépio virtual entre a Esplanada dos Ministérios, Eixo Monumental e a Praça do Cruzeiro.
Apresentações de corais, queima de fogos e outros momentos de diversão marcaram o fim de um ano difícil — o primeiro da pandemia de covid-19. Ainda sem vacina, o brasiliense usou as lives e videochamadas para substituir as grandes reuniões de família. Uma das histórias contadas pela reportagem foi da manicure Camila Dias Reis, de 31 anos. Diferente dos anos anteriores, onde as comemorações juntavam mais de 20 pessoas, em 2020 ela encomendou uma ceia para somente duas pessoas — ela e o marido.
"Ano passado, a gente chegou a encomendar muita comida para levar para a ceia que foi feita na casa da avó do meu marido. Neste ano, a comemoração vai ser só entre nós dois, para preservarmos os familiares do grupo de risco”, explicou. Mas a manicure teve uma ajudinha da tecnologia para ver os familiares. "Eu vou fazer o natal aqui na minha casa e nós vamos fazer uma chamada de vídeo com as outras pessoas.
Não vai ser igual aos anos anteriores, mas, pelo menos, não vai passar em branco”, disse Camila, na edição de 19 de dezembro de 2020.
Neste ano, o GDF fez uma longa programação de fim de ano com eventos gratuitos que vão da Esplanada dos Ministérios até a Praça do Cruzeiro. A expectativa é receber mais de 1 milhão de visitantes em 18 dias.
Na Esplanada dos Ministérios, a Vila do Papai Noel tem um espaço dedicado à Casa do Papai Noel, com oficinas para crianças, feira de presentes, chuva de neve artificial, vila gastronômica e uma variedade de shows. Na Praça do Buriti, um espaço iluminado surge com a instalação Presépio de Luz, com esculturas iluminadas de quatro e seis metros de altura.
E na Praça do Cruzeiro, o público pode embarcar na Roda Mágica, além de aproveitar a vila de food trucks.
Você poderá conferir mais fotos do Natal em Brasília na exposição ‘Memória CB’ que está no Museu de Arte de Brasília (MAB) e faz parte do festival Brasília Photo Show 2023.
Um olhar retrospectivo de diferentes fotógrafos, incumbidos de documentar momentos especiais de Natal, revela imagens históricas da cidade preparada para a temporada de festas a cada ano. A decoração, a emoção das pessoas, os eventos comunitários e o espírito solidário que permeia o período você pode sentir por meio desses registros.
SERVIÇO
Exposição Memória CB: o Natal e a cidade nas lentes dos fotógrafos do Correio Braziliense
Entrada gratuita
Local: Museu de Arte de Brasília (MAB)
Endereço: Orla da Concha Acústica (SHTN Trecho 1, Lote 05) Lago Sul
Horário de funcionamento: 2ª a Domingo (exceto às 3ª feira), de 10h às 19h
Até 08/01/2024
Guilherme Augusto Machado
Leonardo Guilherme Lourenço Moisés
Ana Dubeux
Edição: Mariana Niederauer, Roberto Fonseca, Lorena Pacheco, Pedro Grigori Ronayre Nunes, Samuel Calado, Talita de Souza e Thays Martins | Pesquisa: Francisco Lima Filho e Mauro Ribeiro | Mentoria: Julio Gomes Filho | Tecnologia: Guilherme Dantas, Patrick Lima e Vinícius Paixão
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