Fake News

Herdeira da Basf nega que abriu mão de herança de mais de R$ 21 bi

Estudante austríaca atribui erro a meios de comunicação espanhóis e italianos e afirma que herdará somente 10 bilhões de euros, menos da metade do que foi divulgado

Eu Estudante
postado em 01/09/2022 15:33 / atualizado em 01/09/2022 15:55
"Quando você é super-rico é porque nasceu assim, e geralmente é dinheiro sujo. Nenhuma fortuna é limpa", diz a herdeira da Basf, Marlene Engelhorn - (crédito: Heribert Corn)

A estudante de literatura austríaca Marlene Engelhorn, 30 anos, herdeira da empresa alemã Basf, que recentemente foi manchete em vários países por ter rejeitado uma herança bilionária, agora nega que jamais teve a intenção de abrir mão da fortuna, estimada em R$ 21 bilhões. Segundo ela, meios de comunicação da Espanha e da Itália foram responsáveis por espalhar a notícia falsa.

“Meios de comunicação espanhóis e italianos espalharam uma grande quantidade de declarações falsas nas últimas semanas”, disse à Folha de S.Paulo Lorena Sendic Silvera, diretora da ONG Tax Me Now (Taxe-me Agora), criada por Engelhorn no ano passado para lutar por impostos mais altos para grandes fortunas.

Manchetes como “Jovem rejeita herança de € 4 bilhões (R$ 21 bilhões). Por que?” ou “A herdeira que rejeitou € 4 bi: ‘Eu não quero ser rica'”, que rodaram o mundo no início de agosto, tem outra incorreção. Engelhorn diz que sua herança é um valor de dois dígitos de milhões de euros, ou seja, qualquer coisa entre € 10 milhões (R$ 52 milhões) e € 99 milhões (R$ 514 milhões).

Segundo Silvera, Engelhorn não pode dar entrevistas agora por conta de sua agenda ocupadíssima. Mas ela, enfim, falou com um jornal sobre o assunto, o diário espanhol Ara, que publica notícias principalmente em catalão.

“Vou herdar um valor de dois dígitos de milhões de euros e eu não vou recusar”, disse a jovem austríaca. “Eu gostaria de poder redistribuir pelo menos 90%, se possível por meio de taxas. Se não, encontrarei uma outra maneira.”

Ela explicou que quando viu aquelas manchetes com sue nome, não entendeu nada. Literalmente, pois não fala italiano nem espanhol. Leu tudo por meio do Google Tradutor e não entendeu de onde saiu a notícia com declarações falsas atribuídas a ela.

Marlene Engelhorn é descendente de Friedrich Engelhorn, alemão que em 1865 fundou a companhia química Basf (o nome significa Fábrica Badense de bicarbonato de Sódio e Anlilina). Hoje a fortuna está nas mãos da avó de Marlene, chamada Traudl Engelhorn. É Traudl que figura na 687ª posição da lista de mais ricos da Forbes, com os tais € 4,2 bilhões.

Após a morte de Traudl, o dinheiro será dividido por diversas pessoas da família, cabendo a Marlene os anunciados dois dígitos de milhões. Ela conta quando soube disso em uma reunião familiar. “Eu sabia que era rica, mas aí eu fiquei com raiva e não entendia por quê. Eu queria falar sobre o assunto e ao mesmo tempo queria esconder isso das pessoas. Eu não queria esse dinheiro, não me parecia justo.”

“Eu cresci numa enorme mansão”, diz ela, que se sentia como um cavalo com antolhos, aquele acessório que se coloca na cabeça de animal para limitar sua visão e forçá-lo a olhar apenas para a frente.

“Privilégios são exatamente assim; você não vê o quanto tem”. Buscando fugir dessa visão limitada, a moça resolveu estudar literatura alemã em uma universidade. Foi quando teve contato com pessoas fora de seu círculo e entendeu que a forma como oi criada, assim como o dinheiro de sua família, estava longe de ser normal.

Então, em fevereiro de 2021, ela se tornou ativista ao assinar uma carta aberta, ao lado de outros 60 milionários desconfortáveis, contra a baixa taxação de sua fortuna. No site do Tax Me Now, ela explica que na Alemanha, os 10% mais ricos possuem 62% dos ativos do país, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 3,4%. Já na Áustria, 1% da população possui 40% da riqueza.

“Quando você é super-rico é porque nasceu assim, e geralmente é dinheiro sujo. Nenhuma fortuna é limpa”, acredita ela. Engelhorn pode estar se referindo ao fato de a Basf, assim como a maioria das grandes empresas alemãs, ter se associado ao nazismo e se beneficiado com crimes contra a humanidade.

Após a Segunda Guerra (1939-1945), o conglomerado do qual a Basf fazia parte na época teve 13 executivos sentenciados a penas de 1 e 8 anos de prisão pelo tribunal de Nuremberg.

Ao final, Engelhorn admite que seria bom se fosse verdade sobre a herança de € 4 bilhões. Mas apenas porque, se assim fosse, ela poderia redistribuir muito mais riqueza.

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