Eleições 2022

Educação é o principal anseio entre jovens para o próximo governo

Se fossem governantes, jovens brasileiros investiriam em fortalecimento da educação, combate à fome, fortalecimento do SUS e planejamento para a recuperação econômica

Jáder Rezende
postado em 27/09/2022 13:00 / atualizado em 27/09/2022 13:00
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A educação é o principal anseio da maioria dos jovens brasileiros para o próximo governo, revela pesquisa coordenada pelo Atlas da Juventude, que ouviu mais de 16 mil jovens de todo o país. Para 63% dos entrevistados, este é o principal ponto a ser equacionado.

A pesquisa teve como base os efeitos da pandemia no país e corresponde a terceira edição da série de pesquisas “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, realizadas também em 2020 e 2021. As três edições juntas somam mais de 118 mil respostas.

O mais recente estudo mostra, ainda, que, na visão dos jovens, os candidatos devem, ainda, priorizar a saúde (56%) e a economia, trabalho e renda (49%) e a redução das desigualdades (25%).

O forte impacto da pandemia na saúde mental de jovens ainda é sentido. A maioria (6 a cada 10 participantes) afirma ter passado ou vem passando por ansiedade nos últimos 6 meses e 50% sentem o cansaço e exaustão frequentes como efeitos da pandemia. No levantamento, 18% dos jovens relataram depressão e 9%, automutilação ou pensamento suicida.

Na Educação, 55% afirmaram que ficaram para trás em termos de aprendizagem, como consequência da pandemia. E 11% ainda pensam em deixar de estudar nos últimos 6 meses, enquanto 34% já pensaram mas não querem mais parar.

Durante os anos da pandemia, parte dos jovens chegou a interromper os estudos em algum momento: em 2020, foram 28%; em 2021, 16% e em 2022, 3%. Já em termos de hábitos adquiridos durante a pandemia na educação, quase 7 a cada 10 citam o uso de tecnologias para estudar, e 5 a cada 10 relatam usar a internet para aprofundar os assuntos além do que é trabalhado em sala de aula pelos professores.

Para enfrentar os efeitos da pandemia no mundo do trabalho, jovens citam como ações prioritárias a oferta de cursos para a qualificação profissional e editais para fomento de projetos das juventudes.

Bases sólidas e evidências

O coordenador geral do Atlas da Juventude e Presidente do Conselho Nacional da Juventude, Marcus Barão, observa que a pesquisa traz uma base sólida de evidências para o poder público e também para a sociedade civil, sobretudo nesse período de incertezas. “Há coerência nas respostas, sobretudo no plano de fortalecimento da educação, combate à fome e ações de fortalecimento do SUS. Assim como no de recuperação econômica”, afirma, ponderando que a pandemia gerou graves consequências entre os jovens, levando essa parcela da população a ficar mais atenta o cenário político.

“Embora esses jovens se sintam pessimistas em relação à classe política, eles são grandes defensores do sistema democrático. Para se ter uma ideia dessa força, somente neste ano mais de 2 milhões de jovens tiraram o título de eleitor”, diz Barão.

Para o gerente de articulação do Itaú Educação e Trabalho, Diogo Jamra, os dados da terceira edição da pesquisa reforçam que o jovem busca apoio para ter uma inserção e permanência digna no mundo do trabalho, e não há como governar para as juventudes sem considerar políticas de educação e de fomento à profissionalização. “A pesquisa mostra que esse é o desejo do jovem”, alerta Jamra, observando que entre as prioridades que os entrevistados citam para melhorar a geração de trabalho e renda, a partir dos efeitos da pandemia, está a oferta de cursos técnicos.

“Metade dos jovens entrevistados considera que, na escola, os conteúdos mais importantes são os relacionados à preparação para o mundo do trabalho e ao desenvolvimento das competências socioemocionais. Essas são competências desenvolvidas, centralmente, pela Educação Profissional e Tecnológica (EPT) que, hoje, está inserida no Ensino Médio, possibilitando ao estudante unir a formação geral básica à formação profissional. A EPT deve ser vista como a primeira etapa de uma formação que será desenvolvida ao longo da vida do jovem e é nossa obrigação garantir sua oferta qualificada para essa população que será responsável pelo país amanhã”, afirma Jamra, ponderando que os próximos governantes devem estar atentos a esses anseios das juventudes e garantir políticas públicas que deem condições dos jovens se desenvolverem com qualidade para que, assim, consigam atingir seus projetos de vida.

