Música

Relembre a primeira entrevista de Renato Russo ao Correio, em 1983

Nascido no Rio de Janeiro e criado em Brasília, o radialista e músico Renato Russo foi precursor do rock na capital federal, ainda na década de 80. Primeiros registros da carreira do astro do rock foram publicados no Correio Braziliense

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Débora Oliveira
13/12/2023 06:00 - Atualizado em 13/12/2023 18:55
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Renato Russo, o lendário vocalista e líder da banda brasiliense Legião Urbana, deixou um legado duradouro no cenário musical brasileiro. Nascido em 27 de março de 1960, no Rio de Janeiro, e criado em Brasília, Renato Russo começou a carreira musical nos anos 80. Em 1982, fundou a Legião Urbana, que se tornaria uma das bandas mais amadas e reverenciadas do país.

Um dos primeiros registros do grupo na mídia foi publicado pelo Correio Braziliense, em novembro de 1983. Com a chamada “Punks da Capital”, a matéria, assinada pela jornalista Maria do Rosário Caetano, faz um comparativo entre o movimento punk de Brasília — descrito como mais pacíficos, por ter surgido em “berço de ouro” no Lago Sul, propondo um ataque estético e até ético a uma sociedade que não o respeita como movimento — com o punk paulista, com uma linguagem um pouco mais agressiva.

 Crédito: Luiz Acioli/Reprodução. Banda Aborto Elétrico.       Caption
Renato Russo fundou a Legião Urbana em 1982, e não sabia que o grupo se tornaria uma das bandas mais amadas e reverenciadas do país. (foto: Luiz Acioli/Reproducao)

Na capital federal, o movimento punk não vicejou em bairros proletários, como na Ceilândia e Gama, por exemplo. Em Brasília, conquistou jovens da alta sociedade à sombra do poder, sendo quase todos filhos de membros do corpo diplomático e figuras importantes do governo federal, moradores de quadras elegantes do Lago Sul.

Para compreender o movimento e suas ramificações na prática, a repórter entrevistou Renato Russo, na época, um jovem de 23 anos, baixista e vocalista da banda Legião Urbana, a qual conciliava com a carreira de jornalista e locutor de rádio FM. Renato, inclusive, fez parte do grupo Diários Associados, ao qual pertence o Correio Braziliense.

Apesar da agenda atribulada de compromissos com a Legião Urbana, Renato foi locutor de três programas radiofônicos na Planalto FM no início da década de 1980. Uma pesquisa do Centro de Documentação do Correio Braziliense (Cedoc), realizado por Chico Lima Filho em 2017, resgatou a carta com o pedido de demissão (por causa da banda recém-criada) e o registro de empregado do cantor, por exemplo, apresentam datas e razões alegadas por Renato para deixar a função de locutor.

O músico e radialista foi admitido na Planalto FM em 1 de outubro de 1983, uma segunda-feira. Segundo o registro de empregado da emissora, Renato trabalhava das 9h às 14h e recebia salário mensal de 102.725 cruzeiros. Renato também apresentou um programa dominical. Das 10h às 14h, ele era responsável por Reprise, em que tocava clássicos nacionais e internacionais dos anos 1960.

A carreira de Renato na Planalto durou até dezembro do mesmo ano. A carta de demissão do cantor, um dos documentos obtidos pelo Correio, é datada de 9 de dezembro de 1983, uma sexta. No comunicado, datilografado, Renato explica as razões da saída. "Sou levado a esta atitude em face de compromissos de caráter artístico, junto ao conjunto musical Legião Urbana, que me obrigam a constantes ausências desta capital", escreveu o cantor.

"Descobrimos a saída: o punk"

Na matéria escrita por Maria do Rosário Caetano, Renato conta sobre sua visão em relação ao movimento punk. “O punk apareceu na Inglaterra quando a juventude ligada ao rock and roll sentiu a necessidade de uma música que falasse de seus problemas. O rock andava muito esotérico, muito cósmico. Distanciava-se cada vez mais dos temas cotidianos da juventude”, iniciou o cantor.

“Tomemos o Rick Wakeman como exemplo. Ele era um músico erudito que resolveu navegar nos mares do rock , mas seus temas eram muito sofisticados, seu som era muito elaborado. Foi aí que a moçada inglesa quis algo novo, que falasse de seus problemas diários. No Brasil, nós jovens que nunca tínhamos ouvido falar em Orlando Silva, nos sintonizamos no rock internacional. Seja através de filmes e ou televisão. Sacamos também que o rock tinha morrido. Fora as experiências cósmicas do Yes Genesis e similares, nós estávamos entre dois lances, a MPB ou a discotheque. Nenhum nos interessava. A MPB falava “na sensação das cordilheiras“, (referência a um sucesso de Simone) e a discotheque não dava mais. Restava a música erudita que nunca foi lance preferencial da juventude. Aí descobrimos a saída, o punk”, explicou Renato Russo.

Questionado sobre estar limitando as alternativas musicais do país, Renato discordou. “Não, o lance antes da abertura política, era o jovem escolher sua lavagem cerebral: MPB ou discotheque. Os discos instigantes eram censurados, como o Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento”, pontuou o músico.

Indo além da contribuição para a matéria, Renato Russo teve uma importante contribuição para o cenário do rock brasileiro, sendo um dos responsáveis por popularizar o gênero no Brasil, influenciando gerações de músicos e fãs.

Integrando a icônica banda Legião Urbana lançou uma série de álbuns de sucesso, incluindo Legião Urbana (1985), Dois (1986), e Que País É Este (1987), que continham músicas que trazem o tom ativista de Renato, que usava sua voz para levantar questões sociais e políticas, inspirando seus fãs a pensarem criticamente sobre o mundo e o sistema da época.

 

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