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PAS 2: especialistas e estudantes avaliam a prova do último domingo

A segunda etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) foi realizada neste último domingo (20). Veja o que professores e alunos acharam da avaliação

Gabriel Bezerra*
postado em 23/06/2021 16:03 / atualizado em 23/06/2021 18:43
A prova foi adiada, mas ocorreu no último domingo, finalmente -  (crédito: Vinícius Cardoso/Esp. CB)
A prova foi adiada, mas ocorreu no último domingo, finalmente - (crédito: Vinícius Cardoso/Esp. CB)

Neste último domingo (20), foi aplicada para mais de 18 mil estudantes a segunda edição do Programa de Avaliação Seriada (PAS). A avaliação desenvolvida pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) inicialmente seria realizada no dia 14 de março, porém, em janeiro deste ano, devido ao alto índice de contágio da Covid-19 na capital federal, a UnB decidiu realocar o data de realização da prova para o mês de junho.

Elaborada pela primeira vez em 1995, o programa é uma das maneiras em que os vestibulandos podem entrar na Universidade de Brasília (UnB). Realizada durante os três anos do ensino médio regular, as etapas são feitas com a intenção de verificar o desempenho dos educandos, ao longo da sua aprendizagem escolar.

Metade das vagas de ingresso para a UnB são disponibilizadas pelo PAS. Conhecido amplamente por ser o método mais fácil e acessível de ingresso, a avaliação serviu como ferramenta para que diversos jovens, não só brasilienses como também de todo o Brasil, realizassem o sonho de estudar na instituição.

Neste ano, devido à pandemia de covid-19, os estudantes não realizaram as provas no final do seu ano letivo escolar, como era de costume. Os candidatos que fizeram a segunda etapa do PAS, relacionada à segunda série do ensino médio, já estão em sua grande maioria, na metade do terceiro e último ano de ensino.


Adiamento

“A decisão foi tomada após análise do cenário epidemiológico no Distrito Federal e no Brasil, uma vez que há aumento dos índices de contágio pelo novo coronavírus em muitas localidades”, informou a instituição no seu site oficial.

Essa mudança foi para Pedro Paulo, de 17 anos, estudante do Centro de Ensino Médio 04 de Ceilândia, prejudicial para a sua rotina de estudos. “Esse adiamento acaba frustrando um pouco, e você acaba relaxando”, afirma.

Pedro, que atualmente está no terceiro ano do ensino médio e deseja cursar negenharia na Universidade de Brasília (UnB), diz que não conseguiu absorver o conteúdo aprendido no seu ano letivo anterior, por conta do ensino remoto. “Não consegui absorver muita coisa”.


Para o estudante de 17 anos, uma das suas maiores dificuldades na hora da prova foi na redação, na qual foi pedido para os candidatos realizarem uma dissertação sobre a frase do filósofo grego Aristóteles. “A esperança é o sonho do homem acordado”. O estudante diz que achou a proposta confusa, o que dificultou na hora da sua elaboração. “Não consegui conectar da melhor forma os assuntos”, conta o jovem.


Redação


Entrevistado pelo Eu, Estudante, Lucas Tomaz, professor de língua portuguesa e redação formado na Universidade de Brasília (UnB), explica que os jovens não esperam por um tema “mais abstrato”, devido à mentalidade imposta pelos cursinhos preparatórios e pelo método de ensino aplicado nas escolas públicas, que encorajam os alunos a tentarem acertar os temas que serão propostos nas avaliações escritas. “Muitos estudantes esperavam por um tema relacionado à pandemia, mas dá para falar sobre esperança e citar a pandemia, sobre esses tempos novos e pela vontade de ter tempos melhores”, explica o docente.


O professor, que atualmente trabalha no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina, diz que após a prova quase todos os seus estudantes disseram que ficaram decepcionados com o tema da redação. Já o especialista, após ter contato com o material aplicado no último domingo, afirma que gostou da proposta dos avaliadores. “Todos os temas que remetem à atualidade e à realidade dos alunos são pertinentes”, explica.


Perguntado sobre o método de aprendizado que utilizou com os seus alunos em Planaltina, Lucas afirma que não teve tempo disponível para ensinar técnicas de redação da melhor forma. “Em outra escola, eu dava aula três vezes por semana durante toda a parte da manhã. Agora, eu dou uma aula semanal de quarenta minutos e um dia para postar exercícios para os alunos fazerem no Google Classroom”, conta.