Metodologia

A terceira edição da pesquisa foi realizada em parceria com Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Rede Conhecimento Social, Mapa Educação, Porvir, Unesco e Visão Mundial, com apoio de Itaú Educação e Trabalho, GOYN-SP e Unicef.

Nesta edição foram ouvidos 16.326 jovens de 15 a 29 anos, entre os dias 18 de julho a 21 de agosto de 2022. Após o isolamento social e a vacinação contra covid-19, o levantamento ouviu as juventudes para entender os impactos, os hábitos adquiridos e as prioridades para a saúde, educação, trabalho e renda. E, diante do período eleitoral, também foram feitas perguntas sobre o fortalecimento dos processos democráticos.

Veja as principais conclusões da pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E agora?”

Vida Pública

• 9 a cada 10 jovens defendem a Democracia e 8 a cada 10 concordam que a pandemia deixou as pessoas mais atentas à política.

• 82% irão votar nas próximas eleições, mas quase 7 a cada 10 estão pessimistas em relação ao comprometimento dos políticos com a sociedade.

• A carreira política, no futuro, atrai apenas 4% dos jovens.

• Segundo as juventudes, os candidatos devem priorizar a educação (63%), a saúde (56%), a economia, trabalho e renda (49%) e a redução das desigualdades (25%).

• Se fossem governantes investiriam em plano de fortalecimento da educação (32%), ações de combate à fome (30%), ações para fortalecimento do SUS (27%) e plano para a recuperação econômica (27%).

Saúde

• Observa-se forte impacto da pandemia do Coronavírus na saúde mental das juventudes. Para 82% dos jovens a pandemia ainda não acabou e para quase 5 a cada 10, a principal preocupação permanece relacionada ao receio de perder familiares ou amigos. E quase 4 a cada 10 se preocupam com a possibilidade de outras pandemias ou tem receio de passar por dificuldades financeiras.

• Diante dessas preocupações, 6 a cada 10 jovens pesquisados passaram ou vem passando por ansiedade nos últimos 6 meses. Mais de 5 a cada 10 relatam que a pandemia também intensificou o uso exagerado de redes sociais. E 50% sentem cansaço e exaustão frequentes como efeitos da pandemia. E 44% vivem a falta de motivação para as atividades cotidianas.

• O agravamento da saúde mental levou quase 3 a cada 10 a utilizar aplicativos de saúde mental nos últimos 3 meses. E as atividades que eles mais demandam para conseguir manter a saúde mental estão relacionadas à psicoterapia, enquanto 1/4 cita atividades de socialização, como encontrar amigos, e 4 a cada 10 citam atividades físicas.

• Quando questionados sobre ações prioritárias para que instituições públicas e privadas ajudem jovens a lidar com efeitos da pandemia, 47% sinalizam o acompanhamento psicológico especializado em jovens na saúde pública. E 39% citam o acompanhamento psicológico nas escolas. E ¼ pedem ações para garantir uma alimentação segura para os mais vulneráveis.

• Para 74% das juventudes, um dos aprendizados da pandemia é a importância da atenção à saúde mental. No entanto, 64% estão pessimistas em relação à saúde pública.

• Os e as jovens relataram a manutenção de importantes hábitos adquiridos na pandemia: Mais de 6 a cada 10 vão utilizar a máscara quando estiverem doentes e 7 a cada 10 permanecerão utilizando o álcool em gel ou lavando as mãos com mais frequência. E quase 7 a cada 10 manterão as vacinas em dia.

Educação e aprendizado

• Nos últimos 6 meses, 34% já pensaram em parar de estudar e 11% ainda pensam.

• 55% desses jovens sentem que ficaram para trás, em termos de aprendizagem, como consequência da pandemia.

