Superação

A jovem que frequentou escola no campo e vai cursar medicina

Joyce de Oliveira estudou, boa parte de sua vida, na zona rural do DF. Ela, que sempre frequentou o ensino público vai para uma universidade federal

Mila Ferreira
postado em 01/02/2025 06:00 / atualizado em 01/02/2025 11:38
 2025 Carlos Vieira/CB Press. Joyce de Oliveira, filha de produtor rural, passou para medicina na UFG. -  (crédito:                                      )
2025 Carlos Vieira/CB Press. Joyce de Oliveira, filha de produtor rural, passou para medicina na UFG. - (crédito: )

Aluna do Centro Educacional 104, no Recanto das Emas, Joyce de Oliveira, 18 anos, conquistou uma vaga para o curso de medicina no campus da Universidade Federal do Goiás (UFG). A família está em êxtase desde que a tão sonhada vaga foi confirmada ao verificarem o resultado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Filha da dona de casa Jovilma de Oliveira, 58, e do produtor rural Jackson Antero, 57, Joyce passou por uma trajetória de dificuldades e superação até conseguir realizar o sonho de ser aprovada para começar a estudar medicina em uma universidade pública.

"Eu pensava que não era possível fazer medicina, achava que não era para mim. Mas, com o tempo, isso foi mudando. Comecei a me preparar para o vestibular, pesquisar mais sobre a universidade pública, como funciona o processo para entrar e fui percebendo que sim: eu posso, sim, cursar medicina", contou Joyce ao Correio.

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A jovem caloura nasceu em Ceilândia e cresceu numa chácara, no Incra 9. Estudou em uma escola daquela zona rural até o final do ensino fundamental. Quando completou 15 anos, mudou-se para a casa de uma tia, no Recanto das Emas, a fim de cursar um estabelecimento que oferecesse uma melhor formação escolar e resolvesse uma preocupação dos pais dela. "O ensino médio, na escola que ela estudava, era à noite, e a gente achava a região muito perigosa, esse foi outro motivo para a enviarmos ao Recanto", disse a mãe de Joyce. "Sempre que eu ia às reuniões de pais, ouvia coisas como: 'sua filha vai longe, ela vai decolar'. Nunca duvidei do potencial da minha filha", declarou Jovilma com orgulho.

Já experiente em mudanças pela busca de mais conhecimento e formação, a moça agora dá mais um passo nesse caminhada. Em Goiânia, vai morar na casa de um tio. E quem pensa que a estudante pretende ficar por lá, se engana. Joyce ainda está na expectativa de saber o resultado do vestibular da Universidade de Brasília (UnB) e do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Caso aprovada, cursará medicina no DF.

Preparação

Durante o último ano, Joyce ia à escola pela manhã, voltava à casa da tia ao meio dia e, então, seguia uma rotina de estudos vespertina e que se estendia até parte da noite. "Depois de lavar a louça (do almoço), eu recomeçava a estudar por volta das 14h. Assistia aulas on-line no notebook, fazia resumos e respondia às questões de provas e simulados de anos anteriores. Parava para lanchar por volta de 17h e voltava aos livros às 18h. Daí, ia até às 21h30, às vezes até mais tarde. Além da escola, eu estudava entre seis e sete horas por dia, em média", detalhou. "No último ano, frequentei um cursinho presencial do Instituto Federal de Brasília (IFB), às terças e quintas-feiras. Aos sábados, participava do cursinho on-line 'Futuras Cientistas' e assistia aulas o dia todo", completou.

Todos os cursos e materiais utilizados pela estudante, durante o processo de preparação para o vestibular, eram gratuitos. "Eu nunca tive professor particular. Meu professor de matemática — Gabriel Borges — me passou o acesso de uma plataforma de estudo on-line e isso me ajudou muito", disse.

Borges, o generoso docente, relembrou que Joyce se destacou em sua trajetória rumo ao vestibular. "Ela sempre demonstrou um interesse muito grande pelas disciplinas e um respeito enorme pelos professores. Ela nunca gostou muito de matemática, mas tampouco deixou de estudar e se interessar pela matéria. Nas aulas, ela sempre tirava dúvidas comigo", relatou. "Ela sempre se mostrou bastante motivada por alcançar o sonho dela, sabia que podia transformar a própria realidade com isso. Joyce é exemplo de dedicação", afirmou com admiração.

O diretor da escola do Recanto das Emas, Felipe Renier, ressaltou ao Correio a dedicação de Joyce aos estudos. "Ela sempre foi uma aluna muito interessada, sempre nos procurava para saber sobre aulões extras que a escola oferecia. Era muito participativa nas aulas, conversava muito com os professores. (Seu desempenho) era incrível em todas as atividades da escola", contou.

Experiência

Joyce deixa uma mensagem aos alunos de escolas públicas. "Muitos estudantes têm a mesma história e a mesma jornada que eu. A eles, eu sugiro que aproveitem (os que ensinam) os professores. Eu tenho certeza que todos eles têm um prazer enorme em ajudar, em resolver questões, corrigir redação etc. Todos os meus educadores demonstravam uma satisfação imenso em me ajudar, mesmo fora do horário de aulas", afirmou. "Tudo que os professores falam é útil. Além disso, as pessoas precisam acreditar nelas mesmas. Muitas vezes, eu duvidei do meu potencial, cheguei a achar que nunca ia passar. Mas consegui. Os meus professores torciam muito por mim e me deram apoio emocional", garantiu.

Por sua vez, a mãe da futura médica acrescentou: "Eu agradeço a Deus por cada profissional que se dedica à educação dos jovens. Vocês transformam vidas". Jovilma tem certeza de que as orientações que sua filha recebeu terão retorno positivo para a sociedade, com um trabalho de qualidade que Joyce realizará na área de Saúde.

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