Memória
Entre idas e vindas: conheça a história do Aeroporto de Brasília
Lugar de despedidas e DE reencontros, o Aeroporto de Brasília é parte importante da história candanga
Memória
Lugar de despedidas e DE reencontros, o Aeroporto de Brasília é parte importante da história candanga
Pode soar estranho dizer que o aeroporto estava incluso nos pontos de lazer de Brasília, mas ir à pista de pouso e decolagens ver os aviões foi, por muitos anos, um dos passeios favoritos dos moradores da capital recém-criada. O terminal, inaugurado em 3 de maio de 1957, também faz parte da história da construção da cidade de Juscelino Kubitschek e esse é o tema de mais uma matéria da série Brasília sexagenária.
Os visitantes ficavam a alguns metros das aeronaves em um terraço. Dali viam os aviões subirem e descerem, a tripulação embarcar e desembarcar. Entre os tchauzinhos e sorrisos de despedidas e reencontros, a servidora pública Juliana Campos, 44, à época com apenas 5 anos, encantava-se com o tamanho das aeronaves. “Quando íamos buscar meu pai no aeroporto, eu me animava. Tenho a cena guardada na minha memória, das pessoas olhando os aviões. Era muito bom. Às vezes, a gente ia só para passear mesmo. Era um local de passeio”, recorda.
As lembranças dos passeios ao terminal fazem Juliana sentir um carinho especial pelo lugar. “Fico tentando encontrar na planta do novo as partes do antigo. Ele era tão pequeno. Hoje, mesmo diferente, traz muito memória afetiva”, ressalta. Juliana recorda que o espaço era um dos points da cidade. “Muita gente ia só para tomar café da manhã. Muitos jovens saíam à noite (para a balada) e, de manhã, iam direto para lá”, diz.
Se para Juliana o Aeroporto de Brasília remete à diversão de infância, para Marcos Trindade, 59, o espaço é sinônimo de crescimento profissional. No terminal, o gerente de logística conseguiu o primeiro emprego na capital, há 41 anos. “Eu vim do Piauí para Brasília em 1979. Fiz um teste para trabalhar no estacionamento. Uma semana depois, me chamaram para trabalhar no setor de cargas”, relata. A função era de separador, apenas o início de uma carreira. À época, Marcos nem imaginava que chegaria ao cargo de gerência na área. “Eu sou responsável por toda carga que vem ou vai para o exterior. Todos os objetos importados ou exportados passam pela gente”, acrescenta.
No aeroporto, Marcos também conheceu a mulher, Maria Edileuza, 62, com quem é casado há 36 anos. “Ela trabalhava em uma companhia aérea. A gente começou a se falar no Parque da Cidade. Aqui a gente se via, mas não conversava”, lembra. No terminal, Marcos presenciou as regras da ditadura militar, com soldados vigiando os portões, e o vai e vem de autoridades quando o regime terminou. “Eu lembro da posse de Fernando Collor. Veio muito chefe de Estado. Aqui era pequeno, foi uma loucura”, recorda. O gerente de logística também lembra do aeroporto como um ponto de encontro. “As pessoas vinham bem arrumadas, salto alto, bem vestidas, maquiadas, como se fosse um passeio em shopping”, completa.
Antes de ser instalado onde está hoje, o Aeroporto de Brasília funcionava na Base Aérea de Brasília, bem perto. Ali, construíram a primeira pista, onde pousavam e decolavam as grandes aviações. Em 3 de maio de 1957, o terminal foi oficialmente inaugurado com o primeiro voo comercial da companhia aérea Pan American, para Nova York. Na data, ocorria também a primeira missa da cidade, na Praça do Cruzeiro. Tempos depois, fizeram uma segunda pista, de 4 mil metros. À época, a estação de passageiros ainda era de madeira, assim como muitas outras coisas na cidade. Nos três primeiros meses, a movimentação era grande, com 268 pousos e decolagens, sendo 2,7 mil desembarques e 2,5 mil embarques.
Alguns anos depois da inauguração de Brasília, em 1971, vieram as pistas definitivas e a edificação de alvenaria. O historiador Adirson Vasconcelos lembra da polêmica sobre o projeto. “Todas as obras eram assinadas por Oscar Niemeyer, e ele era declaradamente comunista. O governo da época era militar. Por isso, ele foi colocado de escanteio, porque arquitetaram o aeroporto em uma área militar”, conta.
O nome também entrou em discussão anos depois. “Vários defendiam que o nome deveria ser Juscelino Kubitschek. Eu mesmo fiz alguns artigos defendendo isso. Passados alguns anos, o então senador José Roberto Arruda apresentou um projeto solicitando que o nome fosse em homenagem ao idealizador de Brasília e, assim, conseguimos”, relata Adirson.
Em 1999, batizaram o terminal como Aeroporto Internacional de Brasília Presidente Juscelino Kubitschek. “Tivemos uma solenidade linda, em homenagem ao fundador e aos construtores. Hoje, temos o melhor do Brasil”, avalia o historiador. Entre 1973 e 2013, a administração ficou sob a responsabilidade da Infraero. Atualmente, a gestão é da Inframerica.
Fonte: Aeroporto de Brasília
Essa matéria foi publicada originalmente em 08/03/2020.
Guilherme Augusto Machado
Leonardo Guilherme Lourenço Moisés
Ana Dubeux
Edição: Mariana Niederauer, Roberto Fonseca, Lorena Pacheco, Pedro Grigori Ronayre Nunes, Samuel Calado, Talita de Souza e Thays Martins | Pesquisa: Francisco Lima Filho e Mauro Ribeiro | Mentoria: Julio Gomes Filho | Tecnologia: Guilherme Dantas, Patrick Lima e Vinícius Paixão
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