• 82% pretendem continuar estudando após a conclusão da etapa que estão atualmente.

• Contudo, durante os anos da pandemia boa parte dos jovens chegou a interromper os estudos em algum momento: em 2020, foram 28%; em 2021, 16% e em 2022, 3%.

• 52% sentem que desenvolveu ou intensificou a dificuldade de manter o foco, 43% de se organizar para os estudos e 32% para falar em público, em função do período remoto.

• Em termos de hábitos adquiridos, quase 7 a cada 10 citam o uso de tecnologias para estudar. Cinco a cada 10 citam o uso da internet para aprofundar os assuntos e ir além do que é trabalhado em sala de aula pelos professores. Além do uso de ferramentas interativas para a aprendizagem. E 48% relatam que adquiriram o hábito de ler mais.

• Quase 5 a cada 10 jovens consideram que os conteúdos mais importantes para a escola, estão relacionados a preparação para o mundo do trabalho, e atividades para trabalhar as emoções. Para 1/3, as estratégias para organizar o tempo de estudo são essenciais.

• Mais de 7 a cada 10 estão otimistas em relação ao seu desenvolvimento nos estudos. E para cada 6 a cada 10 o otimismo prevalece em relação à qualidade do ensino e conexão da educação com o mundo do trabalho .
Em relação aos aprendizados que a pandemia deixou para a educação, 9 a cada 10 concordam que as pessoas entenderam que há várias formas de aprender, que a tecnologia está sendo mais bem utilizada na educação e que novas dinâmicas de aula e de avaliação foram adotadas.

• Pensando no Futuro da educação e nas prioridades para apoiar jovens a lidar com os efeitos da pandemia, são destacados, novamente, o apoio psicológico, desta vez para toda a comunidade escolar, a bolsa de estudo e auxílio estudantil e a ampliação de oportunidades para a educação profissionalizante.

Trabalho e Renda

• Em relação ao tema de trabalho e renda, quase 8 a cada 10 jovens estão otimistas em relação a oportunidades de qualificação profissional e surgimento de novas formas de trabalho.

• Pensando no futuro na área de trabalho e renda, são muitas as ações prioritárias para instituições públicas e privadas ajudarem jovens a lidar com efeitos da pandemia. As mais citadas foram: oferta de cursos para a qualificação profissional e editais para fomento de projetos das juventudes.

Perfil de jovens respondentes

• Dos 16.326 jovens (15 a 29 anos) que responderam a pesquisa, houve respostas de todos os estados do país.

• Há uma participação majoritária de mulheres (64%) em relação a homens (35%). E 1% se identificam como não binários ou outro gênero. Quase ¼ se consideram LGBTQIAP+.

• 42% são brancos, 56% negros (40% pardos e 16% pretos), 1% amarelos e 1% indígenas. 3% são jovens com deficiência. 13% são responsáveis por filhos ou enteados.

• Moram principalmente na zona urbana (93%). Poucos moram em territórios ou comunidades tradicionais (2%). Moram principalmente em capitais (36%) e interiores (36%).

• 81% dos jovens respondentes estavam trabalhando quando responderam a pesquisa (proporção muito maior do que a taxa de empregados nessa faixa de idade no Brasil hoje); desses, 63% têm contrato de aprendizagem. E a renda familiar desses respondentes é semelhante à média da população: 2% não tem renda familiar, 40% têm até R$ 2.200 mensais, 26% têm entre R$ 2.201 e R$ 4.400 mensais, 18% têm mais de R$ 4.401 mensais.

• 64% estavam estudando no momento em que responderam ao questionário. Destes, 4% estavam matriculados nos anos finais ou Educação de Jovens e Adultos (EJA); 29% no ensino médio regular; 2% no ensino médio EJA e 5% no médio técnico. 37% na graduação e 14% na pós-graduação.

• Os jovens respondentes são amplamente engajados com grupos ou instituições: 72% integram ou já integraram grupos religiosos, coletivos ou movimentos juvenis, organizações sociais, conselhos ou partidos políticos .

 

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