O professor de língua portuguesa e redação Lucas Tomaz, que atualmente dá aulas de redação e português no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina.
O professor de língua portuguesa e redação Lucas Tomaz, que atualmente dá aulas de redação e português no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina. (foto: Arquivo Pessoal)


Segundo o docente, esses quarenta minutos semanais foram usados para ensinar aos jovens os quatro tipos textuais mais cobrados no PAS: dissertação, tipologia argumentativa, carta argumentativa e artigo de opinião.


A dica que o professor dá para os vestibulandos é que eles não fiquem apenas tentando adivinhar os temas das avaliações escritas.”Você sabendo estruturar a sua redação e também sabendo a necessidade de incluir uma referência sociocultural, conseguirá facilmente desenvolver qualquer tema”, observa.


Para fazer uma boa dissertação — como proposto aos estudantes no último domingo — Lucas diz que o texto deve ser bem articulado, tendo coerência e coesão e respeitando as normas ortográficas. Além disso, ele diz que o candidato deve compreender que ele pode usar o seu conhecimento adquirido no dia a dia a favor do seu ponto de vista.


Referências socioculturais


Uma das candidatas que colocou as suas percepções pessoais na sua folha de redação foi a estudante Carolina Fernandes, de 16 anos, que estuda no Colégio Leonardo da Vinci. A jovem diz que além de citar o poeta Carlos Drummond de Andrade e a ativista Greta Thumberg no seu texto, também ousou definir o seu próprio conceito de esperança. “A esperança faz com que as pessoas tomem atitudes para correr atrás”, conta.


A estudante diz não ter dedicado tanto tempo de estudo para o Programa de Avaliação Seriada (PAS), pois a mesma diz ter foco em outros vestibulares. Apesar disso, a estudante acredita que teve um bom resultado no último domingo: “Não sinto que isso tenha me prejudicado muito, porque eu ainda me lembrava de bastante conteúdo do ano passado”


Carolina diz que essa sua forma de preparação para a prova a ajudou a manter a calma na hora da prova. Segundo a jovem, a sua escola foca muito na avaliação durante o ano letivo, o que acabou deixando-a muito ansiosa em relação à prova. “Eu me senti muito mais tranquila nessa edição do que na primeira, quando eu fiz o PAS 1, estava muito pressionada emocionalmente por conta dos estudos para a prova”, observa.

A estudante Carolina Fernandes, 16, estudante do Leonardo da Vinci.
A estudante Carolina Fernandes, 16, estudante do Leonardo da Vinci. (foto: Arquivo Pessoal)


A escola em que a estudante estuda disponibilizou diversos aulões sobre o PAS nas últimas semanas, porém, Carolina conta que não acompanhou todos. Também houve um período no qual o Leonardo da Vinci parou de lecionar os conteúdos do terceiro ano para voltar a relembrar os temas abordados no ano letivo anterior para ajudar os vestibulandos.


A jovem conta que ainda não decidiu qual curso irá fazer quando ingressar no ensino superior, segundo ela, a sua indecisão e também a de outros colegas pode ter sido ocasionada por conta da pandemia. “A gente não conseguiu ter tempo para pensar nos cursos porque estávamos tentando entender o EAD”, diz.


Ensino remoto


Diversos professores também sentiram dificuldades nessa saga de preparação para a segunda etapa. É o caso do professor de sociologia Carlos Bonfim, que dá aulas no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina. Segundo o professor, em suas aulas, a adesão dos estudantes é muito baixa.


De 200 alunos que ele educa na escola em que trabalha, aproximadamente 30 acompanham regularmente as aulas no Google Meet. Apesar disso, o professor diz que há um grande diferencial nessa situação. “Os poucos que vão são bastante interessados e envolvidos”, conta o professor.


Além disso, Carlos diz que o conteúdo de sociologia é bastante extenso, o que dificulta a transposição de tantos assuntos para os estudantes em tão pouco tempo. “Só um tema daria para ser discutido em sala de aula em todo o semestre”, explica.


Segundo ele, estudar sociologia para as avaliações da Universidade de Brasília excede as questões objetivas do caderno de prova. “Quase todas as redações da UnB e do Enem têm alguma relevância sociológica”, afirma.


O especialista comenta que o tema da redação, que foi baseado na frase “A esperança é o sonho do homem acordado", poderia originar reflexões sociológicas nos estudantes. “Quem sonha quer modificar algo que já existe, nisso o estudante poderia falar sobre as transformações sociais, falar sobre misoginia, sobre LGBTfobia e outros temas”, conta.


Perguntado pelo Eu, Estudante sobre a adesão de seus alunos aos vestibulares de ingresso à Universidade de Brasília, o professor diz achar que muitos jovens se “estigmatizam” por serem estudantes de escola pública, e por isso não acreditam no seu potencial para passar na UnB. O docente, que mora desde a sua juventude em Planaltina-DF, ingressou na Universidade de Brasília (UnB) no final do século passado para cursar ciências sociais.


Cursinhos gratuitos


Muitos candidatos recorreram a cursos preparatórios para aprimorar ainda mais o seu aprendizado para a hora da prova. Um desses cursos é o disponibilizado pelo “Jovem de Expressão” para os estudantes da Ceilândia. O projeto existe desde 2007 e busca transformar as realidades dos jovens que vivem na periferia do Distrito Federal.


Uma das alunas do curso preparatório gratuito é Amanda Lira, de 17 anos, estudante do Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia. Ela diz não ter tido dificuldades na prova aplicada no último domingo, e conta que quase todo o seu aprendizado foi adquirido nas aulas fornecidas pelo coletivo. “Na prova, havia muita coisa que o Jovem de Expressão me ajudou, sem eles, eu não teria feito 1% daquela prova”, afirma.


A jovem, que deseja cursar biologia ou enfermagem na Universidade de Brasília (UnB) afirma ter terminado a prova com duas horas de antecedência. Ela diz que teve tranquilidade na hora de responder a avaliação escrita.

Amanda Lira, 17, estudante do Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia que pretende cursar ciências biológicas ou enfermagem na Universidade de Brasília (UnB).
Amanda Lira, 17, estudante do Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia que pretende cursar ciências biológicas ou enfermagem na Universidade de Brasília (UnB). (foto: Arquivo Pessoal)


Seguindo dicas do “Jovem de Expressão”, que aconselhava os jovens a citarem temas históricos nas redações, Amanda citou o clássico livro “O Diário de Anne Frank” escrito durante a Segunda Guerra Mundial. “Para falar sobre esperança, nada melhor do que falar sobre uma menina que mesmo vivendo durante uma guerra sempre teve esperança que tudo aquilo iria acabar”, conta a vestibulanda.


Ciências Exatas


Entrevistada pelo Eu, Estudante, a professora de física Alessandra Wigneron, que leciona no Centro Educacional Sigma, diz que achou o conteúdo de ciências exatas incluso na segunda etapa do PAS bastante diferente dos assuntos que estiveram presentes nas edições anteriores. “As operações matemáticas foram bem simples e, muitas vezes, o aluno não precisava nem usar a calculadora. A prova foi bem tranquila e acho que os alunos foram super bem”, comenta.


Segundo a especialista, vários conteúdos que são abordados nessa etapa do ensino médio não foram abordados na avaliação, como por exemplo, o estudo de ondas e de termodinâmica.

A professora Alessandra Wigneron, que dá aulas de física no Centro Educacional Sigma, localizado na Asa Sul.
A professora Alessandra Wigneron, que dá aulas de física no Centro Educacional Sigma, localizado na Asa Sul. (foto: Arquivo Pessoal)


Tendo em vista que os candidatos que fizeram a segunda edição do Programa de Avaliação Seriada (PAS) atualmente cursam o terceiro ano, nas últimas três semanas, o Sigma paralisou o calendário estudantil para relembrar conteúdos ensinados no ano anterior e assim poder ajudar os seus alunos que foram fazer a prova no último domingo (20).


Atualmente, a escola adota um sistema de ensino híbrido, no qual metade dos alunos assistem às aulas presencialmente nas instalações do colégio, e a outra acompanha os ensinamentos dentro de casa. Integrante do grupo de risco, Alessandra está, desde o início da pandemia, lecionando dentro de casa e diz sentir falta do contato presencial com os seus educandos: "Nada substitui".

 

*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

  • O professor de língua portuguesa e redação Lucas Tomaz, que atualmente dá aulas de redação e português no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina.
    O professor de língua portuguesa e redação Lucas Tomaz, que atualmente dá aulas de redação e português no Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina. Foto: Arquivo Pessoal
  • A estudante Carolina Fernandes, 16, estudante do Leonardo da Vinci.
    A estudante Carolina Fernandes, 16, estudante do Leonardo da Vinci. Foto: Arquivo Pessoal
  • Amanda Lira, 17, estudante do Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia que pretende cursar ciências biológicas ou enfermagem na Universidade de Brasília (UnB).
    Amanda Lira, 17, estudante do Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia que pretende cursar ciências biológicas ou enfermagem na Universidade de Brasília (UnB). Foto: Arquivo Pessoal
  • A professora Alessandra Wigneron, que dá aulas de física no Centro Educacional Sigma, localizado na Asa Sul.
    A professora Alessandra Wigneron, que dá aulas de física no Centro Educacional Sigma, localizado na Asa Sul. Foto: Arquivo Pessoal
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